1. As férias em Dunan

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Jack tocou seu pincel na tinta laranja mais uma vez, seu desenho parecia ganhar vida,, e por um momento ela pode delirar nas chamas que pintava. 

Uma floresta completamente incendiada, as árvores, a grama, tudo pegava fogo, o vermelho parecia brilhar em contraste com o céu escuro da noite. Era uma bela pintura.

Com a porta do quarto aberta ela conseguia escutar nitidamente a canção vindo do primeiro andar, as notas do piano não estavam nada leve, pareciam forçadas, tocadas com uma verdadeira brutalidade. 

Sua irmã Becca estava ansiosa, era tão nítido em sua melodia. Como ficar calma quando quem estava lhe ensinando a tocar era seu pai? 

Jack gostaria de conseguir aproveitar os últimos dias de férias ali na casa de inverno, só voltaria para Dunan no próximo ano. Ter que passar quase um mês na mesma casa que seus irmãos e seus pais foi um tremendo desafio, mas curtir a Ilha de Skye, cavalgando pelos campos, tinha feito tudo valer a pena.

Você não está seguindo o ritmo do metrônomo, Becca! Do início, mais uma vez. — A voz grossa do pai parecia ecoar pelas paredes da antiga casa. Jack suspirou e continuou focando na sua pintura, tentando ignorar o fato de que sua irmã deveria estar com os olhos cheios de lágrimas no andar de baixo.

A casa era de pedra, assim como todas as outras em Dunan, possuía 6 quartos, o dos pais, um do irmão mais velho Melban, do irmão mais novo Bruce, o da caçula Tommy, um que as meninas dividiam, e o maior onde os empregados compartilhavam quando eles ficavam ali.

Quadros e esculturas que estavam na família Caskie a décadas decoravam o ambiente, inclusive no quarto das meninas.

Todas as férias eram passadas ali, Dunan era o vilarejo que o pai, Robert, tinha nascido, e onde a família da mãe, os Caskie, mantiveram abrigo durante os anos de guerras.

Quando os três filhos mais velhos eram crianças, a casa na Itália também havia se tornado o principal foco para as viagens, porém após o incêndio, nenhum dos três ousou voltar para lá.

Jack viu com o canto dos olhos a sombra da caçula, aparecendo como um fantasma em sua porta, lhe obrigando a voltar para a realidade. Tão baixinha, com seu cabelo ruivinho como o de Becca e de Melban. 

— O que foi Tommy?

— Papai está bravo com a Becca de novo. — Com apenas sete anos de idade, a pequena sabia exatamente como as coisas funcionavam na casa quando os mais velhos voltavam da Academia.

— Você já sabe o que fazer quando ele está assim, fique longe e calada.

Um outro esporro do pai pode ser ouvido, mas dessa vez nem a própria Jack conseguiu entender do que se tratava.

Tommy olhava pelo corredor, mordendo a pontinha da unha, com medo no olhar.

— … Posso dormir com vocês hoje?

— Não Tommy.

— Por favor Jack… Vocês vão embora logo logo, e a Becca vai junto… Vou ficar sozinha com o chato do Bruce… Por favor… 

Jack soltou um longo suspiro, Tommy falava com muito mais nitidez desde as últimas férias, estava crescendo tão rápido… Uma das partes complicadas de estudar longe, sem dúvidas foi ter que deixar as irmãs para trás.

— Tudo bem, mas só hoje… 

A menininha concordou e pulou na cama da irmã, se enfiando debaixo das cobertas, e Jack apenas rolou os olhos e voltou com seu foco para sua pintura 

Apenas conseguiu dar uma pincelada antes de se distrair outra vez, quando a babá de Tommy entrou no quarto.

— Então foi aqui que se meteu, minha pimentinha! — Com seu sotaque forte de latina morando no Reino Unido, a Babá puxou a coberta da cama revelando a menininha, que soltou um gritinho fino e estridente. — Não adianta fugir, tem que escovar seu cabelo. 

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