CAPÍTULO I

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Macaco; fedido; Preto nojento
Esses eram alguns adjetivos que Ander escutava frequentemente na escola em que estudava, no sexto ano, com seus 11 anos de idade. O bullying era uma constante, e ser o único bolsista preto em uma escola elitizada não costumava ajudar muito. Apesar das notas altas; bom desempenho nas aulas; na natação; no vôlei; na música; nada parecia suficiente para mudar a percepção dos outros. Ele não entendia o porquê. Não era justo.
Morava longe da escola e precisava pegar um ônibus todos os dias, quase sempre lotado. Perdia as contas de quantas vezes já tinha cochilado em pé. Sua mãe sempre se esforçou para nunca deixar faltar nada para ele e nem para seu meio-irmão. Inesperadamente essa era a melhor fase mental e financeira da vida de sua mãe, e ele nem imaginaria. No entanto, Ander só não esperava que ganharia mais dois meios-irmãos, esses que chegariam de surpresa para uma mãe solo solteira e até então, sem relações sexuais.
Talvez ele tenha sido babaca por no passado não ter apoiado as duas gestações da mãe. Mas não o entendam mal, ele amava seus irmãos. Amava muito. Muito mesmo. Só não conseguia lidar com a falta de responsabilidade da mãe, e tinha consciência que aquilo não daria certo.
Na escola, olhares e sussurros eram constantes. Carregava com si a memória de um dia específico, quando Enzo, um play boy riquinho da classe derrubou propositalmente seu estojo no chão.
-Aí desculpa, patinho feio. Ou seria melhor macaquinho feio? HAHAH. - Dizia Enzo no tom mais irônico possível.
Todos da turma riram alto. A professora estava presente, viu e deu de ombro -Talvez por medo de perder seu emprego. Não seria ela quem iria desafiar um adolescente com pais tão ricos e poderosos como os de Enzo. E afinal, o que a mãe solo de um bolsista poderia fazer?- Ander abaixou-se para recolher os lápis, sentindo um nó na garganta, que de alguma forma dizia que ele era um fraco por aguentar aquilo calado, seguidos do calor das lágrimas ameaçando cair, mas segurou, não deixaria nenhuma cair, não permitiria que eles tivessem esse gostinho.
Em casa, as coisas eram difíceis, a tensão estava sempre presente. A sensação de não saber se amanhã ele teria uma refeição atordoava sua cabeça. Se perguntava como seria o futuro, com a mãe lutando para sustentar tudo sozinha.
Apesar de tudo, Ander tinha sonhos. Ele queria ser alguém na vida, sair daquela realidade e construir um futuro para si e para sua família. Cada dia era uma luta diferente, mas tentava se manter firme, acreditava minimamente que um dia sua força de vontade o levaria a um lugar onde poderia ser verdadeiramente feliz.

PS: Acompanhe datas, cenas em primeira mão e imagens do livro no Instagram @afklivr0s.

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⏰ Última atualização: Oct 14 ⏰

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