Eu não sei voar - Romance Gay

Dois

-O que foi que aconteceu, meu menino? – perguntou a Rosa, quando estávamos sentados a mesa, para almoçar.

A cena sempre era a mesma; uma mesa gigantesca com apenas dois lugares ocupados. O meu e o da Rosa. Meu pai raramente estava em casa nesses momentos. Na realidade, ele raramente estava em casa. O escritório dele era seu próprio lar.

-A professora Ana... – respondi depois de alguns segundos, largando a colher de lado.

-O que foi que aquela magricela fez? – eu ri um pouco. A Rosa sempre me fazia rir. Ela sempre me deixava verdadeiramente bem.

-Veio com aquela história mais uma vez.

-Aquela historia de que você é o menino mais lindo do mundo?

-Não, Rosa!

[Silencio]

-Meu menino, você sabe que eu te amo mais que tudo... Mas infelizmente eu vou ter que concordar com aquela magrela... Você tem que se aproximar mais das pessoas, fazer amigos. Você já tem onze anos e nenhum amigo. Meu menino, a amizade é uma das coisas mais valiosas desse mundo, dê uma chance a si mesmo. Eu sei que muitos naquele lugar são perfeitos idiotas, mas deve ter alguém diferente, alguém especial e que realmente vale a pena se aproximar.

Eu queria contar toda a verdade a Rosa, mas eu tinha onze anos, e tinha medo de que a única pessoal que me amava de verdade deixasse de gostar de mim. Eu não podia arriscar. E não arrisquei.

-Mas eu já tentei varias vezes... Eles não me deixam se aproximar deles.

-Mas porque? Meu deus!

-Eu não sei... – eu me odiava por ter que mentir para a Rosa, mas era a única saída - Mas eu prometo por todos os seus legumes que vou tentar mais uma vez, certo? E digo mais, no meu próximo aniversário esta casa estará cheia de crianças correndo por todos os lados e quebrando tudo.

-Se isso acontecer, a única certeza que eu tenho é que os pais de cada uma delas vão pagar por cada dano causado.

-Eu te amo, Rosa – a Rosa levantou-se da mesa, colocou as mãos na cintura, fez biquinho e veio até mim numa espécie de desfile. Aquilo só poderia acabar em uma coisa; uma chuva de beijos. E eu, sinceramente, estava precisando.