Medo

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Solange narrando

Reviro os olhos e salto do carro, caminhando rapidamente para casa — não aguento mais tanta falação.

Após a dança na academia com aquele rapaz, meu pai e meu irmão surtaram, como se tivessem me pegado transando com ele:

— SOLANGEEEE — meu pai continua gritando, querendo falar mais, e eu reviro os olhos apenas correndo mais.

Adentro nossa casa e minha mãe sorri alegremente enquanto se levanta do sofá, eu desejaria ter sua paciência um dia, ela é a única que aguenta meu pai e os surtos dele:

— Oi Sol, como foi seu dia, filha?

— Posso te contar depois? Por favor, dá um jeito no seu marido agora, ele e seu filho estão surtando — digo, e logo a dupla exagerada chega.

— O que foi agora? — ela questiona, e meu pai me encara com reprovação.

— Ravi deixou a Sol um minuto sozinha, e quando voltamos, ela estava grudadinha com um dos meus lutadores. Ele é meu soldado, amor — ele fala bravo, e minha mãe suspira.

— Eu vou repetir isso só mais uma vez, Sol é adulta, ela já tem vinte anos, querido. Ela pode fazer o que quiser.

— Não, ela é nossa bebê. Esses dias mesmo foi o surto de querer morar sozinha, agora vai querer um namorado?

— Eu falei para a gente colocar ela no convento de ensino médio, ela já finalizava ficando na igreja em celibato — meu irmão diz, e bato nas suas costas.

— Sem bater no seu irmão. E vocês dois, deixem ela. Não sabem que quanto mais proíbem, mais legal é?

— Mas se eu libero, é capaz dela aceitar — meu pai afirma exageradamente, e eu reviro os olhos.

— Cansei de vocês dois — digo exausta, indo até o meu quarto.

Eu tentei me mudar no ano passado, mas meu pai ficou tão mal que dizia ter até depressão. Ficou sem comer, fez apelo nas redes sociais; todos os homens da família queriam me amarrar nessa casa.

Mas quando vi meu pai triste de verdade, combinei com ele de ficar mais um ano aqui, e bem... está para vencer essa data.

Chego em meu quarto, trancando a porta. Retiro as minhas roupas e, ainda sem ligar a luz, me assusto com a janela aberta.

A tranco com pressa e vou ao banheiro, cantarolando a música que dancei hoje, ainda animada pelo momento que tive.

— Eu não estou louca, o gatinho está interessado em mim — penso enquanto ligo o chuveiro quente, respirando cansada. Meus pés ardem um pouquinho, e vejo os meus calos já cicatrizados, com um vermelho em volta graças ao esforço de hoje, a única coisa não bonita da bailarina é o seu pé.

[...]

Retorno ao meu quarto enrolada na toalha, acendo as luzes procurando um pijama quentinho. Batem na porta, e eu libero a entrada:

— Sou eu, filha — meu pai diz, colocando a sua cabeça no meu quarto.

Pego minhas roupas, vou ao banheiro rapidamente e retorno já arrumada. Ele está sentado na minha cama, com lençóis rosa, me olhando todo tristonho:

— Me desculpa pelos meus surtos de ciúmes, mas é que você é minha princesinha. É boa demais para os meus lutadores, nenhum lutador presta.

— Mas você foi lutador por muitos anos, e casou com minha mãe — afirmo, e ele sorri.

— Exatamente, por isso eu sei do que estou falando. Sua mãe caiu nas minhas garras e eu nunca mais a deixei sair. Eu fui melhorando com o tempo; eu era só um garoto mimado e com corpo bonito.

A Bailarina do Lutador - DANGEROnde histórias criam vida. Descubra agora