Capítulo 1

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Aidan

Toda essa rotina se torna cansativa uma hora. Principalmente quando me impõem limites. Por isso sempre corro atrás de coisas novas, experiências novas, algo que nunca tenha feito antes, e justamente isso foi o que me fez estar aqui.
Eu sinceramente esperava estar preso, prestando serviço comunitário, tanto faz, qualquer coisa bem extrema. Isso sim é empolgante, mas o máximo que fizeram foi me jogar pra um outro colégio.

Solto um suspiro e entro na sala. Não sei se as pessoas que estudam aqui sabem de tudo. Não que isso fosse mudar alguma coisa.

- Desculpe garoto, mas estamos quase no final da aula.

- É mesmo? Que pena. - Me dirigi a uma carteira livre e permaneci ali. Deitei a cabeça na mesa. Podia ouvir a sala cochichar enquanto o professor competia com as pessoas ali. Eu sinceramente não sei porque continuo nessa. Eu já sei como acaba. Sempre sou chutado pra algum lugar diferente, mas pensando pelo lado bom, esse é o último ano antes de recebermos nossos cargos.

Alguns anos atrás, a sociedade foi dividida em heróis, vilões e sidekicks. No início, consequentemente, a taxa de criminalidade aumentou consideravelmente, e a partir daí os heróis entraram na ativa, fazendo com que essa taxa e os próprios vilões diminuissem. Isso tornou as coisas mais chatas. Dessa forma, acabaram romantizando muitas coisas da vida.
Recebemos nossos cargos após terminar o colegial. No fim do ano será minha vez e não posso deixar de pensar o quão empolgante será.

Antes que pudesse perceber, a sala estava vazia. Levantei minha cabeça e esfreguei meus olhos com as mãos, me levantei da carteira e me retirei da sala. O corredor ainda estava lotado de pessoas, tornando difícil se deslocar por aqui. Por isso odeio lugares lotados.
Coloquei as mãos nos bolsos do meu moletom canguru e tentei sair dessa multidão. Evitei soltar uma palavra que fosse, o que pareceu uma missão impossível quando notei um garoto tagarelando do meu lado. Olhei para ele de relance. Quando ele apareceu aqui? Que irritante, ele não consegue parar de falar? Parei de andar, ele parou logo em seguida.

- Cansou? Será que dessa vez você finalmente me ouvirá? - Perguntou com um sorriso. Pelo visto, ele estava falando, falando e falando sem parar mesmo sabendo que eu não estava ouvindo.
- Como eu estava dizendo, é um prazer ter você aqui, Aidan.

Ele sabe meu nome. Ele sabe quem eu sou? Isso me surpreendeu.

- Como você sabe meu nome?

- Você falou enquanto estávamos caminhando. - Olhei para a bendita cacatua que sorria da mesma forma que falava. Suspirei e voltei a andar, agora, em direção as escadas. Mais uma vez, ele estava me seguindo.
- Você não cansa não?

- Não vou me cansar até você parar de fingir que não estou aqui. - Respondeu quase imediatamente e com um sorriso no rosto. Suspirei.

- Tá legal, qual seu nome, risadinha?

- Matteo, e você gosta bastante de suspirar, não é? - Ignorei seu comentário.

- Matteo. Primeiro, tira esse sorriso irritante do rosto, isso não te torna mais simpático. - Olhei para seu rosto, que já não esboçava mais um sorriso. Me sentei nos degraus da escada.
- Segundo, já não estou te ignorando mais, ainda quer alguma coisa? - Matteo permaneceu calado por um tempo, antes de abrir um sorriso novamente.

- Não. Vou te deixar em paz, por enquanto. - Matteo se afastou. Não parece que ele vai me deixar em paz. Ele vai voltar. A qualquer momento...
- Tanto faz... - Sussurrei. Me levantei das escadas e decidi voltar a andar pelo colégio.

Matteo

Me afastei de cabeça baixa, sem deixar que ele percebesse o sorriso que eu escondia. Não pretendo deixar ele ir e sinto que as coisas vão ficar cada vez mais divertidas. Lembro de momentos atrás, quando Aidan me perguntou como sabia o nome dele. Isso é divertido. Estive de olho em Aidan desde o início do ensino médio e finalmente, eu posso estar com ele. Ter ele.

- Eai? - Luke envolveu seu braços pelo meu ombro.

- Um pouco cabeça dura, mas nada que eu não consiga.

- Eu te avisei. Ele é bem problemático, não acho que queira ter amigos.

- Querendo ou não, ele vai ter.

- Você é louco. - Soltou uma risadinha.

- Você sabe que eu sempre consigo o que quero, não vai ser agora que isso vai mudar.

- Sim sim. - Respondeu. Soou um pouco debochado, mas eu ignorei. Luke me puxou para o refeitório. A fila estava enorme, mas mesmo assim nos arriscamos a esperar.

Não muito tempo depois, pegamos nosso lanche. Enquanto estávamos nos dirigindo à uma mesa, avistei Aidan que estava sentado sozinho. Abri um sorriso.

- Luke, daqui a pouco eu te encontro. - Dei um tapinha do ombro de Luke enquanto equilibrava a bandeja na outra mão. Me afastei e me dirigi a mesa onde Aidan estava sentado.

- Oi de novo. - Ele olha para mim, talvez com desdenho, mas eu não ligo.
- Também é um prazer te rever. - Sorri.

- O que você quer?

- Não posso mais almoçar com meus amigos?

- Eu não sou seu amigo. - Respondeu quase imediatamente. Mantive o sorriso. Me sentei de frente para ele e comecei a comer.
- Você não ouviu? - Ignorei. Ele suspirou. - Você tem um dom incomum de irritar as pessoas sabia?

- Vá se acostumando. - Retruquei.

- Não mesmo. - Reparei no sorriso de canto que seu rosto esboçou. Você é fofo sorrindo, pensei. Eu não tenho pressa. Aos poucos eu vou te conquistar, Aidan. Eu sou capaz de fazer de tudo pra te ver sorrir como você sorriu agora.

- Sabe, você não é tão rude e egoísta como os outros dizem. - Comentei. Garfei uma cenoura e a comi.

- Você nem me conhece direito. Se não, não diria essas coisas. - Eu conheço. Até de mais.

- Então me deixe te conhecer.

- Não queira.

- Mas eu quero. - Aidan suspirou e soltou o garfo.

- Você realmente não para até conseguir o que quer, não?

- Que bom que você entendeu.

- Todos aqui já sabem as merdas que fiz. Você nao deve ser diferente.

- Mas eu quero ouvir o seu lado. - Respondi. Aidan ficou em silêncio.

- Eu já disse que não. - Aidan se levantou e foi embora, levando a bandeja e talvez um pouco de raiva de mim. Será que passei dos limites? Eu já sei de tudo, porque insistir? Acho que fiz merda.

Burning For YouOnde histórias criam vida. Descubra agora