O que aconteceu

91 2 25
                                    

Apertei a campainha da casa e esperei ser atendido, ansioso.

Tinha esperado até o último momento para aceitar o convite, até minha falta de vergonha e curiosidade falarem mais alto. Eram pouco mais de seis horas da tarde e o sol já estava se escondendo atrás das casas do condomínio. Todas elas seguiam o mesmo padrão: fachadas imponentes, cores claras, janelas enormes. Tudo muito fora da minha realidade, já que sempre morei em casas bem mais simples.

Ouvi a porta abrindo e me deparei com Rick.

- Oi, Yuri. E aí? - ele sorriu e apertou minha mão.

- Ei. - respondi, um tanto sem graça. Não que eu nunca tivesse ido a casa dele, mas era a primeira vez indo lá sozinho.

- Pode entrar. - ele falou. Depois que entrei, ele fechou a porta.

Dei uma olhada pela sala. Relativamente grande, com piso brilhante e pé direito alto. A televisão era bem grande, e eu imaginava como a gente ia assistir anime naquilo (já que eu sempre assistia no meu notebook e a TV não tinha navegador de internet). No chão, havia um tapete circular felpudo que cobria todo o espaço entre o sofá e a TV. Observei a escada que dava para o segundo andar, com degraus de alguma rocha polida.

- Vou buscar meu notebook. Pode se sentar no sofá.

- Ok - respondi, mas não sentei. Em vez disso, fiquei observando a casa, andando por aí a passos lentos. Acabei me deparando com a mãe dele, que estava saindo do banheiro. Ela estava usando uma roupa de ficar em casa meio curta, que me fez ficar constrangido. Sorri um pouco.

- Ah, olá!

- Ah, Yuri! - ela exclamou - Não achei que você ia chegar tão cedo!

Ela me deu um beijo na bochecha. Tentei superar o fato de que eu não lembrava o seu nome.

- O Henrique falou que você vinha. Eu arrumei um colchão para você dormir no quarto dele. Tem lasanha para esquentar na geladeira, se vocês ficarem com fome.

- Ah, obrigado. - respondi - Não precisa se preocupar.

- Não posso deixar vocês morrerem de fome, né? - ela bagunçou o meu cabelo. - Eu vou subir agora. Então, vocês se viram aí?

- Uhum.

Quando ela terminou de subir as escadas, sentei no sofá e fiquei acariciando um gato branco de pêlos curtos que estava deitado do meu lado. Não demorou para Rick aparecer, jogando um pacote de bolachas recheadas pra mim, e botar o notebook na estante debaixo da TV. Ele me perguntou o nome do anime para pesquisar na internet. Depois, usou um cabo para conectar o notebook à TV.

"Então é assim que se faz".

Abri o pacote de bolachas e comecei a comer.

- Não lembrava que o seu condomínio era tão...

- Grande? É, eu sei. Aqui está cheio de filhinhos de papai. - reclamou ele.

- Do tipo... Você? - falei. Ele olhou para mim. Continuei - Não leve a mal, é só que você também mora aqui. O que o faz diferente de todo mundo?

- Meu estilo e senso de humor inigualáveis! - Ele tentou fazer charme jogando os cabelos pra cima.

- Ahmm... - Eu sabia que ele estava brincando, mas não sabia o que dizer.

- Tô zoando. É que mudei pra cá ano passado e parece que de repente precisa ter o último iPhone e ter ido pra Disney pelo menos cinco vezes pra poder se enturmar.

- Ah. Sei como se sente. - Eu ri. Foi mais ou menos assim que me senti quando mudei para minha escola atual, embora eu tenha encontrado logo as pessoas certas para fazer amizade.

Leon O-SamaOnde histórias criam vida. Descubra agora