014

501 63 4
                                    









Jéssica estava descalça, vestindo um vestido branco. Ela andava pela floresta, desviando das árvores e ignorando os galhos e pedras que machucavam seus pés. Ela ouviu um uivo alto, seguido de outro e outro. Então ela parou em uma clareira, mais a frente tinha um tronco de árvore cortado, deixando apenas as raízes e um toco da árvore.

O vento ficou mais forte, bagunçando seus cabelos.

Ela voltou a andar, se aproximando do toco cortado. Ela tocou com uma mão, passando pelos desenhos das camadas da árvore. Ela acabou passando o indicador mais bruscamente pelo toco, uma ferpa minúscula entrando em sua pele. Ela sentiu uma corrente elétrica passando por seu corpo, seus cabelos sendo empurrados pra trás pelo vento forte.

Erguendo a cabeça pro céu, Jéssica viu as nuvens cinzas cobrindo o céu, deixando tudo escuro. O vento parou e Jéssica sentiu seu corpo fraco. Foi então que um raio caiu do céu direto na árvore, o impacto a lançou longe. Fios de eletricidade infiltrando em sua pele e queimando.

Jéssica caiu no chão, o ar desaparecendo de seus pulmões enquanto sua pele queimava.

Então o grito rompeu de sua garganta.

Os Whittemore entraram bruscamente no quarto, assustados ao ver a garota se debatendo na cama, arranhando a própria pele enquanto gritava.

— Jéssica! — sua mãe correu até a cama, tentando segura-la.

David foi em sua direção, segurando um dos braços de Jéssica contra a cama. Jackson parou na porta, completamente confuso e assustado.

— Jackson, me ajude a segura-la! — seu pai gritou e ele foi até o outro lado, segurando o braço de Jéssica contra o colchão.

Jéssica continuava se debatendo, tentando se soltar do toque deles, seus gritos chegando a acordar os vizinhos.

— querida, ligue pra emergência! — David mandou e a mulher saiu do quarto pra pegar o celular, ligando no caminho.

Pequenas bolinhas bateram contra o carro, perfurando o metal e atingindo a perna do homem que dirigia. Ele gemeu de dor, virando o volante e fazendo os pneus derraparem no asfalto. A mulher ao seu lado gritou assustada, se virando pra trás e vendo a garotinha no banco de trás rabiscando freneticamente no caderno de desenho.

— não, agora não. Por favor, Jéssica.

Outras bolinhas atingiram o carro, acertando a testa do homem que dirigia. O carro perdeu o controle de vez e a mulher tentou tomar controle do volante. Uma luz forte e branca foi jogada em sua direção, a fazendo semicerrar os olhos em uma tentativa de proteger sua visão. Foi então que um carro bateu na lateral deles, fazendo seu corpo bater contra a porta e sua cabeça sangrar. O carro continuou desgovernado até capotar, tirando gritos da garotinha.

Quando ele parou, o cheiro de gasolina ficou forte, os rodeando e intoxicando. Não demorou pras primeiras chamas começarem.

Jéssica piscou os olhos, o sangue escorrendo de sua cabeça pelo rosto. Ela tossiu, gemendo ao sentir dor nas costas pelo movimento.

Estava de cabeça pra baixo, ainda presa pelo cinto de segurança. Ela olhou pra baixo, o caderno de desenho estava aberto na página. Dois olhos vermelhos e sombrios, no meio da escuridão.

— Jéssica? Filha, por favor, acorda — David implorou, começando a ouvir o som da ambulância se aproximando.

— eu vou atender — a mulher saiu do quarto.

— o que tá acontecendo com ela? — Jackson perguntou assustado.

— eu não sei.

— tá queimando!— ela chorou ainda dormindo, agarrando o primeiro braço que achou. — dói! Por favor, faz parar!

— o que? O que tá queimando Jéssica?

— tudo!

Os paramédicos entraram no quarto, se aproximando e tomando o lugar dos dois. Um deles tocou a testa de Jéssica, tentando identificar se ela estava com febre. Ela estava fervendo.

— ela tá a quanto tempo assim?

— a uns... Vinte minutos — David respondeu, abraçando a esposa pra consola-la.

O paramédico abriu o olho de Jéssica, apontando a lanterna pra sua pupila. Os gritos dela tinham diminuído, agora eram só grunhidos agoniados.

— dilatada, sem reação — o paramédico disse. — ela disse alguma coisa?

— disse que tava queimando. Que tudo tava queimando.

— vamos leva-la — fez sinal pros outros paramédicos.

— ela vai ficar bem? O que vão fazer?

— precisamos de alguns exames pra identificar a causa... Disso — apontou pra ela.

Ela foi levada pro hospital, tomando soro a caminho dele pra ficar mais calma. Eles colheram sangue e levaram pra fazer exames, a deixando no soro com calmante o suficiente pra ela dormir. De manhã, Jéssica se sentou, os assustando, abrindo os olhos e olhando diretamente pra eles, sua respiração forte.

— filha? — sua mãe chamou e ela a olhou.

Seu olhar suavizou, mas ela apertou as mãos no lençol ao seu lado.

— quero ficar sozinha — sua voz soou falha.

— meu amor.

— tudo bem. Vamos estar lá fora se precisar — David falou, levando a esposa pra fora. — Jackson.

— você tá estranha.

— eu sempre fui estranha — ela sorriu, mas o sorriso não chegou aos seus olhos. — agora saí.

Ele concordou e saiu, deixando a porta aberta. Antes que tivesse a chance de voltar, a porta bateu em um baque alto.

Jéssica saiu da cama e correu até o banheiro, acendendo a luz e se olhando no espelho. Suas olheiras estavam maiores e quase pretas. Ela olhou pra mão, vendo a marca da ferpa em seu indicador. Olhando pro seu pulso, ela conseguiu ver os fios de eletricidade através da pele.

— é por causa dele...

Ela tocou a nuca, mas não tinha mais o machucado, nem a casquinha, nem a cicatriz. Como se nunca tivesse existido um corte alí.

— o alfa.

[Não revisado]

Hoje é um péssimo dia.

Ontem a noite meu cachorro foi atropelado na frente de casa, enquanto voltava de uma saída de três minutos, como ele sempre fazia. O motorista estava em alta velocidade e o pegou em cheio, ele não parou pra prestar socorro e meu cachorro morreu assim que eu cheguei na rua.

Uma dor que eu não desejo a ninguém é essa, perder seu melhor amigo, seu bebê, por causa de um ser humano desprezível (que provavelmente estava alcoolizado).




The other side, Isaac Lahey - Teen Wolf Onde histórias criam vida. Descubra agora