FUGA

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A mulher ficou parada enquanto suas pernas tremiam, não sabendo se podia se mexer. O par de olhos cor de âmbar parecia não só encarar seu corpo, sua carne, mas também sua alma. Se sentia devorada apenas com aquele olhar, embora o experimento a sua frente não tivesse feito nada com ela. Ainda... Mesmo assim, seus chifres e garras estavam sujos com sangue de outras pessoas, realçados com obrilho vermelhoda luz de emergência,que piscava no teto. Beatriz, ou Bia, para os amigos, tinha uma arma descansando em suas mãos, mas não se atreveu a apontar para ele. Sabia que precisava de uma arma muito mais potente que a que tinha em mãos para sequer o machucar. Atirar apenas iria irritá-lo e lhe dar motivo para atacar.

— Eu não te machuco e você não me machuca, grandalhão. — Ele bufou, fazendo uma densa fumaça sair de seu nariz, virando a cabeça em curiosidade.

Suas pupilas contraiam e se dilatavam, como as de um papagaio que está decidindo se irá ou não beliscar alguém.

Um grunhido deixou sua garganta. Não era um rosnado ou um ronronar, apenas um som. Suas patas felinas se movendo muito vagarosamente, se aproximando da mulher, como se pisasse em ovos, como um predador espreitando algo, caçando.Sua longa e grossa cauda erguida, como faziam antes de correr ou atacar.

A mulher tremia como uma vara verde ao vento, tentando não molhar suas próprias calças. Notou que ele rapidamente encarou sua cintura, depois voltando a olhar para seu rosto. Olhou para a própria cintura também, notando que ele havia olhado para seu cartão de acesso. É claro! Ele precisava do cartão para sair da instalação! Ela fazia parte da última linha de defesa. Engoliu seco, movendo a mão bem devagar para pegar seu cartão. Notou que suas orelhas ficaram eretas e viradas para frente, atentas. Mostrou um pouco os dentes para lembrá-la de não tentar fazer besteira, mas os escondeu quando ela lhe estendeu o cartão com as mãos trêmulas. Ele abaixou a cauda e se aproximou um pouco menos devagar, estendendo aquela mão enorme, pegando o cartão com a pontinha de seus dedos.Beatriz teve uma boa noção do enorme tamanho daquele macho quando viu a diferença entre o tamanho de suas mãos, tendo que olhar para cima para ver seus olhos, mesmo que ele estivesse abaixado. Não só era ridiculamente alto, como também seus músculos eram muito bem marcados, mesmo com a camada grossa de pelos lilásque ele possuía.

Levou um grande susto quando caiu no chão, puxada pelo tornozelo por sua cauda, e ele se inclinou sobre ela, rugindo e exibindo seus dentes, além de seu hálito radioativo, embaçando sua máscara de oxigênio que protegia seu rosto. Mas ele apenas rugiu. Não mordeu, não bateu, não arranhou. Apenas rugiu. Então correndo em direção à porta, passando o cartão para abrir as portas de metal, e arrebentando a porta de vidro da sala de descontaminação antes de disparar pelo deserto gelado. As armas externas tentaram o pegar, sem sucesso. Era rápido demais para essas tecnologias terráqueas.

Bia tentava respirar normalmente para não embaçar ainda mais sua máscara de oxigênio, mas falhava miseravelmente, ainda tremendo de medo.

Já havia visto os híbridos antes, mas bem de longe, detrás da segurança de um vidroespacial, acima de alguma plataforma, bem longe das áreas de testes. Se perguntava como diabos aquele híbrido havia conseguido passar por toda aquela segurança antes de chegar até ela, mas entendia totalmente ele ter fugido. Não era humano que faziam com ele! Era pior tratado do que um rato de laboratório. Sinceramente, estava feliz por ele, mas obviamente lamentava a morte de tantas pessoas que ele deixou por onde passou.

Ouviu vários passos se aproximando e então viu um esquadrão vindo, junto a uma equipe de paramédicos.

— Fique calma, senhorita. Vamos te limpar, e em seguida lhe levaremos para o hospital. — Apenas acenou positivamente com a cabeça, esperando que a sedassem e que pudesse acordar logo em seu quarto. 

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