5. These arms of yours

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Wuxian passou o final de semana pensando no abraço que deu em Wangji. Sentado no chão de seu quarto e olhando para seu labrador sempre paciente e companheiro, ele suspirava e observava se sua pele, em algum lugar, estava estourada de bolinhas vermelhas.

Ele quis conversar com alguém sobre o que estava sentindo, mas sabia que não havia ninguém. Ele sabia que seus pais eram compreensivos, mas também sabia que eles tinham sempre uma tendência a passar a mão na sua cabeça. Wuxian não era bobo, ele sabia que era neurodivergente e que os pais o tratavam de acordo com suas necessidades, era só que às vezes, necessidades além daquelas surgiam em sua cabeça.

Wuxian sentiu que carecia de um amigo. Mais do que isso, ele carecia de alguém que pudesse lhe dar explicações sobre a ansiedade em seu peito e as noites de sono mal dormidas. Ele pensou que essa pessoa poderia vir a ser a sua terapeuta, mas quando foi no dia da consulta, ele simplesmente não conseguiu falar absolutamente nada com a mulher.

A convivência com Wangji também aumentou nos dias seguintes, o que aumentou também sua sensação de desprendimento da realidade. Ao mesmo tempo que Wuxian queria ouvir aquela voz que o acalmava (por que? Ele não sabia) e que queria tocá-lo novamente como havia feito dias antes... Ele não sabia como podia fazer qualquer uma dessas coisas sem esgotar toda a força de seu corpo e de sua mente.

"Você parece animado hoje". Wangji o escreveu na ponta do caderno. "Parece pensativo também".

Wuxian o olhou de soslaio e não conseguiu sorrir, mas desenhou uma carinha feliz em resposta. Wangji se deu por satisfeito e prestou atenção no resto da aula, esperando ansioso a hora do intervalo para poder dividir seu lanche com Wuxian e talvez trocar com ele meia dúzia de palavras.

Quando os dois já estavam no gramado comendo, no entanto, só sobrou para Wangji o silêncio. Wuxian não parecia disposto a o responder e nem atento ao que ele falava, então o rapaz se sentiu um pouco bobo. Não parecia justo que ele almejasse tanto a presença de alguém em apenas pequenas ações e mesmo assim, não as tivesse, mas lá estava ele, implorando pela atenção de um garoto distraído.

"Você quer ficar sozinho?" Wangji o perguntou do nada e Wuxian o encarou. "Digo, parece que você não quer conversar hoje e está tudo bem. Não quero te forçar a nada."

Wuxian sabia disso. Ele sabia que Wangji não queria lhe obrigar a coisa nenhuma. Ele só não sabia o que queria falar para Wangji para que ambos se sentissem felizes em estar um com o outro.

"Talvez eu deva te deixar sozinho um pouco..."

"Não." Wuxian o respondeu de repente, fazendo Wangji se admirar um pouco.

"Você realmente quer que continuemos juntos aqui? Você se sente relaxado comigo?"

"Não." Wuxian repetiu e Wangji não pôde deixar de sentir uma tristeza lhe alcançar com aquela única palavra.

"Te deixo desconfortável, não é? Eu sinto muito. Eu estou tentando melhorar isso. Estou tentando melhorar para ser uma pessoa melhor pra você."

"Wangji. Não." Wuxian o interrompe e suspira. Ele está apertando o solo ao lado de sua calça e arrancando a grama com uma das mãos. "Não."

"Eu queria entender de verdade, mas eu não entendo. Me desculpe."

"Você é importante. Para mim. Importante. A sua voz." Wuxian o responde e então levanta da grama. Há algumas folhinhas presas em suas calças, mas Wangji não lhe amolaria com essa pequena coisa.

Wangji apenas se levantou também e encarou Wuxian nos olhos com a boca entreaberta sem certeza do que deveria dizer, mas achando que iria expodir se não dissesse.

"Você também é importante para mim. Mais do que eu achava que era. Mais do que eu pensei que poderia ser. Você entende o que quero dizer?"

Não era certo na cabeça de Wuxian o que aquilo poderia significar, mas parecia significar toda a confusão que ele mesmo estava sentindo e aquilo foi um alívio de se ouvir.

Wuxian apenas sorriu com os olhos e estendeu sua mão até Wangji, esperando que ele lhe entendesse e a segurasse, e claro que Wangji não perdeu essa chance. Ele a segurou com delicadeza e respeito e entrelaçou os dedos dos dois, sentindo seu corpo inteiro esquentar e seu coração bater como louco.

"Eu quero tocar você." Wuxian o diz devagar e baixo. "Eu gostaria de sentir."

"Eu também, Wei Wuxian. Eu também." Wangji está rindo agora, porque ele simplesmente não está acreditando que estava ouvindo algo tão maravilhoso assim.

Depois de um tempo em que ficaram com a mão segurando um a do outro, Wuxian as soltou a sentiu sua palma suada. A estranheza não lhe incomodou, mas ele a limpou na camisa por uma questão obsessiva. Wangji não fez o mesmo com a sua, porque queria que até mesmo o calor compartilhado entre seus corpos se mantivesse por mais tempo ali, na palma da sua mão.

E como se toda aquela pequena emoção já não tivesse sido fantástica e feito o coração de Wangji de balão, Wuxian ainda, num ímpeto inesperado, o abraçou novamente. E o abraço dessa vez não foi desengonçado, pois os braços de Wangji estavam soltos ao lado do corpo.

E ao perceber o que estava acontecendo e a realidade do toque existente entre os corpos, Wangji, docemente, ergueu seus braços para retribuir o carinho também.

Tão cheio de amor.

Tão cheio de afeto.

Com o coração tão, mas tão grato.

O abraço, diferente do primeiro, demorou alguns segundos a mais, e Wangji pôde até sentir o cheiro da pele de Wuxian em seu pescoço. Ele cheirava a sabonete e roupas limpas.

Wangji não queria largar dele nunca.

Mas aquilo era a vida real e a próxima aula já ia começar, então eles se largaram e Wuxian juntou suas coisas dos lanches que estavam espalhadas pelo gramado e saiu andando para dentro da escola novamente. Wangji ainda demorou a lhe seguir, estático e ridiculamente desmontado pela paixão que nutria.

Ele não sabia se poderia ser retribuído, mas ele o havia tocado. Ele não sabia se podia ser amado, mas havia abraçado Wuxian com todo amor de seu coração.

Se estar assim, tão fraco e ao mesmo tempo forte, significava para Wangji que aquelas ações eram suficientes por um tempo, ele as considerariam sinais de que poderia sonhar.

E ele pretendia acordar desse sonho um dia e vivê-lo na realidade com o seu querido e silencioso amor platônico. Mesmo que a dúvida na espera fosse maior que a esperança.

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Um beijo a todos que gostam de minha escrita.

Até mais.

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