Capítulo 1

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DULCE VILELA

Me encontrava rodeada por bandidos dentro de uma favela, onde o notório Peruano, um dos bandidos mais procurados do país, havia decidido organizar uma festa para celebrar a queda de um de seus rivais, não pude deixar de questionar minha própria sanidade estando em um lugar tão perigoso.

Por que diabos eu tinha concordado em participar de um evento criminoso em uma favela conhecida pelos seus perigos iminentes?

A verdade era que eu sabia muito bem a resposta: imprudência.

A imprudência é como uma sombra persistente que me acompanha desde que eu tinha apenas treze anos. Desde então, muitas vezes ignoro os avisos da razão e mergulho de cabeça em situações perigosas e arriscadas, constantemente colocando minha segurança em segundo plano.

Mesmo quando a prudência sussurra suas advertências sensatas, sou atraída pelo chamado da aventura, pelo desafio do desconhecido. É uma parte intrínseca de quem eu sou, moldando minhas escolhas e me levando por caminhos incertos e emocionantes.

Minha mãe, com sua mistura de preocupação e frustração, frequentemente me apelida de Peter Pan, insinuando que minha relutância em assumir responsabilidades adultas é reminiscente do famoso personagem que se recusa a crescer. Aos 27 anos, com uma formação acadêmica e vivendo sozinha, seria de se esperar que eu abraçasse a maturidade e a independência. No entanto, pareço estar presa em um estado de perpétua adolescência, resistindo às expectativas convencionais e buscando uma vida que se alinhe mais com meus desejos e impulsos.

Ter uma melhor amiga de dezoito anos, apesar de trazer uma energia jovem e revigorante para minha vida, muitas vezes parece contribuir para a perpetuação desse estado de estagnação.

Embora nossa amizade seja uma fonte de apoio e diversão, às vezes me pergunto se a diferença de idade não está exacerbando minha relutância em abraçar a adultez.

Procurando a minha amiga pelo local, examino o primeiro andar da casa, podendo notar a diversidade de ambientes que o compunham. Havia a acolhedora sala de estar, a elegante sala de jantar, a moderna cozinha, e, ao lado, um bar bem abastecido. No centro de tudo, um amplo espaço aberto transformado em pista de dança, com luzes cintilantes e música envolvente.

— Por que você tá com essa expressão que quer morrer, Dul? — Layane questionou, rindo, aproximando-se e agitando um copo de vodka na minha frente. — Vamos lá, bebe um pouco e melhora esse astral.

Aceitei o copo com um sorriso tímido, enquanto Layane começava a dançar ao som do funk pesadão, seu corpo exalando energia contagiante. Seus cachos  dançavam livremente junto ao seu corpo em movimento, destacando-se contra sua pele negra retinta, iluminada pelos flashes de luzes coloridas. Seus lábios carnudos exibiam um sorriso radiante, e seus olhos castanhos claros brilhavam com uma mistura de diversão e determinação. Era como se ela fosse o próprio centro da festa, irradiando uma aura de vivacidade que era impossível de ignorar.

Enquanto Layane continuava a dançar ao meu lado, pude sentir o peso do olhar de um homem do outro lado da sala. Seu rosto, marcado por tatuagens e uma expressão séria, parecia estar examinando cada movimento meu com uma intensidade desconcertante. Cada vez que nossos olhares se encontravam, uma sensação de desconforto se intensificava, como se ele estivesse lendo meus pensamentos mais profundos. Era como se seu olhar penetrante fosse capaz de desvendar segredos ocultos e expor minhas vulnerabilidades. Essa avaliação silenciosa me deixava inquieta, fazendo-me questionar o que ele poderia estar pensando e qual era sua intenção ao me observar tão atentamente.

— Amiga, se tá tão ruim para você, podemos ir embora!

— Você disse que eu ia sair daqui satisfeita, mas olha só... — Girei levemente a cabeça e vi a cena à nossa volta. — Só tem uns caras desleixados e sem graça!

— Eles acabaram de voltar de uma missão, Dul. É normal estarem sujos, e convenhamos, eles não são tão feios assim.

— Bom, o Peruano até que é bonitinho, mas eu jamais me envolveria com um traficante como ele.

— Como assim? — Ela arqueou a sobrancelha.

— Dizem que ele é um assassino profissional, Lay. Não quero me meter com alguém tão perigoso. Prefiro ficar com uns playboys que só querem fumar maconha.

— Uau, isso soou meio racista, amiga.

— Como assim? Ele nem é negro! — Revirei os olhos e me afastei, evitando uma discussão sobre questões sociais numa festa no morro.

Apesar do amor que sinto por Layane, é difícil lidar com ela quando está alcoolizada. Parece que ela se transforma em uma versão virtual do Quebrando o Tabu, discutindo todos os temas possíveis como se estivesse em uma palestra.

Saio em busca de um lugar para me sentar, sentindo minhas pernas cansadas pelo tempo que passei em pé. No meio do caminho, decidi tomar a dose de bebida alcoólica de uma só vez, e senti um calor intenso percorrer meu corpo, como se o líquido estivesse queimando até minha alma.

Por um momento, essa sensação de queimação pareceu purificar meu espírito, mas logo percebi que era apenas uma ilusão passageira. Há muito tempo, meu ser foi envenenado pelo pecado da luxúria, e nenhuma quantidade de álcool poderia redimir isso.

TENTAÇÃO PERVERSA [degustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora