6. Lovesong

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A mãe de Wuxian observou, curiosa, o seu filho andar em frente a cozinha algumas vezes enquanto ela preparava um bolo. Esse costume do filho de andar na frente dos pais quando queria falar algo não lhe era desconhecido, no entanto, a mulher estranhava que ele estivesse agindo desta maneira porque ele não fazia isso desde que era apenas uma criança.

Ela sabia que não adiantava muito tentar abordá-lo para perguntar o que estava acontecendo, e confiando nos seus instintos e no seu histórico de mãe, ela decidiu apenas esperar o filho criar a coragem que precisava para lhe falar o que ele queria.

Duas horas depois, Wuxian foi até a mesa da cozinha, puxou uma cadeira e se sentou.

"Mãe, vem aqui." Ele pediu baixo e ela só o escutou porque estava muito atenta.

"Claro, querido." A mulher tirou seu avental e colocou o pano de pratos que segurava ao lado do fogão e foi até o filho, sentando em uma cadeira ao seu lado. "O que houve?"

Wuxian tinha as mãos cruzadas em cima da mesa e as encarava. Ele mordia o lábio inferior enquanto seus olhos iam e voltavam na direção de sua mãe sem de fato encará-la.

"Eu..."

"Querida, eu cheguei." O pai de Wuxian anunciou, fazendo o filho arrastar a cadeira pra trás e sair correndo para o quarto. A sua mãe fechou os olhos e balançou a cabeça e o marido, sem entender nada, se aproximou dela, sentando no local de onde o filho tinha acabado de sair. "O que foi isso?"

A mulher apenas riu.

"Se você tivesse chegado alguns minutos depois, talvez agora eu soubesse!" Ela, então, se levantou e voltou para perto do fogão. "Tem um bolo novinho para você comer mais tarde, querido. Vá tomar um banho, está tudo bem."

Enquanto isso, em seu quarto, Wuxian estava deitado no chão olhando para o teto. Ele coçava o seu pescoço e seu labrador cheirava o local incessantemente, tentando fazê-lo parar. Por causa da insistência do animal, ele acabou largando a gola de sua camisa e rolou no chão de um lado para o outro, fazendo seu bichinho deitar ao seu lado também.

"Por que?" Wuxian se perguntava. Ele estava achando a necessidade de se expressar maior nos últimos tempos. E ele estava sentindo uma angústia enorme em demonstrar suas vontades.

Parecia que aquele silêncio confortável que sempre fora sua companhia nos dezessete anos de sua vida agora escapava aos seus dedos e tudo o que ele queria era falar e ouvir, e estar perto e sentir.

Ele sabia que o responsável por isso era aquele que dominava a sua cabeça e os seus pensamentos, mas não sabia como colocar tudo em ordem e estabelecer alguma conexão com Wangji ou com seus pais que fosse realmente eficiente para que eles o entendessem.

Isso, então, causava em Wuxian uma angústia enorme, talvez tão grande quanto a confusão em sua mente sobre esse sentimento novo e essa pessoa nova em sua vida.

"Wangji." Ele falou e seu cachorro o olhou como se perguntasse do que ele estava falando. Wuxian apenas tocou seu focinho com a ponta de seu indicador e repetiu. "Wangji." E depois, sorrindo, completou: "Eu amo a sua voz."

**

Na escola, no outro dia, a turma de Wuxian teria que fazer uma atividade no laboratório de química. Ainda que ele não tivesse nenhuma limitação para lidar com aquelas atividades, ele sempre era supervisionado por um professor, que sempre também lhe indicava um colega para ficar de olho nele.

Não que a mãe de Wuxian tivesse feito essa exigência ou que a própria condição do seu filho precisasse de tantas ressalvas. Wuxian era apenas uma pessoa semi-verbal e suas notas sempre foram excelentes. A escola só queria garantir a segurança dele e dos outros alunos e havia muito desconhecimento da parte do corpo docente para lidar com um aluno como ele. A realidade infelizmente era essa, e tanto os pais de Wuxian como o próprio já haviam se conformado com isso.

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⏰ Última atualização: Jul 01 ⏰

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