Capítulo 2: Corações perdidos

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   É noite, e prendo-me ao espelho. No reflexo, vejo minhas próprias lágrimas caírem.
   Arbitrárias. Ásperas.
   Olhando-me outra vez. Percebo um fantasma ao meu lado. Ele nunca me abandonou, sempre esteve a sussurrar. 
   Armando toca meu ombro. O sangue escorre com gotas levemente suaves.
   Ele me olha no reflexo, E diz.
   - vamos, segure com força... Mais forte.
   Fecho minha mão de maneira agressiva.
   - vamos... Segure o pescoço dela...
   Posso esmurrar o espelho a qualquer momento. Não posso ver isso novamente.
   - mais forte... Isso... A mate.
   Respiro fundo. Não posso cometer os mesmos erros. Quantas vezes quebrei esse espelho?
Quantas vezes o concertei?
Armando sorri no reflexo.
   - isso monstro. Você a matou. Conseguiu, está pronto.
    Afasto-me do espelho. Preciso retomar minhas responsabilidades. Tenho trabalho a fazer.
Tenho um caso. Verei Aline hoje, por isso é um dia especial.
    Visto meu terno, com cautela. Devagar, ansioso. Em seguida, ponho o meu sobretudo. Ajeito meus cabelos com os dedos, retiro meu chapéu pralana do tripé onde jogo as camisetas de dormir. Volto ao espelho. Armando sumiu, só restou eu. Sussurro para a casa silenciosa.
    - hoje será diferente.
    Tiro o maço de cigarros de meu bolso. Já faz tanto tempo que eu não fumo. Meu velho vício.
Será que preciso disso? Sim, o mundo lá fora é podre. Ninguém é verdadeiramente bom. O cigarro me deixa alerta. Eu preciso ficar alerta. Por que voltei.
    ...
    15 de janeiro de 1946. A cidade se põe elétrica. Cada beco, cada porta. Reflete um mau subconsciente.
    Meus passos são cansados, mas ainda assim, estou acordado. Sinto os olhos curiosos ao meu redor. A fumaça rodopia em meus pulmões. E se dissolve pelo ar, e é traçada pelo mundo.
    Vejo rostos de relance. Percebo o mau apenas num primeiro olhar. Ninguém é confiável. As vulnerabilidades cintilam como uma estrela. Olhos bem abertos. Eu sou a equação da noite. A diferença sobre linhas iguais. Faz-me lembrar como eu era antes de tudo. Antes de me tornar um monstro. Recordações me levam para um passado distante. Resquícios.
    Acabo de passar pela esquina, a casa de Aline é no próximo quarteirão. Quantas vezes fui a sua casa? Quantas vezes ficamos juntos? Mas hoje, nada restou. Tudo se foi. Eu não posso trazer traços do antigo eu. Os mesmos erros sempre se repetirão.
    Lá está a casa. Contornos lunares a marcam com sombras noturnas. Uma luz acesa. Aline me espera. Um passo de cada vez. Um depois do outro. Eles me deixam de frente a porta.
Respiro fundo. Corto os sentimentos. Seja o bom detetive que você é. A frieza que lhe come todos os dias, servirá para algo novamente.
    Toc Toc Toc.
    Três batidas tímidas. Anônimas do outro lado.
    A porta se abre. Recebo o clarão de dentro. Ajeito meu terno na frente de Aline.
    - Boa noite, Aline. Bom, estou aqui.
    Ela sorri pelo cantinho da boca, e brinca.
    - é, eu percebi. Supostamente é você mesmo.
    Ela sorri ironicamente.
    - pode entrar.
    Adentrando a casa, retomo minha expressão séria. Aline, atrás de mim, diz que sua amiga está sentada no sofá. Vou até ela. Conheço cada parte dessa casa. Uma lembrança. Um quarto, uma janela. Felicidade. Aline sabe disso.  Há uma mulher sentada no sofá. Quieta. Ao meu aguardo. Ela pergunta quando me ver cruzar a porta.
    - então é você?
    Respondo.
    - sim, muito prazer. Sou Jacob Harrison, detetive e perito criminal.
    Aline observa do outro lado.
    A mulher bota as cartas na mesa logo de uma vez.
    - esta bom, sem rodeios. Acho que meu marido está me traindo, e preciso que você descubra se eu estou certa ou não.
    Só pode ser brincadeira, eu não acredito que esse é o caso.
    Olho para Aline, na outra sala.
    Ela faz uma expressão de “te disse que era um caso, não que ele era bom”. Seguido de um sorriso levemente irônico. Disfarçado.
    Volto meu olhar para a mulher.
    - então você quer que eu investigue seu marido? E descubra se ele tem um caso com alguém?
    Ela confirma com olhar, continuando. Ela reafirma.
    - Se possível, ainda hoje.
    - bom, pelo que percebo é um caso mais terrestre. O que me leva a crer, que algumas definições não se qualificam a esse caso. Então voltamos as três regras básicas. Preste atenção, três regras, simples, durante o caso, você não pode interferir, talvez depois que tiver a resposta. Segundo, a terreno, é mais caro. E por último, informações. Onde ele esta! Pra onde vai! E o que vai fazer!
    Ao ouvir as três regras básicas do caso, a mulher tira um papel e uma caneta de sua bolsa. Parece escrever algumas localizações.
    Volto meu olhar para Aline, ela sorri ironicamente. Novamente. Sussurro em forma de expressão muda. “Valeu!”.
    Ela faz sinal positivo com a mão.
    - está aqui, ele vai estar nesse lugar daqui a meia hora. É um bar. O nome do meu marido... o nome dele é Bill Johnson. Ele me disse que iria sair com uns amigos. Ele está vestindo uma camiseta listrada horrorosa.
Você vai o encontrar rapidamente. A localização está no canto amassado da folha, bem aí em baixo.
    Observo o papel, e confirmo com o olhar. Digo.
    - não saia da casa por enquanto que eu não voltar por aquela porta. Correto?
    Ela confirma outra vez com o olhar.
    Olhando para Aline, caminho até a porta principal.
    Tocando a maçaneta, retruco uma última vez antes de sair.
   Olho o relógio.
    - estarei por aqui por volta da meia noite.
    Passo pela porta.
    Frio. Desconecto. Um tanto vazio.
    Estou fora da casa.
    Alguns passos insípidos são cruzados. Novamente até a calçada. A lua brilha suave no céu, resplandecente. Desdobro o papel entregado pela mulher. Ela me leva até o centro. Um lugar particularmente conhecido.
    Eu o conheço, na verdade já ouvi falar. Mas não é como eu me lembro.
    Um local noturno. Vagamente frequentado.
    Um estabelecimento em North End. É para lá que me esvaio dentre as ruas complexas.
    Não é longe. Não o suficiente para me desanimar, menos ainda me parar.
    Minha caminhada pela cidade de pedra continua.
    Círculo pelas sombras.
    Olhares curiosos voltam a me rodear, vultos soturnos de noites rotineiras.
     Fantasmas do passado. Meu passado sombrio. Meu passado distante. Duradouro.
    Juntos a mim, me levam ao meu destino, ou melhor, me guiam ao meu destino.
    Estou de encontro com o bar. Na localização marcada no papel, a mulher se referia a um bar.
Mas não é o que eu vejo logo à frente. Do outro lado da rua, um motel.
    O motel se chama Flor de Lótus.
    Agora entendo. A mulher sábia onde procurar, só temia o que iria encontrar. Mas por que o homem daria a localização correta de onde estaria? Ele apenas modificou ‘’Motel’’ por ‘’Bar’’.
Talvez por algum vínculo de confiança outrora esquecido? As peças se encaixam aos poucos. O homem prevê a reação de sua mulher. Ele sabia que ela não viria. Então pouco importava se a
localização era verdadeira ou não. Ele precisava de algo para servir como bode expiatório. No caso, um lugar, e em seguida, um pretexto. O encontro de amigos.
    A mulher ainda confia no marido? Isso explicaria o motivo de mandar alguém confirmar suas
dúvidas, em vez de ela mesma.
   Preciso entrar agora mesmo. O que você esta fazendo ai dentro, Bill?
   Adentrando o motel Flor de Lótus, me encaminho ate a recepção.
    - boa noite, por favor, pode me esclarecer uma dúvida?
    Digo.
    A mulher na recepção me examina.
   Ela retruca friamente.
   - o que você quer? Um quarto?
   - Não, na verdade não. Bom, sendo sincero, preciso de uma informação.
   - sobre?
    Explico.
    - É que meu irmão saiu de casa há algumas horas, e junto dele, levou um documento de grande importância na carteira, no caso meu. Por isso estou desesperado, preciso encontrá-lo
imediatamente. Ele me disse que viria pra cá. O nome dele é Bill Johnson.
    - Bill Johnson?
    Ela pergunta curiosa.
    - sim.
    Respondo.
    Ela aponta para a porta dos fundos.
    - virando o corredor, ele está do outro lado, nos fundos. Melhor tomar cuidado, aquele lugar normalmente é usado para relações, se é que me entende.
    Mexo minha cabeça num sinal afirmativo.
    Caminho até a porta. É virando o corredor. Evidentemente, nos fundos.
    Acho que já sei o que irei encontrar.
    Um leve pressentimento pessoal. Talvez imperiosamente pessoal.
    Chego ao meu destino.
    Caminho em silêncio.
    Devagar.
    A porta está entreaberta.
    A poucos centímetros de mim. Paro levemente diante dela.
    Aproximo-me. Meu olho vai de encontro com a brecha da porta.
    E inconsequentemente, eu os vejo. Os dois corpos.
    Foi fácil. Até demais. Tenho a resposta do caso. A mesma descrição dada pela mulher. Bill Johnson.
    O homem está parado no cantinho obscuro da parede. De pé.
    Quietinho. Calado. Soltando leves gemidos silenciosos.
    Na frente do homem, há uma mulher, de joelhos. Ela vagarosamente, o chupa.
    Fico cabisbaixo. Primeiro passo concluído. Hora do próximo passo. Tenho um segredo que
guardo comigo desde o inicio. Não me entenda mal, preciso guardar essas coisas, pequenos
detalhes indefinidamente precisam ser ocultados.
    No bolso interno e escondido na parte de trás do sobretudo, guardo uma pequena máquina fotográfica.
    Modelo Hansa Canon ‘’1936’’.
    Registro algumas fotos. Vislumbrando o acontecimento novamente, respiro fundo.
   Caso concluído.
   Mistério resolvido.
   A partir daqui, tente me acompanhar, tá bom? E se acha que estou indo muito rápido, amiguinho, o buraco é bem mais embaixo.
    Saio do motel Flor de lótus.
    Vou embora.
    Assim como entrei, eu saio.
    Assim como fui de ida nas ruas, eu volto pelas mesmas.
    Linhas tênues me perseguem.
    O fugitivo.
    A volta sempre é mais rápida que a ida. E você tem que concordar comigo.
    Tudo foi rápido. Elétrico.
    E assim como prometi, por volta da meia noite, eu estou de volta.
    Lá está a mesma esquina.
    Cruzo a rua como uma divindade sombria.
    A mesma calçada.
    Como o vento, minha brisa rápida circula com passos estáveis.
    já à vejo. Transpiraste de luz. Reluzente. Exuberante.
    A casa.
    Vou ao seu encontro.
    De repente, abro a porta. Adentro a casa. Ando rapidamente até a sala. E vejo Aline e a outra
mulher no sofá.
    A mulher me parece nervosa. Esperado.
    Já Aline me parece diferente. Distante. Triste. Cabisbaixa. Aconteceu alguma coisa?
    - Então, o que viu?
    A mulher pergunta ainda mais nervosa.
    E assim como ela, também sem rodeios, deixo logo claro.
    Jogo as fotografias em cima das pernas dela.
    - seu marido estava num motel. Quando o encontrei, ele recebia um boquete de uma mulher.
    Ela olha as fotografias uma a uma. A respiração dela ofega. A mulher olha para mim, quase trêmula. Ela se levanta.
    E amassa as fotos. Raivosa. Intranquila.
    Ela retruca.
    - droga, meu deus do céu... Droga... Meu deus... MERDA, BILL... E a filha da puta da Darlene!
    Ela põe as mãos no cabelo. Ainda mais raivosa. Um tanto cabisbaixa.
    Eu retruco.
    - contando a ida e a volta, os riscos e as fotografias, dá um total de 300 mangos.
    Ela friamente, engolindo sua raiva e discordância emocional, retira da bolsa a quantia estabelecida.
    Depois de jogar em minhas mãos, caminha com a determinação de um trem a vapor.
    - pra onde você vai?
    Aline pergunta logo atrás.
    A mulher grita batendo a porta fortemente.
    - MATAR O FILHO DA PUTA E A VADIA!
   Com o estrondo da porta, Aline paralisa do susto.
    BAM.
    Aline continua parada.
    E eu também.
    E agora? É, não tem um “e agora?”. Preciso ir.
    Infelizmente, considerando meus casos outrora passados, talvez essa reação já fosse imaginável.
    Pois bem, obviamente. Um silêncio constrangedor toma a sala.
    Bom, acho que é minha deixa.
    - eu já vou indo, está tarde, até mais, Aline. Talvez precisamos dormir depois dessa.
    Passo por Aline. Mas algo me para. Quase perto da porta, noto algo em seu olhar. Aline mantém as mesmas expressões de agora pouco. Ela me parece atordoada. E um tanto triste.
    Pergunto curioso.
    - Aline. Aconteceu algo?
    Aline olha profundamente em meus olhos.
    - precisamos conversar.
    Ela retruca.
    Em seguida, Aline caminha até a mesa. Sombria.
    Vagarosamente, eu a sigo.
    Puxo a cadeira, e olhando em seus olhos, também me sento.
    É uma mesa relativamente pequena. Ponho meu chapéu pralana no chão, perto de minha cadeira.
    Estamos sentados agora. Um em cada lado da mesa. Opostos.
    Na frente um do outro.
    Ela se mantém sombria. Um tanto triste. Aquilo me intriga.
    De repente, ela assusta o silêncio mental de minha cabeça.
    - Olha Jacob, eu queria conversar com você sobre algo. E eu não queria falar sobre isso e sei que você não quer falar sobre isso também, mas... – Aline respira fundo, como se quisesse tirar algo do peito. Com bastante coragem, ela continua. – Bem, eu queria dizer que... Eu já te
perdoei pelos erros do passado. Todos cometemos falhas e precisamos aprender com elas.
    Imediatamente eu retruco.
    - não Aline... Agora não é o momento para isso...
    - sim Jacob, é o momento. Quero que saiba que estou disposta a apoiá-lo, e quero que você também entenda isso.
   Eu corto o contato visual. Olho para baixo.
    Aline continua.
    - eu quero estar ao seu lado, ser o apoio que você precisa. Eu sei que precisa.
    Droga, eu não posso deixar que isso aconteça, isso não pode acontecer. Preciso respirar fundo. Não posso misturar meus sentimentos. Não posso,
simplesmente não posso.
    Eu não quero me apaixonar. Não novamente. Nunca acaba bem. Mas Aline não para de falar.
    Essa voz. Essa maldita voz.
    Meu deus, eu estou me
apaixonando novamente.
    Sinto o peso sendo retirado de meus ombros. Eu não consigo expressar o quanto isso significa para mim. Durante tanto tempo, senti-me vazio e perdido, sem esperança de encontrar alguém
que pudesse me compreender.
    - Eu estou aqui, Jacob. Estou aqui por você.
    Oh, Aline. Você é a brisa delicada que acaricia minha alma,
libertando-me das correntes do
vazio que me atormentam.
    Em seu olhar, encontro a chave da cura, um refúgio seguro onde posso me encontrar. É como se as estrelas, em sua constelação de compreensão, guiassem meus passos em direção à paz interior.
    Mas não posso alimentar isso. Eu preciso tomar a decisão certa.
    - por favor Aline, podemos mudar de assunto?
    - não, não podemos! – Aline me corta pela primeira vez. – Me diga qual é o problema? Você sempre está se escondendo, sempre cabisbaixo com problemas que se recusa a me contar - Aline altera o tom de voz, despertando minha surpresa. – Você é egoísta, Jacob. Eu preciso saber, eu preciso saber o que está acontecendo, eu estou no meio disso tudo. Eu estou com você, mesmo com todos os seus transtornos e problemas. Eu aguentei todos os seus surtos, achou que eu iria esquecer das vezes que você socava as paredes quando se descontrolava? Eu fiz tudo isso pra você nem se quer confiar em mim? – Ela solta tudo sem nem pensar como eu reagiria. – Você simplesmente se trancou junto com os seus sentimentos fodidos e não deixa ninguém chegar perto para te ajudar, eu estou cansada disso tudo. Eu estou cansada de fazer perguntas e ser ignorada sempre, porque eu queria respeitar o seu espaço. Mas esse espaço precisa acabar agora.
    Respiro fundo. Mantenho meu silêncio.
    - Vai se calar de novo? Você não cansa disso? Olha todas as coisas que eu fiz por você, por nós. Eu sempre tentei me aproximar de você, eu fiz tudo que pude. E a única coisa que eu peço é que você se abra pra mim, com sinceridade. Será que pelo menos isso você é capaz de fazer?
    Ela me olha seriamente.
    Aline continua.
    - Acabou Jacob, acabou tudo entre nós, você não confia em mim, não se abre, não demonstra sentimentos, você parece uma pedra fria que não demonstra emoção alguma. Eu não posso ser amiga de alguém assim. Eu gostava tanto de você, eu te amava tanto... – uma lágrima fria e solitária desliza sobre o rosto de Aline. – Eu realmente te amava, mas você me afastou. Como sempre faz.
   Estou ofegante. Respiro fundo outra vez. Em seguida, me ponho cabisbaixo novamente, sombrio.
    Aline não nota a um primeiro olhar, mas, eu estou chorando. Aline nunca me viu chorar. Meu deus do céu, o que está acontecendo comigo?
    Percebendo que estou chorando, em um ato de impulso, Aline pega minha mão. Aquilo me dá um pequeno susto. Ela segura forte.
    Naquele momento, a única coisa que quebrava o silêncio sombrio daquela sala, eram nossas respirações ofegantes.
    Mas também quebro esse mesmo silêncio tenso.
    Retruco cabisbaixo. Vazio.
    Aline me escuta com atenção.
    - essa vida... Que eu levo – tenho uma tosse retraída. – fez de mim muitas coisas. Trabalhar na minha profissão me fez perder muitas coisas importantes, inclusive eu mesmo. Se você pudesse entender as coisas horríveis que eu já fiz, nunca me perdoaria. Nem se quer me reconheceria. Mas é o que eu sou, não há para onde fugir. Eu sou um monstro. E é o preço que eu pago por as coisas que fiz.
    Aline ainda segura minha mão fortemente. Continuo.
    - preciso continuar, eu não posso parar. Me desculpe por todo o mal que causei a você. Você não merecia. – sinto um enorme vazio no peito, por ainda amá-la, mas protegê-la de mim mesmo – Aline... Eu... Eu... Preciso continuar, sei que não sou bom no que faço, mas eu preciso fazer alguma coisa...
    Aline agarra minha mão ainda mais forte.
    Ela retruca. Nunca me esqueci daquelas palavras.

   - Jacob, você é ótimo – Aline diz em um tom fraco

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   - Jacob, você é ótimo – Aline diz em um tom fraco. Talvez ela só queria que aquilo acabasse. – eu estou com você, eu estou do seu lado... Eu ainda estou com você.
    Sem que eu tomasse conta, percebo que nós dois começávamos a nós aproximar. Os lábios dela estavam chamando os meus. Sem que eu quisesse, meu coração levemente assumia o controle. Sem querer, seguro o rosto de Aline. Nossos lábios naturalmente ficam entre abertos à espera de um beijo.
    Ao sentir seus lábios se encostarem com os meus, de repente, Aline me empurra e se afasta rapidamente.
    Ela está chorando. Sussurra cabisbaixa novamente.
    - Vai embora, por favor.
    Eu a observo.
    Ela altera a voz novamente.
    - Por favor, vá embora, vá embora, por favor!
    Ela quase grita.
    Me levanto, devolvo meu chapéu a cabeça e sem olhar para trás, vou em direção a porta. O coração quase não cabia no peito.  
    Abro a porta.
    Passo por ela de maneira torturante.
    E vagarosamente, eu a fecho.
    Aquela batida forte foi o único som que escutei claramente na noite.
    Minha audição fica muda. Mas aquilo não importava mais. De maneira ainda mais torturante, eu me afasto da casa.
    Volto até a calçada. Chegando lá, prendo minhas lágrimas. Preciso ser forte.
    Olhando para a lua, acendo outro cigarro. Trago fortemente. Algo cintila dentro de mim.
    Respiro. O ar quente sai de minha boca.
    Outra tragada.
    Mancho a lua com fumaça.
    E volto a caminhar. Um passo de cada vez. Um depois do outro.
    Vazio. Sombrio. Cabisbaixo.
    Não posso olhar para trás. Não posso. Não mais.
    Talvez eu tenha outro lugar para ir.
    Talvez.
    Só talvez.

Jacob Harrison - O beijo da morte (2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora