One Shot

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É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música.

Honoré de Balzac


Naquela manhã de terça, quando ouvi os rumores, não quis acreditar. Senti meu mundo até então perfeito abalar. Já estava tarde da noite, por voltas das 22:00, minhas pernas moles teimavam na caminhada em direção a casa de Paul, meu até então namorado. Suspirei com pesar, há poucos metros vi sua casa surgir em meio ao breu na noite. Uma única luz jazia acesa, a da sala. Me aproximei cautelosa e bati na porta, uma, duas, três vezes até ouvir barulhos de passos se aproximando. Seria mais fácil mandar uma mensagem em seu celular, mas também uma atitude covarde, e se tem uma coisa que Ana Miller não é, é covarde.

A porta rangeu sendo aberta, e por ela você surgiu. Lindo, como sempre esteve. Nossa diferença de altura sempre me chamaria a atenção, seus olhos negros, opacos, sem qualquer sinal da alegria contagiante que eu tanto me orgulhava. Você estava abatido, eu sabia disso.

- Posso entrar? - Fui direta, não gosto de postergar o que tenho para fazer. Você apenas concordou num manear de cabeça, dando passagem para que eu pudesse entrar. O silencio torturante, eu odiava o seu silencio, eram poucas as situações que te colocavam nessa posição impotente.

Nos direcionamos ao sofá, você se sentou ao meu lado. O olhar evitando o meu a todo custo, eu sabia por quê. O silencio perdurou por mais alguns minutos, você absorto em seus pensamentos turbulentos, eu buscando uma maneira de iniciar aquela conversa.

- Quando iria me contar? - Tomei a iniciativa, meus olhos fixos numa rachadura no assoalho do chão de madeirite, temendo te encarar nos olhos e perder toda a minha compostura.

- Como descobriu? - Rebateu ele a minha pergunta. Dessa vez não consegui evitar de encarar os castanhos escuros de seus olhos. Indignada, é o adjetivo que melhor cabia a mim naquele momento.

- É com isso que está preocupado?

Paul voltou ao seu silencio mórbido. Desviando mais uma vez seus olhos dos meus, encarando suas mãos unidas, o tronco prostrado para frente, cabisbaixo. A voz baixa e rouca soou ainda mais melancólica:

- Eu não queria te magoar, não você - Iniciou ele – Por isso te evitei durante essa semana, queria prolongar um pouco mais o fim inevitável.

Suspirei, sentindo o bolo formar em minha garganta, eu queria chorar, mas não daria esse gostinho. Maldita Rachel Black. Três anos de relacionamento jogados pelo ralo, por conta de uma magia de lobo idiota.

Quando ouvi os burburinhos pela manhã, fui direto a Jared, amigo de Paul, ele é péssimo em mentir e eu sabia que com um pouco de persuasão ele iria acabar cedendo e contando toda a verdade. Paul havia se afastado por uma semana inteira, não respondia minhas mensagens, evitava minhas ligações, estava mais empenhado em fazer as rondas da matilha e se manter o mais longe possível de mim, era horrível não saber o que estava acontecendo. Então a bomba foi jogada no meu colo, meu namorado, Paul Lahote havia tido um imprinting por Rachel Black, irmã de Jacob Black. Senti o mundo sob meus pés desaparecer, um sentimento de mal agouro.

- Deveria ter me dito logo de cara, Paul – Acusei, magoada – Eu sempre soube que isso poderia acontecer, torci para que não, mas sempre soube dos riscos, não sou nenhuma idiota.

Paul voltou seus olhos a mim, cheios de culpa.

- Eu amo você, sempre vou amar – Confessou ele, a voz embargada – Eu não quero essa porcaria de imprinting, não quero me aproximar dela.

You've Got A WayOnde histórias criam vida. Descubra agora