Fragmentos de amor - Clarena

Traição

CLARA ALBUQUERQUE

Como eu havia marcado de almoçar com a minha madrinha e o Rafa tinha ido para casa da Kate, Helena decidiu almoçar com a mãe para matar saudade e colocar o assunto em dia, como ela mesma havia dito.

Foi quando eu voltava do almoço, após deixar minha tia em casa, que eu vi a cena que fez meu coração acelerar. Era a Helena, eu vi minha Helena agarrada com outra mulher, as duas ficaram um bom tempo assim, abraçadas, felizes juntas e eu observei parada no sinal. Escutava buzinas atrás de mim enquanto observava Helena andar abraçada com a mulher para um carro e entrar nele.

Ela estava segurando em uma cintura que não era minha e apoiando a cabeça em um ombro que não era o meu. Parecia que eu havia levado um soco no estômago.

Não sabia que nosso relacionamento havia chegado nesse estado, pensei que estávamos bem. Dirigi até minha casa com a visão embaçada pelas lágrimas e subi para o meu andar no automático. Não tive forças para mais nada, apenas deixei minha bolsa caída no chão, deitei na minha cama e chorei, chorei até sentir que todas as minhas lágrimas haviam se secado, até a tristeza se transformar em raiva. Foi então que me levantei, peguei uma mala e comecei a jogar as roupas da Helena dentro dela.

Peguei a mala já pronta e me escorei perto da porta, esperando Helena chegar. Meu corpo inteiro tremia e meu coração estava despedaçado. Não acredito que ela teve coragem, havíamos pensado em uma vida inteira juntas, tínhamos uma família e achava que era o bastante para ela, mas pelo visto estava errada.

"Vou almoçar com a minha mãe hoje"

Mentirosa! Maldita mentirosa!

-meu amor, você não vai acreditar... _falou animadamente entrando no apartamento com um sorriso gigantesco. Observei ela deixar a chave junto da minha e colocar a bolsa no chão.

Como a Helena podia me chamar de meu amor e agir naturalmente enquanto tinha acabado de encontrar a amante?

-por que essa mala? Vai pra São Paulo? _perguntou enquanto seu semblante se tornava tristonho.

Aposto que era uma falsa tristeza e na verdade estava feliz por poder ficar com a vagabunda por mais tempo.

Ela se aproximou tentando me dar um selinho mas eu virei o rosto, logo ela se distanciou e me olhou com estranhamento.

-eu não vou pra São Paulo, Helena _respondi seriamente, dessa vez sua expressão era pura confusão.

-então por que essa mala tá aqui? Clara, tá tudo bem? Você tá estranha.

-ela é sua _falei empurrando a mala na direção dela -ela tá aqui porque você vai embora!

-você tá me expulsando? _perguntou em choque e eu fechei ainda mais a cara.

-o que você acha? _fui irônica e vi os olhos dela se encherem de lágrimas.

-Clara, eu saí do meu apartamento pra morar com você... posso pelo menos saber por que?

-porque achei que você iria preferir morar com a vagabunda da sua amante _respondi da forma mais cruel que consegui, mas sentia meu peito doer.

-amante? Você tá louca? _perguntou irritada.

-não me chama de louca! _esbravejei -eu vi, Helena! Não foi ninguém que me contou, eu vi com meus próprios olhos.

-ah é? E o que você viu? Eu ajudando outra aluna com seus exercícios? Não me diga que eu estava ajudando ela a se alongar, que traição! _zombou e eu me senti uma idiota. Ela ainda estava zombando de mim.

-Helena, vai embora dessa casa!!

-eu vou, claro que eu vou. Você tá me acusando de algo que eu não fiz _falou andando para meu quarto e eu segui ela.