A tarde começava a cair e a menina se perguntava quando seu sangue morto pararia de correr incessantemente. A água do riacho vinha de uma montanha a alguns dias de viagem, água fria e doce, que se tingia de vermelho vibrante enquanto a menina se lavava. Só, divagava sobre preocupações que uma menina não devia ter.
O vento era suave quase todo o tempo na sua pequena fazenda, suave quase todo o tempo em todo o leste de seu continente. Não fazia frio, chovia em épocas certas e a noite caía lenta, como se o sol se apegasse àquele lugar mais do que a qualquer outro.
O laranja no céu apontava que era chegada a hora do regresso. O duro regresso com três potes de barro com roupas lavadas e água do riacho. Mas não era o peso que incomodava a menina, não. Sua mente estava no menino que a esperava em casa, o meio-irmão mais novo que a atraía.
Enquanto divagava no caminho, a menina pisou em falso, derrubou as roupas e amaldiçoou o chão. Recolheu-as e chorou. Pediu perdão pela heresia e em pouco minutos sua mente se encarregou de esquecer este fato e sua vida seguiu.
Ninguém nunca saberá e ou poderá atribuir a culpa para esta menina, mas o que alguns suspeitavam acabou se confirmando novamente naquele instante. O Deus para quem a menina chorou e pediu perdão não era tão piedoso quanto diziam as escrituras.
A menina não percebeu, ou seus pais, seu meio-irmão, ou qualquer outro homem daquela terra - Um risco vermelho-dourado cortou o céu.
Podemos concluir que a resposta divina à menina foi simples: Uma prece foi respondida. Um anjo foi enviado. Uma sentença assinada.
E quando o Sol se foi totalmente, algo se levantou. Algo que perturbou a ordem natural e drenou a vida de todo um campo de centeio, criou pernas e saiu caminhando sem rumo.
A noite havia chegado e a menina seguiu sua normalidade. Se encontrou com o menino e pecou o quanto pôde. A carne uivava e ao êxito da primeira vez o pecado se consumou. Uma semente profana foi plantada em seu interior.
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A Bruxa de Goya
Horror"Não chora criança" Seu corpo balança e o vento bate. Com seu pequeno nariz cheira enxofre e seus olhos ardem no véu da plena noite; a Lua está no vértice do céu e suas estrelas flamejantes escorrem, quase como se se acovardassem em premonição do qu...