Capítulo 2
— Perspectiva de Tadeo
Estou disposto, mas com uma "incrível" dor nas costas por dormir apoiado em um muro. Ainda estou muito animado e tenso por causa da audição de hoje, conhecer todo mundo vai ser bem divertido. Espero que não reparem na minha cara de cansado, acabado, morto, quase um vampiro pra não falar cadáver.
Bem, agora que eu acordei reparei que eu fui pra muito longe quando passou da meia noite, agora que eu tenho um leve propósito para viver, fiquei com medo de ser espancado e sequestrado por algum militar. Não que aqui tenha um movimento muito grande de viaturas, mas se te pegarem você cava sua própria cova.
Antes de qualquer coisa, eu quero beber algo, talvez um café pra acordar dessa noite mal dormida. Acho que lembro um lugar barato pra tomar meu café, não é muito longe daqui.
O melhor bar de esquina, ou "Bar do Tião" é bem em conta, além de ter boas promoções. Me apressei e sentei bem perto do balcão, um café bem fraco e... Mais caro que antes pelo visto, por que as coisas aumentam de preço justamente quando eu não tenho dinheiro sobrando? Enfim, não posso reclamar de nada, a minha vida vai melhorar bastante se eu conseguir entrar na banda.
— Ei, você! - Exclama um rapaz meio pequeno, com olhos amarelos meio cansado.
— uh? O que foi?
— É um baixo bem bonito, hm. - Ele toma um gole de capuccino e encosta no meu baixo. - Parece um modelo bem antigo, está bem preservado e sem rachaduras.
— É isso aí.
— Show. - Ele se vira em frente ao balcão e começa a tocar os dedos com um certo ritmo. - Te vejo por aí.
Ele pegou o skate dele e saiu da cafeteria. Que clima meio estranho, impressão esquisita. Enfim né, não morri hoje então vamos em frente.
Indo em direção ao beco de antes, eu vi aquele baterista de novo, qual era o nome mesmo? Marcelo? Parecia que ele estava me esperando faz um tempo.
— E ai? Tudo firmeza? - Ele estende a mão para mim.
— Tudo ótimo. - Eu retribuo com um aperto de mão ( ele tem a mão quente pra caramba... )
— Me segue, ok? Esse lugar aí no beco é alugado, a nossa banda fica em outro lugar.
— Ok.
Segui ele por uma trilha MUITO distante, pensa em um lugar longe, isso mesmo, agora pensa em um lugar mais longe que isso! Meu corpo sedentário não aguenta essa pressão. Pelo menos me ofereceram uns cupcakes, de boca cheia eu não reclamo.
A casa era bem grande, tem muitos quartos e biscoitinhos feitos em casa. O que eu achei esquisito foi o silencio, não parecia ter ninguém em casa. Aquele rapaz lá, o Sérgio, eu sei lá, me disse que eles já estavam chegando.
4 caras no meio do mato tocando músicas que o estado não gosta, que divertido né?
Passaram 30 minutos e todos chegaram com cara de sono e ódio.
— CALEEEEB! ABRE A PORTA CUZÃO!
Ah, então o nome dele é Caleb. Achei que era Sérgio, ou Marcelo...
— JÁ VOU, SEU PEGA-RABUDA! - Ele corre pelo corredor e abre a porta.
— Finalmente! - Todos eles dizem ao mesmo tempo, parecia até ensaiado.
Lá estavam os três, com cara de sono sentando e deitando todos tortos no sofá. Caleb tirou a mesa de centro da sala e colocou uma cadeira especialmente pra mim, mais tenso que isso? Impossível.
— Bom dia flor do dia! Mostra pra gente o que você sabe fazer. - O vocalista me entregou as partituras da música "Sem hierarquia".
— uhh... Calma ai né, não sei o nome de ninguém aqui.
— Me chame de Lord, esse é o Kitty, o Thorns e o Gothy. - Diz ele apontando para todos, respectivamente.
— Thorns, mas me chame de Caleb. - Ele me joga uma cerveja e se senta com os outros.
Pelo visto todo mundo tem um nome artístico aqui.
— Meu nome é Tadeo. - Eu arrumo o meu baixo e começo a tocar.
De longe não parece uma música complicada, mas pra uma pessoa que sempre toca a música popular e repetida pra ganhar uns cruzeiros é muito complicado, não toco tão rápido mas até que consegui ter um bom desempenho.
— Precisa treinar mais um pouco, mas você tá dentro. Toda ajuda de musicistas sem medo de morrer é ótima - Ele sorri e me dá um broche escrito: "Devil Punk is not dead!", fofo.
— Ah, isso me alivia e tanto... - Eu abro a cerveja e tomo metade uma vez só.
— Bebendo logo cedo? Daqui a pouco tem ensaio. - Ele me encara e cruza os braços, esse tal de Gothy parece uma muralha.
— Deixa ele grandão, você não manda aqui~ - Caleb dá um puxão em Gothy e todo mundo vai pros seus quartos.
Todos foram embora e me deixaram sozinho aqui, o que eu deveria fazer? Bem, se eu abrir a cerveja vou ter que terminá-la.
Engraçado que na cafeteria, por alguns segundos, eu imaginei que aquele carinha de olhos amarelos seria algum membro da banda, azar o meu que vou ficar curioso agora.
E se ele for perigoso? Assim, não são muitos os que andam com instrumentos musicais por aí e se descobrirem que a banda toca música com letras de revolução e anarquismo direto eu posso ser caçado né... Que tenso né rapaziada, deixa eu tomar um gole da minha cerveja.
Na verdade, e se ele for algum conhecido do grupo? Ugh... Esses pensamentos vão me deixar louco. Espero que alguém conheça aquele rapaz, saber de uma informação pequena dessas pode me colocar em grande ris-
— Tadeo, vai ter ensaio, acorda cara. - Diz Caleb batendo palmas pra me tirar dessa hipnose.
— Ah sim, anoiteceu derrepente, meu deus.
Eu fui pra sala de ensaios, parece que ela é isolada de som por causa das cartelas de ovo colocadas na parede, eu não vou acreditar nessa gambiarra não. Tô me sentindo meio tonto, realmente não deveria ter bebido, mas foi quase como um impulso. Bem, agora não tem desculpa, não posso decepcionar eles.
Me deram novas partituras e essa música parecia ser nova, não escutei durante o show deles. Se chama "Não foi o Diabo", se a gente for denunciado para a polícia não vai ter nem desculpa.
♪ ♩ ♫ ★ · ♪ ♬ · . — ⁶⁹⁶
Ei você! Comunista de esquerda,
Se coloque no seu lugar.
Quando eu começo a criar suspeitas,
desespero sua família, faço gritar.É isso o que ele diz,
ele quer te ameaçar,
Te atormenta a ilusão
desse dia só piorar.O que você vai fazer?
Vai ficar aí parado?
Vai esperar o fogo alastrar
e queimar por todo lado?Pare de envolver religião,
o que eu digo aqui é fato.
O diabo não é vermelho,
ele é o corrupto do estado.♪ ♩ ♫ ★ · ♪ ♬ · . — ⁶⁹⁶
Foi um bom ensaio, o som do meu baixo deixou a música bem mais obscura e com o clima pesado, além da guitarra que fez total diferença.
Me pergunto por quanto tempo nós ficaremos a salvo, todos os artistas até agora só fizeram suas letras com ataques indiretos à ditadura. Será que os outros não tem medo de morrer? Eu não tenho, mas isso não se aplica a todos... Né? Bem, amanhã vai ser outro dia.
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Devil Punk - ★
Historical Fiction★ - D E V I L - P U N K · † · - "Grupo de rock anarquista se torna cada vez mais influente nas cidades vizinhas" . . . ⁹⁶⁹ Quatro garotos insatisfeitos com a censura, ditadura e esquecimento de sua cidade se revoltam e dão tudo de si em uma b...