1. Whisky e trocadilhos

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1. Vomite palavras na caixa postal dela, com a voz arrastada, embriagada com todas as doses de whisky que você bebeu com o único intuito de esquecer. Desabafe com o pobre barman e sinta-se estupidamente idiota. Use seu humor peculiar na tentativa de esconder o quanto vê-la com outra pessoa dói como o inferno. Durma em sua cama depois de lhe confessar que a felicidade dela é tudo o que importa.

Era um típico domingo à noite, e Natália estava em seu bar favorito, sentada - ou melhor, praticamente deitada - no balcão, afogada em seu copo de whisky já esvaziado várias vezes. Seus olhos estavam vidrados, e as palavras saíam de sua boca com um certo enrolado característico de quem já havia bebido muito além do limite.

O humor ácido e irônico estava em seu auge, especialmente depois de muitas conversas profundas com o homem atrás do balcão. Ricardo, o barman - que a conhecia bem o suficiente para saber que, naquela noite, Natália estava mais vulnerável que de costume - olhava para ela com um misto de preocupação e resignação.

- Você não entende, Ricardo! - dizia ela a Ricardo, o mesmo que tentava conciliar a conversa com a mulher, com alguns poucos clientes que ainda restavam naquele horário. - A Carol, ela é... como se diz? Ela é meio que a lua... e eu sou... - tentou raciocinar. - Eu sou algo parecido com a lua, mas mais fajuto, como um... queijo suíço! Isso, cheio de buracos e... e sentimentos não correspondidos.

Ricardo balançou a cabeça, tentando acompanhar a analogia absurda. Nada parecia fazer muito sentido, a não ser na cabeça muito bagunçada e embriagada de Natália.

- Certo, Natália. Talvez seja melhor você parar de beber por hoje.

- Ah, qual é! - ela levantou o copo, derramando um pouco do conteúdo sobre a barra do balcão. - Você por um acaso sabe o que é o amor, Ricardo? - perguntou Natália, com as palavras cada vez mais emboladas. - O amor é como um copo de whisky. - levantou o copo outra vez. - No começo, quando você ainda não conhece, ele parece inofensivo, e quando você percebe que o sente... digo, quando experimenta, de início, até pode parecer doce e quente, mas depois, com o tempo, você percebe que ele te destrói lentamente. - ela apontou para Ricardo, com as sobrancelhas erguidas e o olhar incisivo para deixar a mensagem clara. - Mais uma dose, por favor! Eu tô só começando a... me destruir. - riu, por fim.

Ricardo balançou a cabeça, dividido entre ficar comovido, assustado e divertido, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, Natália virou mais uma dose, pegou seu próprio celular e lhe questionou:

- Você acha que é uma boa ideia ligar para a Carol, Ricardo?

- Sinceramente, não. - respondeu, vendo a fotógrafa já rolando os contatos, sem escutar muito o que ele dizia. - Mas você não vai me escutar, é claro.

- Oi! Você ligou para Ana Carolina Soffredini. Não posso atender agora, então, por favor, deixe seu recado e eu entrarei em contato assim que possível.

O celular no viva voz emitiu a mensagem com a voz de Carolina. Ricardo suspirou, observando as feições de Natália. Ela riu, achando um tanto quanto antiquado deixar mensagens assim.

- Nacarolina... - Natália balbuciou quando viu que a mensagem começou a ser gravada, e então respirou fundo. Isso não parecia certo. Ela tentou novamente. - Carol. - melhor.

O mundo ao redor dela estava confuso e em itálico. Não, espera. Era ela, ela estava em itálico, jogada no balcão com Ricardo do outro lado a observando. Tentou se endireitar, agarrando a borda da madeira e viu tudo ao seu redor se mover mais uma vez naquela noite.

- Oi, Carol. - ela disse novamente. - Você não tá aqui comigo hoje. - Natália franziu a testa, tentando lembrar porque estava tão chateada com isso, afinal. - Ah, certo. Marcos. - ela revirou os olhos, fazendo gesto para Ricardo lhe servir mais uma dose de whisky. - Sim, então, Marcos... Marcos, Marcosss... Meu querido sobrinho Marcos! Como anda o Marcos, ein?

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