Capítulo 3

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Os primeiros raios de sol da manhã chegaram aos meus olhos através do pequeno rasgo da cortina azul da sala

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Os primeiros raios de sol da manhã chegaram aos meus olhos através do pequeno rasgo da cortina azul da sala. Olho para a tela do celular e vejo que ainda faltam vinte minutos para o horário do despertador. Me levanto do sofá e vou até o banheiro. Tomo um bom banho para tentar aliviar os músculos tensos e doloridos. Lavo o que restou dos meus cabelos, enrolo-os com uma toalha e visto um pijama velho de flanela.

Vou até a cozinha e faço o café e encho minha garrafa térmica. Coloco um pouco em minha caneca e a levo até os lábios, o cheiro faz cócegas no meu nariz. O sabor da cafeína atinge a minha boca, dissipando o sono. Caminho até a pequena sacada, pegando um maço de cigarros no caminho. Pego um e o acendo, ele instantaneamente me faz relaxar, causando alívio em meu corpo. Ao terminar, visto meu uniforme, pego minha garrafa e saio de casa.

O aroma da manhã me agrada, talvez seja por isso que, em vez de ir de ônibus para o trabalho, eu prefiro caminhar todos os dias. Assim que adentro o mercado, Lily corre em minha direção e me dá um abraço longo e apertado. Acho que o toque dela é o único que me causa conforto e não repulsa.

- Como eu estava com saudades de você. - Ela diz animada.

- Lily, nós nos vimos ontem. - Digo preguiçosamente, piscando para ela.

Lily pega minha mão e me puxa para a cantina dos funcionários. Sentamos em uma mesa e sirvo um pouco do meu café em dois copos, empurrando um deles na direção de Lily. Ela tagarela animadamente e acabo me perdendo em meus pensamentos, mas escuto algumas partes. Parece que ela está animada com algo da faculdade.

Suspiro pesadamente, me lembrando de quando fui aprovada. Recebi uma bolsa integral em Direito para a Universidade de Cambridge, e minha mãe ficou tão feliz que me deu um carro. Nas primeiras semanas de aula, conheci Gabe, que era tão diferente do que é hoje. Seis meses depois, minha mãe morreu e, poucos dias depois, Gabe se mudou para o nosso apartamento. O carro que ela me deu foi vendido por ele. E o lugar que antes era meu lar se tornou meu pesadelo.

Eu não amo mais o Gabe. Na verdade, acho que o amei até o momento em que ele exigiu que eu abandonasse a faculdade. Mas, por algum motivo, continuei com ele, e ele tomou tudo o que pertencia a mim, o carro, a casa e todos os meus sonhos.

Ouço o leve soar da campainha que marca o início do meu turno. Me despeço de Lily e vou até o meu caixa. Costumo fazer todas as horas extras disponíveis, tentando me manter o máximo possível afastada de Gabe. O dia flui com tranquilidade, clientes entrando e saindo. Meu trabalho, em geral, é calmo e monótono.

Eram por volta das nove da noite quando um cliente se aproximou do meu caixa. Lhe ofereci um sorriso cansado e passei as suas compras. Quando terminei de embalar, o dinheiro estava sobre o balcão. Foi nesse instante que olhei nos olhos dele, e eles eram diferentes de tudo o que já vi. Me desconcentrei ao ponto de derrubar as moedas do troco no chão.

- Merda. - disse, abaixando-me rapidamente para pegar as moedas que rolaram. Quando a alcanço a última moeda, que estava próxima aos sapatos dele, o vejo ajoelhado e nossas mãos se encontram, fazendo nossos dedos se roçarem levemente. Imagens inundam minha visão, salões luxuosos, um céu com tons de carmesim, uma biblioteca que claramente não pertence a esse mundo, um homem com roupas antigas e chifres. Separo nossas mãos com rapidez e a seguro próxima ao peito, ainda em choque.

Ele me olha confuso, piscando diversas vezes, pega a sacola de compras e sai a passos largos do mercado. Fico parada por um momento, ainda em choque. O que acabou de acontecer?

Cerca de uma hora depois, saio do meu caixa e caminho em direção ao banheiro e para meu absoluto terror, ele está parado do lado de fora, fumando um cigarro e olhando diretamente para mim.

Não sei exatamente por quanto tempo ele esteve ali me observando. Quando finalizei meu turno, olhei novamente para fora, mas agora ele já não está mais lá. Apenas o ar frio da noite e o som distante dos carros preenchem o espaço onde ele estava.

As imagens que eu vi. Como isso pode ser possível? Uma alucinação? Um devaneio causado pelo estresse? Parecia que eu estava vendo pelos olhos de outra pessoa e aquele mundo claramente não era o nosso. Eu não entendia o que aquilo tinha sido e estava em pânico com isso.

Caminhei para casa, meus pensamentos iam e vinham, retornando ao que eu havia visto, conforme eu avançava no caminho a agonia em meu peito crescia e eu sabia que o homem misterioso não era o motivo. A situação estava insustentável, eu não sabia por quanto tempo aguentaria. Gabe ficava a cada dia mais agressivo e eu tinha medo.

Lágrimas começaram a rolar, eu me apoiei em uma parede próxima. Entrei em um beco e me encolhi no chão. Meu coração batia forte no peito. O ar está impregnado com o aroma de lixo e desespero, uma mistura sufocante que preenche meus pulmões a cada respiração entrecortada. As paredes parecem se fechar sobre mim, como se o próprio beco estivesse tentando me esmagar.

Luto para controlar minha respiração, mas o ar parece escapar dos meus pulmões mais rápido do que consigo inspirar. Minhas mãos tremem incontrolavelmente, as lágrimas turvam minha visão e nessa noite, onde meu pranto me sufocou, a escuridão me abraçou e acalentou, como se fosse viva.

Quando fui capaz de me levantar, segui para minha casa. Gabe não me bateu naquela noite e eu dormi de uma forma que não ocorria há anos.

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⏰ Última atualização: May 15 ⏰

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