2. Reflexos de silêncio

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2. Acorde na cama dela, sentindo tanta dor de cabeça quanto vergonha. Perceba todo o cuidado e preocupação com você. Quando ela lhe perguntar, finja que está tudo bem. Quando achar que pode haver algo a mais ali, duvide da própria sanidade. Deite-se ao lado dela, observe-a atentamente, sinta seu cheiro tão familiar. Sussurre no meio da noite, depois de contar o espaço entre suas respirações e ter certeza de que ela está dormindo.

Natália acordou emitindo um gemido abafado, sentindo como se um martelo estivesse batendo em seu cérebro repetidamente. Abriu os olhos no exato momento em que um raio de sol atravessou a cortina e atingiu em cheio sua visão, intensificando a dor latejante. Grunhiu, tendo a sensação que o quarto girava levemente enquanto ela tentava se situar na cama até então desconhecida.

Ela piscou várias vezes, tentando reconhecer o ambiente, e então, muito lentamente, notou onde estava. Era o quarto de Carol. A cama de Carol. Se desesperou de início, principalmente ao notar que a mulher não estava ali, havia apenas um lado da cama amarrotado e... Um bilhete.

Um bilhete escrito a mão sobre o pequeno cômodo ao lado da cama, junto com alguns comprimidos e um grande copo de água. Natália engoliu em seco, sua boca antes já seca, agora ligeiramente pior. Ela se sentou com cuidado na cama, tentando não piorar a sensação de estômago embrulhado, e se esticando, pegou o bilhete, as mãos tremendo por uma mistura de ansiedade, temor, e é claro, ressaca.

"Natália,

Você não deve estar se sentindo muito bem agora, queria estar aí quando acordasse, mas você demorou e eu tive que vir trabalhar. Tome os remédios para dor de cabeça e beba bastante água, você vai precisar.

Ps: sushi hoje a noite. Precisamos conversar.

Carol."

Natália suspirou, sentindo um misto de alívio por Carol não estar furiosa e muita apreensão por sua intimação com a frase "precisamos conversar", ainda mais pelo fato de não conseguir lembrar claramente da noite anterior. É claro que ela tinha uma noção geral, mas era um borrão só, as coisas misturadas, como se tivesse acontecido tudo em 10 minutos, o que - ao julgar pela ressaca sofrível na qual ela se encontrava - tinha certeza de que não foram apenas 10 minutos de bebedeira.

Natália tomou dois comprimidos com toda a água que Carol deixou, agradecendo internamente por aquilo, e com um esforço sobre-humano, ela se levantou da cama. No entanto, seus músculos protestaram e ela quase caiu no chão, agarrando-se desesperadamente ao lençol para se equilibrar.

- Que bela forma de começar a segunda-feira. - murmurou para si mesma enquanto cambaleava até o banheiro.

A visão de seu reflexo no espelho quase lhe assustou. Cabelos emaranhados, rosto e lábios pálidos, e o rímel borrado formava olheiras ao redor dos olhos. A leve maquiagem agora lembrava um quadro abstrato muito malfeito.

Ela abriu a torneira e lavou o rosto, sentindo a água fria aliviar um pouco da sensação de ressaca. Pegou um enxaguante bucal que havia no balcão de Carol e usou, ao menos para tirar aquele gosto ruim da boca até chegar em casa e poder escovar seus dentes. Enquanto se olhava no espelho, flashes específicos da noite anterior começaram a voltar com força. Cada lembrança a fazia se encolher de vergonha.

De repente, escutou seu celular vibrar em algum lugar do quarto e voltou para pegá-lo. Encontrou algumas mensagens de seu irmão e cunhada, preocupados perguntando se estava tudo bem, e uma última mensagem não lida de Carol:

"Natália, por favor, me avise quando acordar. Estou preocupada."

Natália suspirou, uma mistura de gratidão e vergonha. "Pelo menos ela se preocupa", pensou consigo mesma.

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⏰ Última atualização: Jul 30 ⏰

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