O amor de Leone

Encontro inesperado

– Senhor, desculpe a interrupção, mas há uma mulher tentando entrar na reserva.

– Uma mulher?

– Sim, uma humana, e parece totalmente desinformada sobre o que é Versatilia - disse o segurança.

– Se for assim, não há motivo para preocupação. Eu posso resolver isso.

– Já faz quase dois anos desde que um humano procurou abrigo na reserva. Iremos juntos, Antonia.

  Durante o caminho, Leone sentia seu leão interior ficar cada vez mais inquieto. À medida que se aproximavam da sala para onde o segurança os guiava, o leão de Leone ficava mais agitado, tentando avançar mais rápido em direção a um cheiro doce que se tornava cada vez mais forte. Essa fragrância intensa deixava seu leão quase fora de controle, despertando um instinto primal que Leone lutava para manter sob controle.

  Cada passo adiante parecia intensificar a conexão entre ele e seu leão, fazendo seu coração bater mais rápido e sua respiração se tornar irregular. O cheiro doce parecia prometer algo irresistível, algo que Leone precisava descobrir. Nesse ritmo, foi o primeiro a chegar na sala, quase derrubando a porta. Seu olhar pousou diretamente em uma mulher pequena, com a pele escura, cabelos longos e cacheados, e um rosto delicado, que parecia surpresa e já se escondia atrás de uma cadeira.

– Minha! – Declarou Leone.

– O que? – Eliza disse, assustada e sem entender.

  Antonia logo interveio.

– Ian, por favor, leve Leone. Deixe que eu faço isso.

– Antonia, mas…

– Sem mais, Leone! – Disse com firmeza – Não é o momento. Por favor!

  Leone não debateu, retirando-se sem tirar os olhos de sua companheira. Antonia soltou um suspiro e logo sorriu, tentando que seu gesto acalmasse a expressão assustada de Eliza.

– Mil desculpas! – Disse, sentando-se na poltrona atrás da mesa em frente a Eliza. – Sente-se, não tenha medo, foi apenas um imprevisto.

– Ah, sim, claro! – Eliza sentou-se, ainda nervosa pelo susto.

– Deixe-me apresentar, sou Antonia Leone!

– Eliza Lee.

– Eliza, o que te traz a Versatilia?

– Eu preciso de um emprego, ou de qualquer oportunidade remunerada. Sou recém-formada em pedagogia e não consegui emprego na minha cidade.

– Compreendo, mas há tantas cidades próximas, por que escolheu Versatilia? Você conhece nossa cidade?

  Eliza, claramente nervosa com as perguntas, não esperava ser tão questionada.

– Não, não conheço. Cheguei a pesquisar, mas não há muita informação na internet. Eu não tenho muita opção, não tenho dinheiro para me manter por muito tempo em Centralina e Versatilia tinha a passagem mais barata. – Sorriu sem graça.

– Você tem um currículo?

– Sim, eu trouxe. – Disse, pegando uma pasta transparente de sua mala e retirando uma folha. – Aqui.

– Deixe-me ver.

  Ao analisar o currículo, Antonia podia sentir toda a tensão que Eliza emanava. Ela realmente necessitava de ajuda, mas também era a companheira do seu irmão, então teria que ajudá-la de alguma forma. Porém, havia o risco de Eliza descobrir a verdade sobre Versatilia e ficar assustada.

– Eliza, estamos precisando de alguém para ajudar na escola. – Eliza sorriu, animada. – Mas acredito que ainda temos muito o que conversar. As coisas aqui em Versatilia são diferentes do que está acostumada, e saiba que, se quer ficar, terá que respeitar.

– Diferentes como?

– Não há com o que se preocupar. Acredito que deve estar cansada.

– Estou. Pretendo ir para um hotel, ou até mesmo uma pensão mais barata.

– Então, te levarei até o local onde possa ficar por enquanto. Não se preocupe com dinheiro. – Levantou-se – Amanhã, irei até você para que possamos conversar melhor, tudo bem?

  Eliza assentiu em confirmação e deixou-se guiar por Antonia. Durante o caminho, pode-se observar que Versatilia era uma cidade mais urbanizada que Centralina, com uma grande quantidade de áreas arborizadas que transmitiam uma sensação de paz. Ao chegarem ao local, uma grande cabana, foram recebidas por uma jovem mulher.

– Antonia, que surpresa você aqui!

– Olá, Dona Diana, como vai a senhora?

– Muito bem, querida. Vejo que você também – Sorriu gentil e pousou seu olhar em Eliza, que sorriu timidamente. – Vejo que trouxe alguém novo.

– Sim, esta é Eliza. Ela veio de Centralina e precisa de um lugar para ficar por um tempo.

– Ah, que maravilha. Entre, meninas.

  Dona Diana não pôde disfarçar sua surpresa ao ver Eliza. Fazia um bom tempo que um humano não conseguia entrar em Versatilia, e durante o tempo que Antonia ficou em sua cabana, ambas se olhavam como se prometessem voltar para explicar melhor sobre o que se passava. Mas parecia tudo bem. Diana sentia que Eliza não era uma pessoa ruim, muito pelo contrário. O seu cheiro, seu jeito, falavam muito sobre ela. Então, logo tratou de acompanhá-la até um quarto muito confortável.

  Antonia, ao chegar na cabana do seu irmão, foi interrogada antes mesmo de passar pela porta.

– Onde ela está? – Interrogou Leone, que só faltou bufar de raiva quando a irmã entrou e sentou-se no sofá com a maior tranquilidade do mundo.

– Ela está bem. Amanhã voltarei a encontrá-la para que possamos conversar um pouco mais, e também informar sobre onde está.

– Eu posso fazer isso!

– Não, Leone!

– Como não, Antonia? Ela é minha companheira, e sabe que temos a necessidade de estar perto dos nossos companheiros. Não pode me impedir.

– Realmente não posso, mas sabe de outra coisa? Você também não pode obrigá- la a ficar em Versatilia quando ela descobrir que está em uma cidade shifter e é destinada a um homem que por um acaso se transforma em um leão que não vê a hora de marcá-la como dele. – Antonia diz em um fôlego só, fazendo com que os ombros de Leone caiam e faça com que ele se preocupe com o que sua companheira vai pensar dele. – Eu sei que não vai ser tão fácil para você, mas já passou tantos anos sem a sua companheira agora que encontrou ela não pode assustá-la.

  Leone não debateu, apenas ouviu a sua irmã, afinal seria o melhor a fazer, apesar de não debater obviamente iria tentar de todas as formas estar sempre próxima a sua companheira.