10 - dois mil e dezesseis.

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oiiiii galera! omg último cap já 😭 eu não tenho costume de escrever nada muito detalhado tô me tremendo véi


O ar carregava quase uma sensação de luto, tão pesado quanto cem de bigornas de ferro, tão doloroso quanto mil adagas.

Talvez o cheiro metálico de sangue nunca fosse sair das narinas e da pele de Satoru, não importa quantas vezes ele esfregue sabão, quantas vezes ele jogue água fervendo ou até a pele quase pálida ficasse vermelho-carmesim, quase em carne viva. A sensação de culpa nunca sairia do fundo da alma do homem de olhos azuis.

Satoru quase arrastou as mãos em direção ao chuveiro, os cabelos platinados encharcados caindo sobre a testa e alguns fios adentrando os olhos inchados do jovem, desligando o chuveiro. O ar estava embaçado, pela temperatura quase agressiva. Não como se fosse tirar a sensação de sujeira impregnada.

Gojo não ligava mais. Era só como se o sentimento por trás dos nove anos inteiros tivesse sido substituído por um vazio. Não chegava a ser tristeza, nem raiva. Só vazio. Porque não era simples acabar com a vida do seu melhor amigo, vê-lo dar o último suspiro. Ser a pessoa com que ele trocou as últimas palavras.

Todas as perguntas feitas por Satoru nos últimos anos, desde 2006, não haviam sido respondidas. Afinal, o de olhos azuis ainda não sabia nem como Suguru estava vivendo. E Suguru não mais teria a chance de responder todas as perguntas na mente de Gojo. Era quase como se o luto tivesse evoluído para dor física. Porque 10 anos inteiros não são 10 minutos.

Não demorou tanto até que o 'mais forte' começasse a desmoronar. Satoru deu passos arrastados até a escrivaninha, sentando na cadeira afofada de madeira. Quase sem rumo, sem saber o que fazer. Talvez ele tivesse mantido essa parede impenetrável durante tempo demais. Tempo o suficiente para que ele mal lembrasse como era chorar.

A sensação de saudade do que nunca aconteceu era quase humilhante. Gojo poderia sonhar com ele, Suguru e Shoko lecionando na escola. Os três juntos. Ou as diversas formas nas quais ele poderia ter impedido Geto de sair andando sem mais nem menos. No lugar dessas possibilidades que nesse momento, eram quase impossíveis, só sobraram fotos desgastadas. Até porque Shoko estava cada vez mais distante, Suguru agora estava morto e Satoru, bem, era Satoru.

As mãos calejadas folheavam pelas diversas fotos, agora se tornavam apenas memórias turvas. Pode ser que ele nem havia percebido as lágrimas caindo, molhando as bochechas rosadas e os papéis desgastados. Era difícil sustentar a imagem de mais forte. Mas Satoru não podia chorar na frente das crianças dele, dos alunos dele. Não podia chorar perto dos superiores. Não podia chorar nem perto de Suguru. Ele era o mais forte, afinal.

Gojo largou o amontoado de fotos na mesa, as mãos freneticamente procurando por um papel e uma caneta. Não era como se Geto fosse ler essa carta. Mas não era como se ele tivesse tido a oportunidade de ler as outras também. As mãos trêmulas se arrastavam pelo papel, a caneta já falhando pelo uso passado, formando traços quase ilegíveis.

Satoru apenas queria ter vivido uma vida pacífica com Suguru, sem turbulências, Satoru queria ter escutado tudo o que preocupava Suguru. Mas ele acabava ficando tão eufórico perto de Suguru, que acabava não prestando atenção em nada. A alegria que Satoru sentia acabou ofuscando qualquer pensamento ou dúvida de que Suguru estivesse bem. Voltar no tempo agora não era algo que ele pudesse fazer.

O ambiente agora era preenchido com as fungadas abafadas do de olhos azuis, e o barulho da caneta arrastando de forma quase desesperada, frenética pelo papel. Caíam gotas de lágrimas por cima da tinta da caneta, formando pequenas poças, mas tudo isso era ignorável. Era ignorável quando todo sentimento possível que existia no coração de Satoru houvesse sido sobreposto pela tristeza dolorosa. Avassaladora. Não demorou até que os traços formassem frases coerentes. Pelo menos eram as últimas frases que Gojo fosse dizer a Geto.

⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ 31 de dezembro, 2016.

⠀ ⠀ ⠀ Querido Suguru,

Naquela época eu fui deixado pra trás. Queria ter te compensado. Agora tudo dói, dói mais que tudo. Me arrependo de cada segundo que eu não passei do seu lado. Queria ter te dito o quanto eu te amei. Queria ter passado todos os verões, invernos, primaveras e outonos do seu lado.

Suguru, espero que um dia possa me perdoar. Mas ainda sim, espero que caia num descanso eterno. Num sono sem sonhos, que você seja livre assim como desejou. Porque você é meu melhor amigo, nunca vai deixar de ser o único na minha vida. Eu te amo com todo o meu ser. Eu te amo com cada mísero átomo do meu ser. E eu vou conviver com a culpa enquanto eu viver. Perdão.

⠀ ⠀ ⠀ ⠀
⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ Eternamente e infinitamente seu,
⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⠀ Satoru.



GENTE ACABOU 🫦🫦🫦 obrigada a todo mundo que teve coragem de ler até aqui!!! eu ainda vou fazer um capítulo xonxinho só pra falar de uns detalhes que eu adicionei e falar de música também porque tem umas partes que eu adicionei letra de musica pipipopopo ❤️

agradecimentos especiais pra vivi que deu ouvidos a esse surto psicotico que eu tive depois de acordar de um cochilo de duas horas de uma sexta a noite KKDKDJCKKKKKKKKK

✦‌   ׅ    ׂ     🌊   querido    ♡     suguru     |   SATOSUGUOnde histórias criam vida. Descubra agora