Antes do Começo

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As chamas das tochas, na imensidão do escuro, estimularam um olho a despertar-se. Sua visão fraca e embaçada dificultava a percepção do local mal iluminado pelas tochas posicionadas em rochas. O silêncio foi rompido por gotas d'água caindo em metal, seguido pela voz de um homem envolvido na escuridão; suas palavras pareciam não ter sentido, porém, era somente a língua demoníaca.

"Pronto." - Em seu rosto, um sorriso de satisfação surgiu.

Conforme se virava, de alguma forma, a escuridão insinuava-se sobre o domínio do homem. As chamas foram se extinguindo, e as poucas restantes revelaram ao olho a cabeça do Boss aos pés do homem, que, nesse momento, descobriu-se encapuzado.

"Tá... Tá..." - Sua voz era fraca e desgastada.

A atenção do encapuzado pousou sobre a voz: um homem armadurado, completamente perfurado por várias estacas que emanavam escuridão, as quais reagiram ao olhar do encapuzado. A armadura resistente era atingida incessantemente por uma goteira formada por uma estalactite sobre sua cabeça; a cor prateada encontrava-se manchada pelo vermelho escuro de seu próprio sangue.

"Tá... yo." - A boca do armadurado encheu-se de um gosto metálico.

"Shhh... Adeus, ó estrela de Demigem." - Em jeito simples, colocou o dedo na frente da boca.

Cansado e sem mais forças, o olho lentamente se fecha, retornando à escuridão; contudo, dessa vez, podia ver claramente um caminho pedregoso, ao qual cambaleava tentando andar. Suas vestes rasgadas e cheias de sangue mostravam o estado do jovem.

"L... Lu... Luz." - Seus olhos negros arregalaram-se ao enxergar uma pequena e distante luz do sol.

"Um sobrevivente! Venham, um sobrevivente!" - Uma pessoa exclamou fora daquele local.

"Uma pessoa... Viva." - Seu rosto encheu-se de lágrimas, no entanto, não por tristeza.

O tempo voou como um piscar de olhos desde o resgate do jovem de cabelo roxo e olhos negros; nesse instante, localizava-se em uma tenda de feridos.

"Fui resgatado e mandado para este local, porém, agora..." - As dúvidas em seus pensamentos foram deixadas para trás quando alguém adentrou o lugar.

"O jovem está melhor?" - Na sua frente, encontrava-se um senhor no auge da meia-idade, com seus cabelos brancos, os quais iam até sua cintura; seus olhos eram dourados e pareciam reluzir; sua pele era parda; usava um sobretudo branco cobrindo seu ombro e um cajado de madeira com uma esfera na ponta superior.

"Hum? Acho que sim?" - Seu olhar direcionou-se para baixo, fechando e abrindo o punho.

"Ops... Perdoe-me pelo descuido."

"Descuido? Que descuido?" - A pequena frase do senhor trouxe centenas de pensamentos em sua mente.

"O descuido de não ter me apresentado."

"Talvez tenha sido?" - Sua voz saiu baixa e incerta.

"Meu nome é Thijou Levard... Um dos anciãos e fundadores desta vila nomeada Demigem."

"Demigem?"

"Porém, já me apresentei, então qual seria seu nome?"

"Meu nome? Eu me chamo..." - Uma expressão de confusão dominou sua face; tentava inutilmente recordar-se. Ele, nesse instante, percebeu não lembrar de nada antes de acordar na caverna.

"Mil perdões, o ocorrido na Dungeon deve ter sido traumatizante."

"Não é isso, eu... Não me lembro." - Após finalizar sua fala, a tenda se abre novamente.

"Licença, mas trouxe a refeição para o paciente." - Uma jovem de cabelos rosados, olhos de cor dourada, sua pele parda era suave e vestia vestes simples, com alguns detalhes em verde.

"Tudo bem, Rosary." - Sua forma casual com a jovem demonstra a intimidade entre os dois.

Caminhou e deixou a refeição sobre a bancada ao lado da cama do jovem, retornando para perto do senhor.

"Vovô? Você deveria ter mais cuidado." - Acusava o senhor, ao passo que cruzava os braços e franzia o rosto.

"Hã? Do que está falando, Rosary?"

"Fingindo não saber? Imagina se o paciente estivesse doente? O senhor não é mais... Como antes." - Terminando seu discurso, parou por um momento.

"Rosary? Não foi ela que veio após eu ser trazido para cá?" - Seus olhos estavam fixos no senhor e sua neta.

"Está tudo bem com você?" - Inesperadamente, Rosary virou-se para o jovem; seu olhar dourado era encantador.

"Hum? Eu? Acho que sim?" - A reviravolta na discussão pegou-o de surpresa.

Em seu instante de distração, sua cabeça foi acertada por seu avô; não fora forte, contudo, era algo inusitado aos olhos do jovem.

"Por que fez isso, vovô?" - Dizia, à medida que colocava a mão sobre a cabeça.

"Neta, pare com isso; você sempre faz isso quando está..." - Nesse ponto, o próprio jovem chamou a atenção para si.

"Desculpe-me, mas já que não recorda de seu nome, eu poderei encontrá-lo na lista da Força Santa."

"Força Santa?"

"As roupas que usa são da Força Santa de Front."

"Desta vez, eu me desculpo; acordei na 'dungeon' sem roupas e reivindiquei estas."

"Compreendo, então é melhor que descanse. Vamos, Rosary." - Os dois deixaram a tenda, fazendo o jovem encontrar-se sozinho de novo, decidindo seguir o conselho do senhor.

Entre a luz e as trevas: Gachuti Blood {Reescrita}Onde histórias criam vida. Descubra agora