Los Angeles - Anos atrás.
Na antiguidade, os gregos obtinham um conceito sobre belo, isso foi antes da modernidade tornar o belo tão subjetivo, era uma coisa única, hoje, não temos conhecimento do critério usado pelos povos antigos para determinar a beleza. O que eu sabia era que quando olhava para ela, tinha a certeza de que havia encontrado o critério. Louise havia adormecido como um anjo, sua expressão era de uma tranquilidade desejável, os fios de cabelo se misturavam entre os lençóis brancos, e brilhavam a cada vez que o vento atravessava as cortinas. O relógio apontava quatro e cinquenta da manhã, o sol estava nascendo quando me dei conta das horas que passei apenas observando o sono profundo da mulher ao meu lado. A luz do dia pairava em suas costas, revelando os pequenos pelos dourados na extensão de sua coluna, tão claros que sobressaíam-se iluminando a tatuagem que ali se fazia presente. Eu não poderia compreender uma palavra escrita, mas tinha consciência que beirava algo extraordinário, a ponto de ser escolhido para eterniza-la em sua pele. Os símbolos, ou escrita, eram filosofia hindu ou budista, espíritos femininos das nuvens e das águas. Nada que de fato eu saiba, ela quem havia me explicado antes de adormecer, essa seria a primeira vez que presenciei algo tão íntimo e sagrado como sua espiritualidade, a observando era possível notar em sua áurea, tudo era luz e beleza. Passar horas analisando os traços de seu rosto impecável, era uma obsessão para mim, tudo se encaixava perfeitamente. Cada parte ornava de forma surpreendente com as outras, eram as características mais marcantes e belas que meus olhos já presenciaram. Seus cílios eram longos, curvados, o nariz levemente empinado, os lábios desenhados e rosados, até mesmo as pequenas marcas e rugas entravam em harmonia com o resto, para mim, a mulher mais bonita existente.
O sentimento de impotência e tristeza me invadiam. Dilacerando meu peito, minhas lágrimas caiam lentamente sobre os lençóis, enquanto eu fitava a pessoa que deu sentido ao meu mundo e me fez sentir a vida como nunca alguém sentiu um dia, tudo isso em tão pouco tempo. Em seu interior, ela esperava algo assim de mim, mesmo que não agora, acredito que estava ciente das possibilidades. Ao sair, senti medo de ter feito algum barulho, verificando pela brecha da porta, pude ver Louise, que se movia mansa e impassível, as pálpebras quase fechadas devido à luz, se esticava e percebia aos poucos a falta da minha presença. Subitamente, seus olhos estavam vermelhos, e o queixo preso entre seus joelhos. Me parecia uma dor tão grande que lhe faltava ar, lágrimas pesadas e incessantes molhavam seu rosto e corpo inteiro. Encostei a porta com calma e me virei adentrando o elevador do hotel. O absurdo silêncio de seu desespero, era agora, algo dolorosamente sacramentado em meu íntimo.
Da janela do carro, era possível vê-la debruçada na sacada, sua expressão completamente vazia. Sendo a primeira vez que via os olhos tão azuis em uma escuridão completa, os possíveis espíritos que a rondavam agora eram feitos por nuvens carregadas. Quanto mais o carro se afastava, a dor aumentava mais. E o que eu poderia fazer? Tinha sido uma decisão racional, o coração não me importava, voltar para o meu marido e meu filho, isso me importava. Na mesa do hotel, deixei suas passagens de volta para casa, na semana seguinte, qualquer boate que eu pisasse em Nova York a encontraria. As manchetes no jornal, páginas de fofoca, pareciam aparecer para mim deliberadamente.
Sempre observando de longe, meses depois, ficou nítido que ela estava feliz novamente, esperei isso por dias na esperança de finalmente evitar qualquer informação sobre. O intuito era conseguir que seus olhos avermelhados, que a infinidade de tons de azul escuro, desaparecesse da minha mente. Meus motivos foram apenas meus, nada nunca foi justificado à ninguém, deixei que o mundo caísse, que todos achassem o que bem quisessem. Me perguntava todos os dias desde que entrei naquele carro a mesma coisa, os pesadelos eram os mesmos. Se algum dia eu buscar pelo amor? A encontraria de novo?
New York City - Dias atuais - 4:50 AM
Cate Point Of View
O barulho incessante do despertador ecoava pelo quarto, uma dor tomava conta da minha cabeça, forte e invasiva, estava me impedindo de abrir os olhos. Meu marido levantava da cama, eu podia perceber aos poucos a ausência de seu peso no colchão, Chris viaja hoje, finalmente teria tempo e espaço para mim, o que ele faria em outro país não me interessava, suas mentiras e viagens repentinas eram a causa de uma paz rara. A partir de agora, eu fingiria estar em sono profundo, até que precisasse abrir os olhos e me despedir, fingindo estar absurdamente chateada com sua ida, quando na verdade estava agradecendo em milhões de idiomas.
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Pretender
ФанфикO caos se instala na vida de Madonna Ciccone quando a cantora decide, mais uma vez, se aventurar no mundo da atuação. E por acaso, uma de suas antigas amantes, de um passado próximo e doloroso, estará no elenco. É possível que alguém consiga abalar...