1 - O impossível (possível)

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Minha mãe estava mais ansiosa para a festa do que eu.

O apartamento do campus era espaçoso: a sala de estar, de jantar e a cozinha eram em conceito aberto. Ao entrarmos, a sala de estar ficava a nossa frente, enquanto a cozinha a nossa direita. A sala de jantar ficava ao lado da de estar e na única parede para a direita um corredor se esticava para os quartos e banheiros. Tínhamos sorte de estar em um faculdade incrível, porque os prédios dos estudantes eram chiques e limpos, e a academia, as quadras e os campos eram disponibilizados para usarmos sempre que quiséssemos.

E todos os alunos que moravam ali tinham o direito de fazer festas, contanto que elas não passassem da meia-noite.

Quase todos os meus familiares estavam presentes. Meus amigos próximos: Lidie, minha melhor amiga e colega de apartamento, e Lian, meu amigo de infância que trabalhava comigo no restaurante da minha mãe, eram os únicos que compareceram à festa e que não eram da minha família.

Eu tinha certa dificuldade para criar novos laços de amizade. Sempre fui muito carinhosa e respeitosa com todos que falavam comigo na faculdade, mas, mesmo no segundo ano, eu só tinha Lidie como companheira. E, ainda por cima, um grupo que a faculdade chamava de "Quarteto Cereja", no qual era composto de quatro meninas que amavam odiar as pessoas e fofocas sobre elas, não gostava muito de mim, então além de eu precisar aturar com a minha leve solidão na sala, porque Lidie fazia arquitetura, também precisava ignorar aquelas garotas que não chegaram a amadurecer quando entraram na universidade para cursar medicina.

—Vai uma bebida?— Lidie apareceu com um sorriso radiante e estendeu o copo para mim.

—Não, mas obrigada— olhei os convidados conversando, rindo, bebendo e comendo os petiscos de aniversário organizados e enfileirados na mesa de jantar.

—Você sempre recusa— ela riu e se apoiou no balcão da cozinha ao lado de onde eu também estava apoiada. —Se Feyre existisse, ela nunca recusaria.

—Se Cassian existisse, talvez eu não recusaria— olhei para a minha amiga, que passou a mão pelo seu cabelo loiro.

—Se Azriel existisse, eu não recusaria nada que pedisse— ela falou e eu ri.

Depois que parei, respirei fundo.

—Imagina se eles existissem?— perguntei.

—Seria incrível— Lidie abriu um sorriso arteiro. —O quarteto cereja ia ficar com tanta inveja.

—Acho que teríamos que cobrir o apartamento inteiro com sal grosso— falei. —A inveja seria tão grande que duvido que ainda teríamos teto.

Nós duas rimos, porque aquela era a mais pura verdade.

Lian se aproximou e me abraçou de lado.

—Sobre o que estão falando?— perguntou.

—Sobre nossos bat boys— Lidie disse, com um sorriso. —Você ficaria com Rhysand, não é?

—Já te falei que não li os livros, então não sei de quem estão comentando— Lian balançou a cabeça, sem paciência para aquelas zoeiras dos illyrianos com ele, e eu ri.

—Imagina se arranjamos homens parecidos com eles?— pensei.

—Que o destino te escute— Lidie disse e sorriu, colocando o copo no balcão atrás de si. —Enquanto eles não estão aqui, vamos aproveitar a sua festa e dançar!— minha amiga segurou nossas mãos e nos puxou para o meio da sala.

Lian se recusou a ir, mas deixei que Lidie me levasse. Era meu aniversário e eu precisava aproveitar.

Mais um ano completo, e agora eu estava com vinte anos.

—Vim dançar com vocês!— minha mãe chegou e Lidie comemorou, girando-a ao som da música animada.

As duas tinham personalidades muito parecidas. Eram sempre alegres, espertas e sentimentais. E eu as amava mais do que tudo, porque elas me traziam a felicidade e o amor que todo ser humano deveria receber.

ˏˋ°•*⁀➷

A noite ficou silenciosa quando todos os convidados foram embora. Despedi-me de Lidie e entrei no meu quarto. Tomei um banho, coloquei meu pijama confortável, conferi se todo o material estava separado para o dia seguinte e finalmente sentei-me na cama, para observar pela janela a cidade iluminada que seguia até o horizonte.

Olhei o céu estrelado e fechei os olhos, sentindo a leve brisa gelada. Meu dia tinha se encerrado e mais um aniversário foi comemorado com sucesso. Ganhei presentes e me diverti com as pessoas que amava, então aquele último momento sozinha era o que eu precisava.

Com os olhos ainda fechados, imaginei Cassian, Azriel, Rhysand, Morrigan e Feyre. Lembrei das cenas dos livros que eu li e como aquela série tinha virado meu segundo lar.

Eu só gostaria de poder lê-la de novo como se fosse a primeira vez.

—Eu queria tanto que vocês estivessem aqui— sussurrei, e recebi uma brisa gelada na pele como resposta. —Se pelo menos vocês fossem meus amigos... acho que estaria realizada.

Abri os olhos e um aperto no coração surgiu. Eu sabia que aquilo era impossível de acontecer. Nem em qualquer oração ou pedido aquilo se realizaria, até porque eram apenas personagens escritos em papel.

Virei-me para a minha estante retangular, e encarei os livros que brilhavam levemente com o luar.

—Nunca irei esquecê-los.

Deitei sobre os lençóis e arrumei o travesseiro embaixo da minha cabeça. Meu corpo relaxou e meus olhos ficaram pesados.

Antes da minha visão escurecer por completo, a última pessoa que surgiu na minha mente foi Cassian.

Um dos guerreiros mais temidos de Prythian.

Meu amor literário.

ˏˋ°•*⁀➷

Meus olhos se abriram ao escutar muitas conversas do lado de fora do meu quarto. Eu estranhei, ainda lenta de sono, e estiquei para pegar o relógio da minha mesa de cabeceira.

05:12 A.M.

Eu despertei, porque meu estômago começou a se revirar de nervosismo. Lidie detestava acordar antes das 06:00, o que significava...

Andei até a porta do quarto com o coração na boca, e meus passos congelaram quando escutei um nome:

—Tem certeza que suas sombras sumiram, Az?

Senti meu mundo desfocar e focar mais uma vez. Eu comecei a tremer, e corri até a porta. A abri como um relâmpago e andei descalça no chão de mármore até a sala.

Meus olhos se arregalaram. E meu coração estava prestes a parar.

Três homens e duas mulheres estavam de pé no meu apartamento: confusos, curiosos e preocupados. Seus olhos pararam em mim, e suas mãos foram rapidamente para as armas embainhadas nos cintos.

—Você só pode estar brincando— minha voz falhou.

𝐎𝐧𝐞 𝐘𝐞𝐚𝐫 || CassianOnde histórias criam vida. Descubra agora