CAPÍTULO 1: Entre Nuvens de Melancolia

23 2 1
                                    


"Devemos ir buscar a coragem ao nosso próprio desespero."

- Lucio Anneo Seneca.


Amanheceu com o clima nublado, igual ao humor de Jeon. O moreno estava sentado à bancada de sua pequena, mas organizada, cozinha, esforçando-se para se concentrar nas coisas ao seu redor, mas o empenho era falho.

Ele sentia a fadiga ocular e o típico sintoma de náusea gerada pela falta de sono adequado, corroendo o seu sistema nervoso central. O corpo estava dolorido, a mente cheia de asneiras e a única coisa que ele queria fazer era chorar.

Anotações estavam espalhadas na bancada, juntamente com xícaras de café e o caderno com toda a matéria da Teoria Neoclássica da Administração que, com muito custo, ele havia terminado de copiar da apostila. Afinal, não possuía mais outros aparelhos eletrônicos, além do celular, depois do acidente.

Sua mente estava tão cansada que, depois de duas horas lendo sobre o conteúdo, só se lembrava de que a teoria dava ênfase na organização prática das empresas, nada mais, nada menos.

Olhou para o relógio do Homem de Ferro na parede e percebeu que, se não se apressasse para se arrumar, iria perder o ônibus. Levantou-se desestabilizado da cadeira e seguiu para o armário de medicamentos. Precisava tomar seus comprimidos o mais breve possível, antes que esquecesse.

Além desses remédios, gostaria de ingerir algo para dor muscular, mas não seria possível, uma vez que já estava consumindo muitos comprimidos por dia. Desse modo, voltou-se para seus materiais espalhados, os organizou e guardou.

Enquanto se arrumava apressadamente, seu cérebro ainda tinha a capacidade de lembrá-lo da confusão de ontem, o que o emocionava ainda mais. O garoto só queria carinho de pessoas que se importavam com ele, mas havia alguém?

- Você acha que é alguém? - berrou a mulher, a voz tremendo de fúria e desespero. - Eu quis te matar no exato instante em que soube da sua existência, sabia? - Seu dedo indicador tremia de raiva enquanto apontava para o rosto do mais jovem. - Mas seu pai, aquele desgraçado, insistia que você era o sonho dele. - A mulher soltou uma gargalhada amarga, repleta de incredulidade.


🫀


Com passos rápidos e determinados, ele desembarcou do ônibus e apressou-se pelo caminho até alcançar os portões da faculdade. Na secretaria acadêmica, foi recebido por uma funcionária simpática, cujo sorriso acolhedor era um convite à confiança. Com cortesia, indagou sobre a disponibilidade de vagas nas aulas de artes cênicas. Seus olhos brilharam com a possibilidade de mergulhar na sua paixão: a dança.

Contudo, com um suspiro de resignação, ele compreendeu que, por enquanto, sua busca por paixão teria que esperar. A necessidade urgente de se afastar da faculdade de administração o forçava a considerar qualquer curso disponível de artes cênicas como uma oportunidade para desfocar a mente e sentir-se vivo. Assim, deixou-se levar pela esperança de encontrar, mesmo que temporariamente, um lampejo da vitalidade que ansiava.

A moça, com o coração partido, mais uma vez, negou. A terceira visita do rapaz à secretaria carregava consigo um peso que não escapava aos olhos atentos dos observadores. Se na primeira vez seus hematomas denunciavam uma história de dor, agora era a sombra da tristeza que pairava sobre ele, uma melancolia que não passava despercebida.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 02 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Fogo da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora