ⲘELODIES | 𝗵𝘆𝘂𝗻𝗶𝗻

4 . Primeiros Acordes

Os dias se passaram desde a troca de mensagens com Yang Jeongin. Hyunjin encontrava-se constantemente à janela, seu olhar sempre ansioso e curioso, na esperança de ver o pianista aparecer e, talvez, continuar a conversa que tinham iniciado. O mistério e a beleza daquela conexão o intrigavam de uma forma que ele nunca havia experimentado antes.

Era uma tarde calma quando Hyunjin, mais uma vez, se posicionou em sua varanda. A cidade lá fora parecia em suspensão, como se aguardasse o próximo movimento do destino. E então, a melodia começou novamente. Desta vez, não era uma peça clássica, mas algo mais suave e improvisado, cheio de sentimento. Hwang sorriu ao ouvir, sentindo-se inexplicavelmente contente.

Decidido a estreitar o laço que começava a se formar, Hyunjin pegou mais uma folha de seu bloco de notas e escreveu:

"Posso assistir você tocar de perto?"

Dessa vez, ele não fez um aviãozinho. Pegou a folha dobrada e, com uma pequena pedra, a lançou cuidadosamente até a varanda de Jeongin. O papel caiu suavemente, e o moreno, que estava imerso em sua música, parou ao perceber o movimento. Ele olhou para o papel e, com um sorriso, leu a mensagem. Em seguida, pegou sua caneta e respondeu na mesma folha:

"Claro, pode vir me visitar. Apartamento 302."

Hyunjin sentiu um frio na barriga ao ler a resposta. Seria a primeira vez que se encontrariam cara a cara. Ele estava nervoso, mas a curiosidade e a vontade de conhecer o pionista de verdade o impulsionavam a ir adiante. Com passos decididos, saiu de casa e atravessou a rua, dirigindo-se ao prédio onde Jeongin morava.

Ao chegar ao apartamento 302, hesitou por um momento antes de bater na porta. A música parou, quando ouviu passos leves se aproximando. A porta se abriu, revelando o dono dos acordes que faziam Hyunjin pegar no sono todos os dias. Hwang o observou por um breve momento, pantufas pretas e simples, uma blusa larga de malha mas não escondia suas curvas - no qual Hwang se pegou admirando por breves segundos -, shorts pretos que constatavam com as pantufas. Era adorável. Com um sorriso acolhedor. Os olhos de Jeongin brilhavam com uma mistura de curiosidade e timidez.

— Hyunjin, certo? — Este perguntou, ainda sorrindo. — Observando o homem em sua frente. Vestes perfeitamente passadas a ferro, um perfume que invadia suas narinas com intensidade, cabelos loiros bem arrumados...

— Isso mesmo, não esqueceu né? — respondeu o loiro, encantado com a voz do mais baixo que havia acabado de ouvir. Mas logo se recompôs, tentando esconder o nervosismo. — Posso entrar?

— Claro, entre. — Jeongin se afastou para deixá-lo passar. Venda a estatura alta entrar, enquanto olhava ao redor.

O apartamento de Jeongin era simples, mas acolhedor. O piano ocupava um lugar de destaque na sala, cercado por partituras e livros de música. Hwang sentiu-se instantaneamente à vontade naquele espaço que parecia tão diferente do luxo impessoal de sua própria casa.

— Gosto muito de como você toca. — O mesmo disse, sentando-se em uma poltrona perto do piano. — É como se cada nota contasse uma história.

— Obrigado. — Jeongin respondeu, sentando-se ao lado do piano. — A música é minha forma de expressão. Às vezes, é mais fácil tocar do que falar...Quer algo pra tomar? — Perguntou tímido, coçando a cabeça, não estava acostumado a receber visitas.

— Não, obrigado.

Hyunjin sorriu, compreendendo perfeitamente. Ele sempre teve dificuldades para se expressar, escondendo-se atrás de sua fachada de arrogância e poder. Mas ali, com Jeongin, ele sentia que poderia ser ele mesmo, sem máscaras.

— Mas...Gostaria de tocar algo agora? — Hwang perguntou, desejando ouvir mais daquelas melodias que o cativavam tanto.

— Claro. — O moreno sorriu e posicionou os dedos sobre as teclas. — Vou tocar algo especial.

As notas começaram a fluir, suaves e melódicas, enchendo o ambiente com uma serenidade que Hyunjin não sabia que precisava. Ele fechou os olhos e deixou-se levar pela música, sentindo cada acorde ressoar em seu coração, como se cada nota fosse uma carícia que suavemente tocava sua alma. O mundo ao seu redor parecia se desvanecer, deixando apenas ele, a música e o jovem pianista.

Cada melodia parecia contar uma história, uma narrativa silenciosa que conectava os dois de uma maneira indescritível. Hyunjin sentiu uma paz profunda, uma sensação de conforto que há muito não experimentava. O piano de Jeongin tinha uma magia que transcendia a mera música, transportando-o para um lugar onde seus medos e ansiedades eram substituídos por uma calma envolvente.

Quando a última nota se dissipou, pairando no ar por um momento antes de desaparecer completamente, Hyunjin abriu os olhos lentamente. Ele encontrou Jeongin olhando para ele com uma expressão de curiosidade e uma pitada de vulnerabilidade. Os olhos de Jeongin eram como janelas para sua alma, revelando uma profundidade de emoções que Hyunjin estava apenas começando a entender. A intensidade do olhar do pianista parecia penetrar diretamente em seu coração, criando uma conexão silenciosa mas poderosa entre eles.

Jeongin, com os dedos ainda repousando nas teclas do piano, observava Hyunjin com um misto de interesse e expectativa. Ele parecia querer saber o impacto de sua música no loiro, como se cada acorde tocado fosse uma pergunta silenciosa, uma tentativa de compreender o efeito que tinha sobre aquele estranho fascinante.

Hyunjin, ainda sob o efeito da música, sentiu uma necessidade urgente de falar, de expressar a gratidão e a admiração que cresciam dentro dele. Mas, por um momento, ele apenas ficou lá, observando Jeongin, permitindo-se ser consumido pela beleza da conexão que haviam compartilhado através da música.

Finalmente, ele encontrou sua voz, ainda suave e carregada de emoção.

— O que achou? — Jeongin perguntou, um leve tom de ansiedade na voz.

— Foi perfeito. — Hyunjin respondeu sinceramente. — Obrigado por compartilhar isso comigo.

— Isso foi... incrível. — disse Hyunjin, as palavras parecendo insuficientes para descrever o que realmente sentia. — Nunca ouvi nada assim. — Ele pausou, tentando encontrar as palavras certas. — Obrigado por compartilhar isso comigo.

Jeongin sorriu, um sorriso tímido que iluminou seu rosto, fazendo seu coração bater um pouco mais rápido. — Fico feliz que tenha gostado. — respondeu ele, sua voz suave como a melodia que acabara de tocar. — A música sempre foi uma parte importante da minha vida. É bom saber que ela pode tocar alguém de forma tão profunda, obrigado...

A partir daquele dia, Hyunjin e Jeongin começaram a passar mais tempo juntos. Hyunjin visitava o apartamento de Jeongin sempre que podia, ouvindo-o tocar e, aos poucos, compartilhando histórias e confidências. Uma amizade inesperada florescia entre eles, um vínculo que transcendia as diferenças de suas vidas e os unia através da música.

E assim, Hyunjin começou a perceber que, talvez, o amor não fosse algo a ser temido ou evitado. Talvez fosse simplesmente uma melodia esperando para ser descoberta, uma conexão invisível que tinha o poder de transformar até os corações mais endurecidos.