Uma semana já havia se passado. De dia, as mesmas coisas aconteciam igual a como sempre foi, tirando o fato de que agora ele tinha uma companhia indesejada que seguia ele por todos os lados, e não importava o quanto ele ignorando o ruivo, o garoto sempre o seguia e ficava ao seu redor. E de noite, o gato. Aquele bendito gato. Sempre voltava e ficava o encarando desde o momento em que ele entrava no quarto, até o dia amanhecer, e parecia que a cada dia o animal se aproximava mais da casa.
O garoto de cabelos negros tinha acabado de sair do banho quando sua mãe o abordou no topo das escadas.
- Alan, tem correspondência pra você meu amor. - Alan olhou pra mulher de cabelos loiros escuros que trazia consigo um envelope vermelho, lacrado com cera negra. - Você não entrou em nenhum culto sem meu consentimento não né? - Ela falou com um tom divertido, mas tinha certa dúvida genuína acompanhando a pergunta.
- Não mãe. - O garoto pegou o envelope de sua mãe, e no mesmo não havia nada, só o seu nome em negrito no canto inferior direito. - Tem certeza que não foi entregue na casa errada?
- Não existe outro Alan na vizinhança meu amor, então duvido muito. Eu nem abri porque é correspondência sua, e sei o quanto você odeia que mexam nas suas coisas. - Ele ainda estava muito desconfiado do envelope que tinha em mãos, mas o manteve consigo, com o intuito de abri-la mais tarde. - Ah, e eu, sua irmã e seu pai vamos ao shopping. Como eu sei que você não vai, vai querer que eu compre algo pra você? Ou só o de sempre?
- Só o de sempre.
- Dois hambúrgueres, um de frango e o outro de bacon com barbecue, junto de uma batata grande com queijo e milk-shake de morango se não tiver de maracujá. Certo? - O garoto sempre se maravilhava com a precisão e a atenção que a sua mãe tinha perante seus gostos e preferências. E até se surpreendia quando a mesma o apoiava em suas coisas estranhas e medonhas.
- Certa como sempre senhorita Gália. - A mulher sorriu e se virou para o corredor.
- ALANA VAMOS GAROTA, ACELERA! - A mulher gritou para sua irmã, que saiu apressada do seu quarto, dando saltos para conseguir colocar direito o seu tênis, enquanto segurava a blusa nas mãos e a bolsa na boca.
- Calma. - Disse a garota com os mesmos cabelos loiros escuros de sua mãe, e olhos negros iguais aos seus. - Não pode mais nem se arrumar em paz, isso é uma decadência, uma falta de consideração. - Falou a garota agora completamente arrumada.
- Você sabe como seu pai é chato com essa merda de horário. Alan, a gente volta lá pras 22, tudo bem pra você?
- Claro. Tem um bom passeio.
- Um dia eu te tiro dessa casa viu viado, UM DIA EU TE TIRO DAQUI! - Gritou sua irmã da base das escadas, e o rapaz deu um leve sorriso enquanto sua mãe descia rindo.
Elas poderiam ser aquilo ele mais odeia, "amantes do sol", mas não podia negar que elas eram bruxas maquiavélicas que impediam ele de ser recluso e fechado. Ele até que sentia amado, mas não precisava disso. Pelo menos ele achava isso.
Já em seu quarto o garoto vestiu uma blusa de manga comprida cinza e uma calça moletom preta. Se jogou na cama e retornou a sua atenção aquele bendito envelope vermelho. A sua curiosidade tomava total controle sobre a sua razão, e por intuito, pegou e abriu para se deparar com uma carta cor de sangue e letras negras, e junto um outro papel com uma espécie de alfabeto, que traduzia aquelas runas que ele vira antes no livro da biblioteca que havia roubado.
Na carta só tinha escrito " Página 256 terceiro ritual. Faça. ".
- Mas que? Só isso?
Ele se levantou e pegou o livro que tinha escondido dentro de um fundo falso no guarda-roupas, e abriu na página que lhe foi ordenado. Na página haviam três espécies de círculos com símbolos e formas diferentes, mas colocou todo seu foco naquele terceiro. Ele era o mais simples da página e começou a traduzir o que estava escrito.
Após um tempo traduzindo aquele ritual inteiro ele obteve:RITUAL DA VISÃO VERDADEIRA
Para realizar o ritual, desenhe o círculo ritualistico com qualquer material que possa desenhar.
Após coloque um colar no centro do círculo e recite a seguinte frase: Benedicat me potentia paranormalis fabulae videre ultra vera.- É serio isso? Hahaha. Isso é inacreditável, sério? Mas um desses livros chechelentos e fajutos que dizem ter rituais e coisas paranormais? Quanta bobagem. - O garoto se sente de certa forma frustrado por ser esse o conteúdo do livro, mas ele se sente cada vez mais observado e não sabe dizer o motivo. - ...bom, não custa tentar né?
E assim foi feito. Alan levantou, pegou um giz de lousa e desenhou no chão todo aquele símbolo. Foi ao quarto de sua irmã e pegou um de seus colares de artesanato da sua fase de garota good vibes, e o pos no centro do símbolo.
- Não acredito que estou fazendo isso... Benedicat me potentia paranormalis fabulae videre ultra vera.
Após recitar as palavras... nada aconteceu. Pelo menos foi que ele achou nos primeiros segundos, pois logo após um tempo, tudo pareceu parar, as luzes começaram a piscar de uma forma extremamente anormal, o círculo que antes era branco de giz, assumiu uma coloração azul e um brilho de mesma cor, as coisas mais leves do quarto começaram a circular pelo quarto junto de um vento totalmente paranormal dentro do quarto. No centro desse caos o colar estava se levantando enquanto uma chama se erguia e envolvia o objeto, que começava a alterar a sua forma e suas cores. O cordão se tornou dourado e na ponta onde estava o quartzo rosa, surgiu uma espécie de olho dourado onde a íris era o quartzo rosa. E em uma lufada de vento mais forte, tudo se acalmou e o colar caiu ao chão.
O garoto estava completamente assustado, ele nunca imaginaria que o paranormal poderia ser real, e isso foi totalmente inesperado, chocante e muito emocionante. Ele possuía uma junção de emoções, medo, curiosidade e animação. Ele estava enlouquecendo.
- Mas que porra foi essa? Que merda que acabou de acontecer? E que merda é essa? - Ele começa a se dirigir em direção ao colar modificado, o pegando. - Isso insano e foda pra caralho, mas o que isso faz? Será que eu... E se eu...
Sem pensar duas vezes, ele colocou o colar e no mesmo momento a pedra emitiu um brilho que se espalho por todo o quarto e desapareceu. Ele estava confuso, já que, nada aconteceu até o momento em que se virou e...
-Aaaaaaa. Puta merda! Puta que pariu! Vai se foder caralho! Arrombado! Desgraçado! Que merda se tá fazendo aqui!? Como você subiu aqui!? - Ao se virar, aquele mesmo gato que o observou durante a semana inteira estava sentado na janela olhando pra ele com aqueles olhos âmbar.
- Calma garoto, parece que viu um fantasma, e respondendo suas perguntas. 1, eu vim aqui pra te ajudar a entender o que você tem nas suas mãos, já que você roubou uma das relíquias das bruxas. E isso é impressionante. E 2, eu sou um gato, escalar é a coisa mais fácil que fazemos.
Alan estava em completo choque, ele estava ali. Vendo. Na sua frente. Um gato. FALAR.
- MAS QUE PORRA É ESSA? VOCÊ TA FALANDO? COMO ESSA MERDA É POSSÍVEL? VOCÊ É A PORRA DE UM GATO!
- Ei, ei, ei, mais respeito, e sim, eu estou falando, e isso é possível por causa do seu colar, ou melhor dizendo, do seu amuleto. Mas, para não causar mais inconvenientes vamos conversar de igual para igual. - O bichano pulo na cama e logo em seguida para o chão, onde não num flash rápido, se transformou em um humano. Um homem de 1,80 de altura, dois centímetros mais alto que o Alan, cabelos negros que remetiam a sua pelagem animal, pele morena e olhos âmbares, olhos de gato. - E agora está melhor?
O choque era nítido, nem uma palavra saia da boca do garoto, ele não conseguia falar, ele não conseguia raciocinar o que estava acontecendo ali, ele só tinha uma coisa em mente. As coisas nunca mais seriam as mesmas dali em diante.
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As Cores da Escuridão
Paranormal" Nos tempos mais sombrios, nas profundezas mais escuras, na escuridão do vasto universo, na ausência de luz, no vazio da sua alma... existe cor. "