A Busca De Um Coração Perdido

| Capítulo 14 |

Fora estranho conversar com Michael. Giovanni sentia que havia algo ali, sutil e impossível, ao menos para ele, de se notar; mas quando Felicity e Bianca juntaram-se a eles mais uma vez, percebeu que a ruiva desvendara com facilidade e, ele pode jurar pelo tom leve da voz doce, felicidade tudo sobre os noivos. 

Os quatro conversaram por mais um pouco sobre assuntos aleatórios, se perdendo no tempo. Os noivos esqueceram o dever de recepcionar os convidados, até que Bianca notasse seu erro e tornasse a arrastar Michael pelo salão.

— Ela está toda desconcertada — Felicity deu um longo suspiro — Me diga, milorde, no sentido inapropriado da coisa, seu primo tem muita experiência com damas?

Giovanni se esforçou em manter seu queixo no lugar pela surpresa. Ele respirou, mas quando falhou em se conter, disfarçou a risada com uma sequência de tosses, a mão fechada sobre a boca.

— Não me diga ser um puritano! Se vai me dizer que uma lady não deve tocar nesse assunto…

— Não iria dizer isso. — ele estalou a língua no céu da boca —- Apenas não desejo fazer uma lista para a senhorita de todas as vezes que meu primo não conseguiu manter as calças no lugar.

Foi a vez de Felicity tossir enquanto olhava ao seu redor desesperadamente. Dois pares de casais próximos levaram o olhar até ela, mas rapidamente o desviaram. Desatenta, a ruiva notou a aproximação repentina do Marquês apenas quando o hálito quente tocou seus ouvidos.

— É uma puritana, milady?  Creio que usei uma linguagem extremamente limpa. Prefere “não desejo fazer uma lista das vezes que meu primo não conseguiu manter o pa”…

— O que diabos!? — Felicity afastou-se e em sonoro pulo, tendo a certeza de que suas bochechas deveriam estar do exato tom de seu cabelo.  Ela respirou e respirou até que murmurou, desconcertada: — O que diabos deu em você? Nunca, absolutamente nunca, revidou minhas provocações.

Os lábios alheios curvaram-se extensamente. Ele levantou três dedos.

— Primeiro, parei de tentar me livrar da senhorita. Segundo, bebida. Agora…

Crash!

Um estalo de vidro se quebrando soou no centro do salão, cortando a fala do moreno e arrastando a atenção de Felicity na direção do acidente de encontro a uma dama confusa. Não demorou para a jovem desastrada desculpar-se freneticamente com todos por derrubar a taça. Lady Bellingham admirou a cena com um sorriso nos lábios.

— Uma fofa, é raro que se desculpem por coisas tão pequenas. Não acha, milorde? — A ruiva virou-se para Giovanni esperando deparar-se com o rosto neutro, mas assustou-se ao encontrá-lo com expressão dolorosa enquanto apertava com força o braço esquerdo.

Em segundos, a luva branca do Marquês foi manchada pelo sangue fresco. Ao notar, Felicity não pensou duas vezes antes de agir; se aproximou e cobriu a mão do homem com as suas.

— Milorde? — Chamou, preocupada.
Giovanni respirou lentamente em um ritmo cronometrado. Ela notou o esforço alheio para se acalmar e agradeceu quando a mão coberta por sangue perdeu força.

Para o Marquês era sempre assim. O som do maldito vidro. Como era possível? Segundos atrás ele estava bem. O som do maldito vidro. Gatilho para tudo que esquecera por conversar com ela voltar como um furacão.

Não.

Não dessa vez.

Que o som e as preocupações retornassem para a profundeza do Inferno, ele não seria atrapalhado por seus pensamentos novamente. Todas as situações com seu pai, o homem que havia o presenteado com um pesadelo, quando criança. Não naquele momento. Ainda havia coisas que precisava fazer e não aceitaria passar mais tempo negando parte de seu presente pelo passado.