Nova primavera - Julho, 1919
O vento soprava balançando os fios de cabelo acobreados suavemente, fechava o casaco grosso com um pouco de força ao redor do corpo, os dedos da mão pressionados juntos tentando se manter aquecido.
O som do tilintar das primeiras gotas de chuva na terra, faziam o cenário de nova primavera se tornar ainda mais gélido.
Subiu os poucos degraus da delegacia em passos rápidos, puxando a porta preta com um pouco de força para abrir.
O piso de madeira polido tão conhecido, o cheiro de café fresco e o burburinho suave sobre sua volta, sentia falta daquele lugar que o criou.
"Kelvin" ouve seu nome ser chamado por uma voz mais velha.
"Delegado Marino" responde com um sorriso suave, o homem era alto, cabelos claros e pele leitosa, há muito trabalhava naquela delegacia.
"Vamos para minha sala" o homem conduz com um gesto gentil e ambos seguem em passos rápidos para uma sala na lateral da delegacia.
A sala era pequena, uma parede de madeira a separava das demais mesas, que ocupavam o salão com os poucos policiais da região.
Ambos os homens se acomodaram frente a frente na mesa de madeira polida.
"O que te trouxe de volta a casa Kelvin?" Perguntou Marino um pouco surpreso, nunca imaginou que o menino voltaria a cidade que tanto o fez mal.
"Eu trouxe ordens da capital" disse Kelvin abrindo o bolso interno de seu sobretudo e tirando um papel timbrado. "Vou entrar na operação Ramiro Neves"
"Você não vai mesmo" Marino fala ríspido, puxando o papel com um pouco de força "é uma operação extremamente perigosa"
"Eu entendo sua preocupação com a minha segurança Marino, mas eu já tenho a liberação que preciso" Kelvin fala irredutível, girando seu anel de sinete no dedo mínimo como um toque nervoso. "Eu estou indo para o Naitenday hoje"
Ambos os homens se olham com seriedade, a tensão pairando no ar pela fala.
"Faça como quiser" Marino fala cansado, sabendo da teimosia de Kelvin "mas tome cuidado, sua vida está em jogo"
Kelvin assente, agradecendo mentalmente a preocupação e se levantando em direção a porta de saída rapidamente.
Quanto menos pessoas sabendo quem ele era, melhor.
Os passos de saída pela delegacia foram rápidos, e logo estava na rua novamente.
A rua úmida e o tilintar de cavalos passando faziam o clima da cidade ser ainda mais hostil.
Kelvin sentia falta da aura de escuridão de Nova Primavera, combinava com ele.Seguiu em passos largos em direção a uma taberna antiga e muito frequentada da região.
O local era escuro, piso polido e um bar com milhares de garrafas de bebidas dispostas.
O sinete tocou quando empurrou a porta com pouca força e se abriu, as cadeiras estavam ainda viradas nas mesas e uma mulher passava apressada o pano pelo chão.
"Estamos fechados" ela grita sem nem mesmo olhar e Kelvin se assusta um pouco.
"Perdoe. Meu nome é Kelvin, eu fui contratado pela Cândida para ajudar" Fala rápido e a mulher o olha.
"Você está muito bem vestido para um garoto de programa, aqui não usamos seda" A mulher fala grosseiramente, o fitando dos pés a cabeça.
Kelvin vestia uma calça de linho justa, juntamente com uma bota marrom, uma camisa de botão de seda pura e um sobretudo de cores claras. Estava elegante,
como sempre."Eu não sou garoto de programa" responde rápido, sem nem mesmo pensar "eu vou trabalhar no bar"
"A Cândida está no segundo andar" a mulher fala e Kelvin se permite analisa-la por alguns segundos.
O cabelo marrom e cacheado bagunçados em um coque solto, as vestes de segunda mão e um pouco gastas, mas possuía uma clareza que sabia exatamente sobre o tecido de sua roupa.
"Qual seu nome?" Pergunta ao passar do lado da mulher.
"Luana" reponde sem importância, seguindo passando pano pelo salão largo.
Kelvin sobe as escadas no fundo do salão, levando a um emaranhado de portas fechadas.
O som de uma voz feminina potente o chamou atenção, o fazendo seguir em direção a porta entreaberta.
"Cândida?" Pergunta inseguro e logo é respondido o dizendo para entrar.
O quarto simples possuía uma cama de casal no centro e uma pequena escrivaninha lateral, onde se encontravam diversas bitucas de cigarro.
A mulher de meia idade estava encostada na cama fumando e folheando um jornal, que Kelvin nota ser de algumas semanas atrás.
"Eu sou o Kelvin, enviei um telegrama alguns meses atrás em busca de um emprego." Responde inseguro e a mulher vira para ele, ela tinha olhos claros e um cabelo amarronzado.
"Claro, claro" responde antes de tragar o cigarro "vi que você estava na capital, o que te trás a Nova Primavera?"
"Eu nasci aqui e me mudei muito cedo, com a morte de meus pais eu não tinha mais como ficar" responde brevemente, não podia aumentar muito a história para não correr riscos.
"A vida na cidade grande realmente tem seu preço menino, ainda mais pelos que não são casados." Fala suspirando com pesar pelo menino tão bonito "seus pais não te casaram antes de partirem?"
"Eles não tiveram a chance" responde brevemente, pois era a realidade.
"Entendo" fala simples "Você pode ficar no bar, você disse que não era garoto de programa, mas terá um quarto para quando quiser começar"
Kelvin tosse apavorado com a possibilidade, ele não era assim e não pretendia deixar a missão chegar neste ponto nunca.
A mulher sorri pela inocência do menino em relação ao mundo que estava entrando, e ambos descem para começar a organização para abertura do bar.
As poucas cadeiras foram viradas e Cândida o explicou mais sobre as bebidas, por mais que ele já soubesse, se fez de desentendido muitas vezes.
A noite caiu e com ela os homens chegavam em bandos para beber, os copos eram enchidos rapidamente e Kelvin era admirado por todos.
Tentava se manter longe das provocações e apenas fazer seu trabalho silenciosamente.
A porta se abriu com um tilintar e logo as vozes dos homens alvoroçados diminuíram.
Um homen de terno preto bem alinhado, pele morena, barba espessa e cabelos encaracolados entra portando uma maleta.
O caminho até o balcão do bar é aberto pela multidão e ele chega até a bancada de madeira escura, parando de frente a Kelvin.
"Uma garrafa de Whisky" fala ríspido, puxando do bolso um cigarro e o acendendo.
"Seja o que for, é por conta da casa" Cândida fala de sua cadeira na lateral do bar e Kelvin assente.
"A garrafa toda?" Pergunta e o homem balança a cabeça em concordância.
Kelvin se vira, puxando uma garrafa do fundo da prateleira que ainda estava lacrada.
"Cândida disse que é por conta da casa" Kelvin fala entregando a garrafa ao homem.
"Você é prostituta?" Pergunta o homem genuínamente e Kelvin se assusta pela falta de pudor do homem "se não for, você está no lugar errado."
O homem vira as costas e some como névoa em meio a multidão que ocupava o bar.
Kelvin se vira e em passos largos vai em direção a Cândida na lateral do bar.
"Quem é este?" Pergunta com curiosidade.
"Olha Kelvin, tome cuidado, não fale muito com este homen. Se ele resolver deitar com você, eu não poderei fazer nada sobre." Cândida adverte e Kelvin sabia que tinha achado sua pessoa.
Ele iria brincar com fogo, e não tinha medo de se queimar.
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Peaky Blinders (Kelmiro AU)
FanfictionKelvin sempre foi convicto de seus princípios, criado para ser o policial perfeito e comandar a polícia de Nova Primavera. Quando é enviado para uma missão disfarçado de garçom no Naitenday para capturar o líder da maior gangue da região, Ramiro Ne...