1] Inferno.

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TOMIE POV


Nasci e vivi minha vida toda em uma pacata vila no Sul da Geórgia. Apesar do que parece, nem tudo eram flores.. Mulheres consideradas bruxas eram acusadas de falsear o controle divino, manipulando ervas e curando doenças, pois ninguém poderia mudar o curso divino das coisas se não fosse Deus. Juntamente com essa acusação, as bruxas eram acusadas de fazerem pactos demoníacos e realizarem coisas sobrenaturais, como voar pelos ares. Diziam também que as bruxas também seriam amantes ardorosas de demônios - o que serviu de desculpa para perseguir pessoas de hábitos sexuais considerados desviantes, em especial o homossexualidade, tanto masculina quanto feminina, ou mesmo o crime de adotar posições diferentes do "papai e mamãe".
Se você nasce ruiva, era considerada bruxa por ter cabelos de fogo. Se era um pouco mais esperta que os outros, queimar ia na fogueira. Se cultiva o seu amor por alguém do mesmo gênero... Era condenado à queimar no fogo do inferno. As vezes me pego pensando...

Será que não já estamos no maldito inferno?




5 de abril de 1666

Acordo com a luz do sol invadindo o quarto e batendo de frente com meu rosto. Coço os olhos e me levanto, estava vestindo uma camisola simples e os cabelos soltos e bagunçados.
Coloco uma saia de cor vermelha e uma blusa branca, calço minhas sandálias de couro e desembaraço as ondas de meu cabelo, prendendo metade para cima. Arrumo minha cama e deixo meu quarto.
Meu pai já estava de pé, tomado café e quando me vê, abre um sorriso largo.

- Bom dia, filha. - fala dando um gole generoso no café.

- Bom dia papai, por que não me acordou mais cedo para ajudar? - pergunto já vendo a casa totalmente arrumada.

- Tava dormindo feito um anjo, não quis atrapalhar seus sonhos. - fala me oferecendo alguns bolinhos.

- Obrigada, prometo acordar mais cedo amanhã. - falo me juntando a ele para o café.

Depois de tomar café, vou até o poço e busco um pouco d'agua e lavo a louça suja. Papai vai para igreja e fico encarregada de comprar os legumes e fazer sua sopa favorita.
Tomo um banho e coloco uma saia longa de cor azul e uma blusa branca. Pego uma cesta e saio em direção à feira, estava cheia como quase todos os dias.

- Bom dia Tomie - a senhorinha de trás de uma das barracas me cumprimenta e a respondo com um sorriso simpático.

Compro tomates, cebolas, uma abóbora e varios outros legumes para ficarem de reserva. Poucas pessoas eram realmente simpáticas comigo, algumas me olhavam com desprezo e nunca entendi do por que. Minha aparência? Minhas roupas? Mas sou tão comum quanto todas.
Ou talvez por que sou filha do padre da vila, fruto de uma relação proibida. Me faltam dizer que minha mãe foi a mula sem cabeça, não me surpreenderia. Meu pai diz que tenho os mesmo olhos angelicais que ela, outros dizem que veem o diabo neles.

- Saia daqui! Bruxa! - ouço uma mulher gritar para uma garota que não aparentava ser mais velha que eu. Seus cabelos são negros médios e cacheados, olhos tão pretos quanto seus cabelos, usava uma calça e uma blusa, diferentemente das outras mulheres daqui. Era Dianna, a acusavam de bruxaria por que era minimamente mais inteligente que os demais, e sempre recusava seus pretendentes.

- Deixe-a em paz, Kyana. - falo me aproximando e atraindo o olhar de ambas, principalmente o de Dianna.

- Não se meta. - fala apontando seu indicador para mim - Não é por que é do padre Gabriel que pode achar que tem alguma autoridade aqui!

- Se apontar essa merda de dedo imundo para mim de novo, irá se arrepender - falo e Dianna não tirava a porra do olhar de mim.

- Hora, sua..! - ela tenta ir para cima de mim, mas é impedida com a voz um tanto quanto sombria de Dianna no mesmo segundo.

- Se tocar um dedo nela, irei amaldiçoa-la e arrastar sua maldita alma para o inferno. - até eu me assustei com suas palavras, a mulher mais parecia uma estátua com uma feição assustada.
Kyana sai, indo diretamente para a igreja, Dianna solta uma risada.

- Vamos? - fala com um sorriso no rosto, estendendo sua mão para mim.
A pego e vamos em direção à floresta, deixo minha cesta encostada à uma árvore e empurro Dianna, começando a correr. Ela corre logo atrás de mim, a velocidade me faz tropeçar em meus próprios pés mas retomo a concentração na floresta, ela é bem mais rápida que eu e não demorou para que me puxasse por trás e caímos na grama.

- Valeu por tentar me defender - sussurra ao meu ouvido, fazendo arrepiar cada canto de meu corpo. Tomo seus lábios para mim em um beijo intenso e cheio de desejo, sua língua explorava cada canto de minha boca enquanto sua mão pousava em meu pescoço. Meus pulmões imploravam por ar, o beijo se encerra e ela deposita alguns desde minha bochecha até meu pescoço. Sua mão desce em minha coxa e seu beijos fazem o mesmo, em meus seios.

- Dianna.. - ofego quando ela enterra suas unhas em minha pele - estamos no meio da floresta..

- E daí? - seus olhos encontram os meus.

- Podem nos ver..

- Se pudesse, te foderia no meio daquela praça para que todos vejam a quem realmente pertence.

- Por Deus, Dianna! - dou um tapa em seu ombro e ela se levanta, estendendo a mão para mim.
A pego e me levanto, limpando a minha saia suja de terra. Dianna me rouba mais um beijo, que dura aguns segundos e depois se afasta aos poucos.

- Até mais - um sorriso cínico estava estampado em seu rosto. Ela fica para trás, observando enquanto sumo de volta para a vila. Me agacho e pego minha cesta, indo em direção à minha casa.

É eu sei, era loucura o que estávamos fazendo e isso poderia nos levar a morte, mas não pude evitar me apaixonar por ela.

DIANNA POV

Assim que Tomie some de minha vista, começo a andar pela floresta, na qual conhecia como a palma de minha mão. Havia uma cabana um pouco mais distanciada, era lá onde morava. Era considerada bruxa pela maior parte das pessoas da vila, o que me fez odiar cada pessoa daquela maldita vila, menos Tomie, eu amava mais que tudo.
A conheci a alguns anos atrás, ela estava sozinha e machucada na floresta.

....

- Oi? Pode me ouvir? - pergunto tentando acordar a garota deitada na grama da floresta naquela noite fria.
A ouvi sussurrar algo inaudível enquanto gemia de dor, tinha marcas em seu rosto, braços e pernas, como se tivesse sido atacada.
A levei para minha cabana e cuidei de seus ferimentos com receitas caseiras que aprendi com minha mãe.
Passaram alguns dias para que podesse se recuperar totalmente, mesmo que quisesse ficar, a cidade quase toda estava a procurando e devia voltar.

...

A acolhi, cuidei dela e apesar de tentar, não pude conter esse amor que me fazia arder em chamas. No início achei que era apenas algo de minha cabeça e que não era recíproco, mas com o tempo pude ver que ela sentia o mesmo por mim e estava disposta a enfrentar tudo para ficássemos juntas.
Mas não podíamos arriscar por enquanto, além de ser filha do padre da vila, estava comprometida com um rapaz de família rica que podia "lhe dar um futuro melhor"

Até parece.

Irei fazer de tudo para que possamos viver esse amor, nem que sejamos julgadas, mesmo que me condenem a queimar na fogueira, mesmo que não possa lhe dar os céus, a oferecei o inferno.












☕︎


Eai Good Girls, o que acharam desse primeiro capítulo? Se tiverem alguma dúvida, me digam e esclarecerei todas.
Até mais, diabinhas.

Doce Lilith - ROMANCE SÁFICO +18Onde histórias criam vida. Descubra agora