Capítulo 1

1 0 0
                                    


Tá bom, talvez eu esteja um pouquinho louca, só um pouquinho.
Pela enésima vez nessa semana os meus pais receberam uma ligação da escola, uma reclamação de como eu ando distraída durante as aulas, mas o que eu posso fazer? É inevitável para mim me concentrar em uma professora tagarela enquanto ela aponta para um quadro repleto de atividades. Minha mente vagueia sem permissão, eu não tenho culpa!

Mas não é por isso que eu me considere um pouquinho maluca, é por causa do que eu vi quando pisquei os olhos. Me sentei no sofá e encarei minhas mãos de forma culpada enquanto os meus pais falavam em tom rude sobre como eu sou distraída e de como isso me prejudica na escola.
Eu vi um buraco escuro, muito escuro. Isso não me assustou, nem um pouco, o que me pegou de surpresa foram as orelhas brancas que eu vi surgirem do buraco, eram orelhas de coelho, mas um coelho grande demais para ser considerado normal. Fechei meus olhos mais uma vez e me concentrei no coelho, ele saiu lentamente do buraco escuro e eu me espantei ao ver na minha frente White Rabbit, o cara da minha escola. Mas se fosse ele, vestido com suas roupas bem passadas e arrumadinhas, eu não teria me assustado, acontece que ele usava uma fantasia estranha, ele vestia um terno alinhado da época vitoriana, e usava orelhas brancas e felpudas de coelho, sem falar no relógio bizarro que ele tirava do bolso do paletó, me controlei para não rir.


— White? O que está usando? — perguntei risonha, ele sorriu simpático para mim.

— Estamos atrasados, senhorita. Corremos agora, eu explico depois — ele falou rapidamente, já me puxando pela mão e me levando para a escuridão do buraco, eu não consegui enxergar nada, apenas sentia a mão de White na minha.

— White? White? Por que está tão escuro? — perguntei temerosa, ouvi a doce risada de White bem a minha frente.

— Logo saberá, senhorita. Eu prometo.

Abri meus olhos mais uma vez e o tempo pareceu descongelar, meu pai continuou a frase de onde parou e eu ofeguei assustada. Eu imaginei White vestido de coelho vitoriano? Congelei o tempo enquanto conhecia o buraco escuro para o qual White me levara? O que acabou de acontecer?


— E, pela milésima vez, como você consegue passar de ano? Sério, esse é um mistério que todos queremos saber, Allin — esbravejou meu pai, o encarei estupefata.

— D-d-desculpe, eu... — respirei fundo e olhei do meu pai para minha mãe, que aguardavam uma resposta plausível. — Eu não sei, papai. Eu apenas sei o que fazer durante as provas, não sei explicar como.

— Querida, eu realmente acho que você deve considerar a possibilidade de conversar com um psicologo, talvez você sofra de Déficit de Atenção, nunca saberemos se você não ceder e procurar um médico — falou minha mãe, usando o tom doce e amável de quando quer convencer alguém a fazer algo.

— Mãe, eu não estou louca. Okay? Esqueça! — esbravejei me pondo de pé e saindo da sala, ambos suspiraram revoltados e me deixaram ir para o quarto.

Tranquei a porta do quarto e me joguei em minha cama, fechei os olhos por um milésimo de segundo e vi as orelhas brancas de White novamente, me assustei, porém logo me recompus e voltei a fechar os meus olhos. White ainda estava segurando minha mão, mas agora o buraco já não estava mais escuro, estávamos em uma sala cheia de portas, portas de todos os tamanhos; pequenas, grandes, minúsculas, enormes. Olhei em volta bem atenta e surpresa, White sorriu e soltou a minha mão.


— Senhorita, eu tenho uma missão para você, agora — disse White, encarei-o intrigada e ele agitou a mão, apontando para as portas.

— Missão? Que tipo de missão? — perguntei receosa, White riu, sua doce e melodiosa risada quase me fez rir também, mas eu estava confusa demais para rir com ele.

Allin's WonderlandOnde histórias criam vida. Descubra agora