Querida Olívia

sem ar

Domingo às 22:37

Hoje fazem exatamente três anos que saí de São Francisco para San Diego,no começo foi bem difícil me acostumar,mas a casa que meus pais decidiram morar é maravilhosa,e o melhor de tudo o meu quarto tem uma uma vista espetacular,é a primeira vez que eu me senti confortável em um lugar,depois que saí da casa da minha avó.

O céu está maravilhoso,as estrelas estão brilhantes como nunca,e a brisa que vem da rua faz meu corpo inteiro se arrepiar mas me traz uma sensação de paz, isso é tão bom pois nos últimos dias tudo que eu não estou tendo é paz,já que as aulas voltam na terça feira,e ainda não tem nada pronto,eu não sou de me importar com cabelo e roupas mas eu preciso estar apresentável para o primeiro dia de aula no ensino médio, não que estar bonita signifique que as coisas vão mudar e eu vou virar a pessoa mais popular do ensino médio mas por outro lado pode ser que ajude em alguma coisa.
Tantas opções de roupa e ao mesmo tempo nenhuma,esse é o lado ruim de não se indentificar com nenhum estilo, ser indecisa também piora completamente a situação, sempre escolho o pior, infelizmente.
Acabei escolhendo o mesmo de sempre,é melhor, não tem erro,quer dizer,eu acho que não tem,Jens rasgado e um suéter preto mais básico possível,meu cabelo vai estar solto como sempre,pronto roupa escolhida!
Agora é só esperar mais algumas horas para tudo começar de novo,eu estou confiante que as coisas que esse ano vai ser melhor. Bateu uma nostalgia de repente,de quando eu era criança e nem me preocupava com nada,só pensava na hora do recreio para brincar na terra e voltar toda suja para casa,naquele tempo eu não sabia mas era muito feliz com tão pouco,quem dera existisse o poder de voltar no tempo.
Está no contrato que você assina quando vira adolescente,lembrar de momentos bons e ficar triste por não poder voltar atrás.

Segunda-feira às 23:43

Já faz algumas semanas que eu estou com dificuldade para dormir, o que é péssimo para meu humor,sempre acordo mau humorada e com a pele oleosa,minha mãe insiste em fazer um "cházinho para acalmar os nervos" como ela mesma diz,mas para falar a verdade não está resolvendo de nada, aliás só está piorando a minha situação. Talvez seja só ansiedade mesmo,ou preocupação de dar tudo errado amanhã.
Sempre que fico com insônia eu vou até a janela observar as estrelas,o céu me conforta como nenhuma outra coisa, é uma espécie de mágica inexplicável, só sei que me ajuda muito,eu imagino assim que a gente somos como um céu estrelado,e que as estrelas são como nossos sentimentos,até que isso faz sentido já que tem dias que o céu está repleto de estrelas, completamente iluminado,é nesse dias que o céu fica bonito e mistérioso,parece que ele está feliz, já em outros dias ele está sombrio,com tom negro,sem nenhuma estrela,parecendo que o céu está triste. E quando olho para ele, sinto que sinto todas as coisas mais profundas que existem dentro do meu coração,e que eu não consigo dizer para ninguém.
E por outro lado olhar para o céu me ajuda a ficar com sono nesses dias de insônia.

-Beatrice, Beatrice, Beatrice...
Aquela voz ecoava na minha cabeça cada vez mais alto.
-Beatrice, Beatrice... Cadê você?

Eu estou aqui novamente,nessa floresta escura,no frio,e com os pés machucados de tanto andar por cima daqueles galhos,mesmo assim continuo vagando sem rumo algum atrás daquela voz que me parece tão familiar,foi quando ela me puxou pelo  braço sem chance nenhuma de me esquivar, eu só consigo ver sua pele branca tocando na minha, de repente eu estou com meu corpo todo dentro da água,afundando com aquela mulher,cada segundo que se passa eu fico sem ar, não me importo porque de uma forma muito estranha aquela desconhecida me trás a vida,outro flashback dessa vez estou me olhando em um espelho dourado imerso e através dele vejo ela,no mesmo instante sinto uma pontada no meu coração, automaticamente ele acelera,olhando para ela sinto o mesmo sentimento que eu sentia quando via Elise só que mais intenso,um nó na minha garganta se forma,meu oxigênio desaparece no meio daquela escuridão,dessa vez é ela que observa,seus olhos atravessa o meu corpo, inexplicávelmente minha respiração volta,é como se eu necessitasse dela para respirar.
-Quem é você?por favor fala comigo.
-Beatrice, você veio,eu estava te esperando...