A maldição- 1

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Wednesday estava fazendo um péssimo trabalho fingindo que estava tudo bem, e Enid não sabia mais o que fazer.

Ela perguntou se estava tudo bem, tentou se aproximar, mas Wednesday não cedeu. A garota a estava ignorando completamente.

A shifter estava se sentindo um pouco culpada após o incidente com Pierre, ela não queria ter agido de forma tão possessiva com Enid quando elas nem estavam em um relacionamento. Mas era impossível combater a fúria da maldição Addams.

Então ela decidiu evitar Enid, pois não queria que a garota se sentisse insegura perto dela. Ela sabia que a loira não gostava dela do mesmo jeito que ela, e isso estava fazendo seu coração corroer lentamente. Literalmente.

A rejeição era iminente, a maldição de sua família já estava cobrando seu preço neste caso e fazendo-a se sentir mal fisicamente. Afastar-se era a melhor maneira de lidar com isso na visão da gótica, assim Enid não sofreria muito com sua partida e não se culparia.

Sentada no telhado da escola, Wednesday passou a mão na bola de cristal e alguns segundos se passaram antes que seus pais atendessem. Ela respirou fundo, preparando-se para o que viria a seguir.

-Mãe, pai, a maldição me pegou.

-Nós já sabíamos. - Sua mãe respondeu.

-Presumivelmente. Estou ligando para me despedir, pois Enid provavelmente me rejeitará. - Seus pais fizeram uma careta com isso.

-Por que você acha isso, Tormenta? - Gomez perguntou.

-Ela sabe que estou sob o domínio da maldição e nunca tentou fazer qualquer esforço para aceitar meus cortejos. Na verdade, ela os ignora e finge que não há nada acontecendo enquanto eu luto e mostro meu amor por ela cada dia mais. estou evitando-a para que minha partida seja mais fácil para todos.

-Isso só tornará sua partida ainda mais dolorosa, Wednesday. Você já tentou cortejá-la do jeito que um lobisomem faria? - Mortícia ofereceu.

-Não creio que Enid aceitaria meu namoro se eu oferecesse o coração do meu rival para ela comer durante a lua cheia. Ela provavelmente vomitaria. - Wednesday explicou, vendo seus pais suspirarem e pensarem em uma solução.

-Você já tentou fazer como um adolescente? Convide-a para sair, vá a Jericho ver um filme ou vá a uma sorveteria próxima. Os jovens gostam disso hoje em dia, minha filha. - Morticia disse com um sorriso, orgulhosa de si mesma por pensar nisso.

-É uma ideia deplorável. Vou experimentar. Obrigado pelo conselho, pais. Adeus. - E então ela passou a mão sobre a bola de cristal novamente, fumaça flutuando através dela enquanto a imagem de seus pais desaparecia.

Wednesday se levantou e pulou do telhado, usando as asas para parar a alguns centímetros do chão e retraindo-as novamente. Ela teria que estudar o comportamento humano, descobrir como eles fazem para “convidar alguém para sair”.

Então, que lugar melhor para estudar do que em um programa de TV para adolescentes?

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-Isso é estúpido, para dizer o mínimo. Não sei porque decidi vir atrás de você. - Wednesday reclamou enquanto Yoko ria. Ela foi até a vampira pedir ajuda para convidar Enid para um encontro, mas já se arrependeu. Assistir séries de TV não ajudou em nada.

-Você tem que comprar flores. Ela gosta de lilases, dá pra ela um buquê e alguma coisa estúpida junto e ela vai aceitar. Eu juro. - Yoko disse ainda rindo. Ela não conseguia acreditar que Wednesday tinha vindo até ela em busca de ajuda, entre todas as pessoas.

-Lilases e uma coisa estúpida, tudo bem. Existe alguma floricultura em Jericho? - Wednesday perguntou olhando para o sol. Hoje estava um dia particularmente quente e ela e Yoko estavam do lado de fora da escola.

-Claro que tem! É uma cidade pequena, não-

Yoko foi interrompida abruptamente quando um enorme dragão voou sobre sua cabeça. O dragão rugiu alto e bateu as asas, subindo cada vez mais alto até desaparecer entre as nuvens.

-Eu tô muito velha para lidar com esse tipo de coisa. - Yoko resmungou enquanto voltava para dentro da escola.

Willa voou, chegando à cidade num piscar de olhos. Ela pousou no meio da praça, divertida ao ver que as pessoas não podiam vê-la porque era dia. Ela voltou a ser humana, sabendo que mesmo com seu disfarce ela não conseguiria passar pelas pessoas. Ela poderia acidentalmente pisar nelas.

Wednesday parou para tomar um café no Cata-vento, mas não ficou para ver o perplexo barista lhe entregar seu número de telefone. Mesmo assim, seria uma boa ideia comprar um celular para se comunicar com Enid.

Wednesday fez tudo o que deveria ser feito. Ela comprou um celular que o lojista disse ser “de última geração”, comprou as flores e agora só faltava uma coisa: o presente estúpido.

Logicamente ela já sabia o que comprar, um bicho de pelúcia.

Wednesday entrou em uma loja que pensou ter visto Enid entrar uma vez e seus olhos quase sangraram. Era tudo tão… colorido e feliz. Que tortura.

Ela caminhou pela loja, chegando à seção de bichos de pelúcia e olhando cada um deles com uma careta óbvia. A gótica parou e olhou para um dragão rosa com piercing no septo e concordou com a cabeça. Era esse.

Ela pegou e pagou, saindo da loja e suspirando de alívio antes de começar a se afastar. Se ela voasse, as oferendas de Enid possivelmente seriam destruídas no caminho, então ela optou por não correr nenhum risco.

Se ela sentiu ou não olhares sobre ela durante todo o caminho desde que chegou à cidade, isso era apenas entre ela e seu dragão.

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Wednesday chegou cansada em seu quarto, mas relativamente feliz por ter conseguido trazer tudo sem problemas. Ela tomou banho, preparou tudo e esperou.

E esperou.

E esperou.

Enid não voltou ao dormitório naquela noite.

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Edição e tradução: 21/04/2024
Postagem: 06/06/2024

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