capítulo cinco

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Em passos lentos, Harry saiu do banheiro. Com a luz do quarto acesa, notei os pequenos cortes próximos ao olho e nas bochechas, além do hematoma escuro na barriga que dava cor a uma das enormes asas da borboleta. Era possível ver algumas gotas de água escorrendo pelos seus músculos definidos.

"O que você está fazendo aqui?" Antes que eu pudesse responder, seu olhar me mediu de cima a baixo. Senti as bochechas esquentando quando a sua atenção focou em minhas pernas nuas e meus seios que saltavam para fora do decote. A expressão de surpresa deu lugar à confusão. Sobrancelha franzida e lábios em formato de beicinho. "Você trabalha aqui?"

"Não sou uma prostituta. Se é isso que está pensando."

"Eu não julgaria se você fosse." Me senti idiota por estar tão na defensiva. Sei o quão dignas e honestas são as dançarinas que prestam serviços sexuais por aqui. Todas estão em busca de melhores oportunidades. "Você me disse que trabalhava em uma boate. Nunca imaginaria que seria nessa."

"E você nunca me disse que era lutador. Você trabalha clandestinamente, não é?" O silêncio respondeu minha pergunta. "Harry!"

"Corta essa, Abbey." Ele se aproximou aos poucos. Meu subconsciente berrou para que eu me afastasse, mas meus pés permaneceram imóveis, como se criassem raízes no chão. "É exatamente por isso que eu nunca contei. Imaginei como seria sua reação."

"Só fico preocupada. É perigoso. Você pode ser preso se descobrirem."

"Bom, eu não posso morrer de fome. Envolve muito dinheiro, Abbey. Dinheiro sujo, mas o suficiente para sustentar a mim e à minha família."

"Continua sendo ilegal."

"Por que você trabalha em um lugar onde tantos homens nojentos só estão interessados em usar você?" Não precisei responder. O motivo era óbvio. O mesmo dele. "Sei os riscos que corro estando nesta merda, Abbey. Mas sei que se eu me ferrar, muita gente se ferra comigo." Harry foi até a cama, abrindo a bolsa e tirando uma camisa. Então, ele estava vestido. "Se eu mostrar que sou bom nisso, posso me dar bem. Entrar na luta legalizada. Participar de campeonatos nacionais. Quem sabe, internacionais."

"Você gosta de lutar?"

"Foi a melhor oportunidade que encontrei por aqui." Depois de amarrar o cadarço do tênis, Harry se levantou. "Além disso, não poderia pedir por um parceiro melhor. Will é um ótimo treinador e amigo." Cruzei os braços, tentando esconder meu corpo quase nu de seu olhar firme. "Você gosta de trabalhar aqui?"

"Sou a responsável pelo bar. Alguns caras tentam mexer comigo, mas isso nem se compara à situação de outras garotas. Eu não aguentaria, se estivesse no lugar delas."

"Agora que sabe que posso dar uma boa surra, me ligue caso alguém passe dos limites com você. Paro o que estiver fazendo para dar uma boa lição no filho da puta." A fúria no tom do meu vizinho fez meu corpo tremer. Pensar na imagem de Harry socando Jens foi gratificante. "Preciso ir. Will está esperando por mim. Você precisa de uma carona?"

"Vim com o meu carro. Tenho que ficar até fecharmos."

"Posso esperar por você?" Eu sorri e balancei a cabeça. Voltar para casa depois de uma noite agitada como esta e encontrar o vizinho mais gostoso e gentil que eu poderia ter seria um grande alívio.

Em um movimento rápido, ele pegou minha mão e a beijou suavemente. Com uma das alças da bolsa pendurada no ombro, Harry caminhou até a porta da suíte, cumprimentando o segurança que me acompanhava e me dando uma piscadela antes de desaparecer. Peguei a bacia de champanhe intocada, saindo do cômodo. Ao mesmo tempo, Jocelyn saiu do quarto da frente. Com as mãos vazias. O batom vermelho borrado e a alça da camisa frouxa sobre o ombro. Silenciosamente, o homem de terno nos acompanhou de volta ao bar.

hormones [h.s.] [portuguese]Onde histórias criam vida. Descubra agora