capítulo único

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Quando Vitório chutou a porta do quarto para fechá-la num estrondo seco, Olívia já tinha perdido o rumo. Estava eufórica, seus dedos passavam pelo corpo dele querendo mais e mais, e sentia-se tremer tamanha era a ansiedade por... Tudo. Estava se casando com Vitório, afinal. Finalmente, ela pensava. Finalmente com ele para sempre. Finalmente tudo ajeitado. Sem mais joguinhos e sem mais provocações: finalmente, amor. Porque, no fim das contas, era tudo o que ela sempre quis, desde muito nova. Amor imenso, amor de romance antigo, amor de fazer borbulhar o sangue — este que ela só conhecia lendo e achava ser invenção para entreter jovens moças como ela um dia foi. Mas o jeito que ele a beijava provava que tudo aquilo era possível, que quando os autores escrevem que a moça se derretia nos braços do amado, era porque a sensação era exatamente essa. As pernas bambeavam, os pelos se arrepiavam, e os beijos molhados trocados pareciam dizer que queriam grudar um no outro para sempre.

O tempo já nem parecia existir quando Olívia sentiu as costas se acomodarem no colchão, sem parar de beijá-lo. Mas ele parou, por um breve momento, e encarou-a tão profundamente que, ali sim, parecia que o casamento já estava consumado. Nenhuma palavra precisou ser trocada, porque os olhos e boca de Olívia e Vitório expressavam tudo o que tinha a ser esclarecido: é você que eu quero para toda a vida. A pausa se estendeu por mais alguns segundos, os dois sorrindo feito bobos, decerto desacreditados da enorme felicidade a que estavam prestes a ter pelo resto da vida, enfim felizes e descansados depois das tristezas das últimas semanas. Vitório teve que piscar várias vezes para acreditar que aquilo não era um sonho, que ela realmente estava à frente dele. Depois de achar que a tinha perdido para sempre, tê-la ali era a realização de todas as suas rasas orações. O que sentia por ela fervia dentro de si, e estava longe de ser considerado sagrado, mas Vitório não conseguia deixar de pensar que sim - ela era praticamente uma benção.

Já Olívia estava radiante, parecia ter engolido o sol e deixado que seus raios de luz despontassem de seu corpo. Casada, e com a pessoa que amava. Casada com alguém que também a amava profundamente, que faria de tudo por ela. Dessa vez, o casamento não teve véu nem grinalda, nem jóias sobre seu colo nem uma orquestra a acompanhando ao entrar na igreja — mas a falta desses elementos não a fazia se sentir menos casada. Devia ser pecado estar tão feliz daquele jeito, devia ser pecado querê-lo tanto — mas ela nem se importava mais com isso. Ele a beijou novamente, devagar como o primeiro e profundo o suficiente como se fosse o último. Devagar, provando nela o gosto de um amor sincero e intenso, sentindo os dedos dela tocarem suas costas e puxá-lo para mais perto. As línguas se encontraram e Vitório sentiu-se perder o fôlego. Passou a beijar o rosto dela até perder-se na curva de seu pescoço. Ela tinha um perfume doce pelo qual ele era encantado, e não conseguiu evitar o sorriso que surgiu em seu rosto. Olívia sorriu também, apertando mais os braços ao redor dele. Tudo parecia ficar mais lento e profundo, o tempo derretendo por seus dedos enquanto buscava a boca dele para beijá-lo novamente. Mas se Olívia estava agora se deliciando com a lentidão, Vitório se revirava por dentro de tanta ansiedade. Tantas vezes eles já estiveram naquele mesmo quarto daquele mesmo jeito, ele sobre ela na cama se beijando como se o mundo dependesse daquilo — e tantas vezes eles tiveram de se controlar. Mas agora nada os impedia de nada — e Olívia bem sentia um fiozinho de medo passar por seu corpo, mas imediatamente afastando qualquer pensamento ruim no momento em que abriu os olhos e o viu sorrindo para ela ali de tão perto. Ela perdeu a respiração por um momento.

"Acho melhor..." Ela percebeu que falava com dificuldade, a respiração já descompassada. Tentou se acalmar. "...Fechar a porta."

Vitório assentiu, levantando-se de cima dela e a deixando se levantar também para passar a chave na porta. Claro que nenhum dos filhos dela iria entrar no quarto, mas era melhor prevenir. Olívia ficou parada com as costas apoiadas na porta, tentando deixar sua respiração se normalizar, mas parecia impossível já que Vitório continuava olhando para ela daquele jeito que a fazia tremer da cabeça aos pés. Sentia-se imensamente amada, e profundamente desejada. Aquela troca de olhares parecia dizer tudo o que era impossível pôr em palavras, e Olívia não conseguiria desviar os olhos dos dele nem se quisesse. Foi descendo dos saltos lentamente, e caminhou devagar na direção dele. Tudo dessa vez muito lento, sem conseguirem parar de se olhar daquele jeito tão intenso. Vitório sentou na cama e tirou os próprios sapatos e meias, esperando que ela chegasse mais perto dele, até ela estar bem perto, inclinando-se para baixo para beijá-lo. Ela respirando fundo quando ele passou as mãos pelo corpo dela procurando o zíper do vestido, deslizando-o para baixo enquanto ela tentava, com os dedos trêmulos, abrir os botões da camisa dele.

Finalmente, amorOnde histórias criam vida. Descubra agora