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Eu só ouvia o som das sirenes da ambulância, o choro das crianças, as enfermeiras conversando e o bip das máquinas. Não via nada além das luzes brancas e vermelhas; de tempo em tempo conseguia abrir um pouco dos meus olhos, mas não demorava muito para perder a consciência novamente.
Quando finalmente acordei, tudo o que via era uma cama de hospital, aparelhos hospitalares e... mais aparelhos. Não entendia o que tinha acontecido, o que estava acontecendo, e nem o que aconteceria depois daquilo. Fiquei um tempo olhando pela janela do quarto. Não havia muito para ver, era só um lote vago, sem construções, sem pessoas, sem movimento e sem nada para observar. Entediada começo a olhar envolta da cama, não há realmente nada de interessante. Tento me levantar para dar uma andada pelo espaço. Ao me sentar com dificuldade, vejo tudo girar, fico tonta e minha cabeça começa a latejar de dor. Fico inconsciente por um tempo, sinto as batidas hiper aceleradas do meu coração e não vejo nada, tudo o que posso enxergar é a luz do fim se aproximando cada vez mais e me pergunto se ficará tudo bem. Depois de muito tempo acordei e abri lentamente os meus olhos, tentei disfarçar e fingir que ainda estava desacordada, pois haviam dois enfermeiros conversando sobre o meu caso. Como não sabia o que eu tinha, tentei escutar, mas não consegui entender o que estavam falando, entretanto, descobri onde guardavam a minha ficha de saúde.

Assim que saíram do quarto ajustei a posição da cama e rastejei até o pé, onde estava guardada a ficha.

"Alana Cicie White; 19 anos; hipertensão e arritmia cardíaca avançadas em uniao; médico responsável: Arthur LeBlanc; [...]".

Neste momento não conseguia pensar em nada, minha cabeça estava totalmente desordenada e desorganizada, comecei a sentir meu coração batendo cada vez mais rápido e mais forte, em pânico apertei o botão de emergência e esperei os enfermeiros chegarem. Quando chegaram começaram a executar os procedimentos de ressuscitação e salvação. Desta vez, não cheguei a desmaiar. Quando recuperei a consciência olhei em direção a porta e com as vistas um pouco embaçadas vejo um pontinho branco chegando cada vez mais perto. Quanto mais perto chegava, mais a imagem se esclarecia. Era um médico que vinha me ver.

- Dr. Arthur LeBlanc, muito prazer. Cuidarei de você nesta internação. O seu nome de identificação hospitalar é HAC-9885.

- Doutor, o que eu tenho? - pergunto preocupada

- Você tem um caso raro de problemas cardíacos em união. Hipertensão e Arritmia Cardíaca. Agora, deixe-me ver sua pulsação.

Assim que pega meu pulso se assusta e busca rapidamente minha ficha médica para conferir algumas informações.

- Você se lembra do que estava fazendo antes de vir para cá?

- Eu estava trabalhando na biblioteca de onde moro, Julie entrou chorando e me disse algo que não me lembro muito bem... fiquei um pouco nervosa com a situação que ela havia descrevido... depois disso, só me lembro de sentir meu coração batendo muito rápido, minhas vistas se escurecendo aos poucos enquanto embaçavam e... nada depois disso...

- Tudo bem. Dra. Laura, prepare uma equipe com os melhores para este caso. Iniciem a preparação para o calendário de medicação. Vocês tem até no máximo o fim do dia para prepararem as dosagens e receitas.

Fiquei naquele hospital por mais 11 dias, tomando remédios, medindo a pressão, medindo a pulsação, tirando sangue e fazendo exames e mais exames.

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Recebi alta e chamei um taxi imediatamente. Preparei as minhas coisas e fui até a recepção para preencher toda a papelada do início do meu tratamento. Achei que seria algo rápido, mas eram muitas perguntas. Nome, data de nascimento, endereço, alergias... tinham realmente muitas informações. Quando acabava de responder uma folha e achava que havia acabado, a recepcionista trazia mais duas. Fiquei cerca de 40 minutos preenchendo. Cancelei o primeiro táxi, depois de entregar o relatório chamei outro e esperei cerca de mais 15 minutos.
Quando o taxi chegou, perguntou-me qual o endereço, respondi:
- Bairro Boneville, rua Miranda, n⁰ 270.

Perguntei se poderíamos passar em algum drive-thru para pegar um combo de hambúrguer. Ele disse que sim. Pegamos a primeira esquerda, andamos 5 quarteirões, viramos na primeira direita e a segunda esquerda até chegar lá. Chegamos ao McDonald's, não havia fila então pedi um Milk shake de baunilha com ovomaltine, uma batata grande e um mini café de brinde. Dei o café ao motorista e comi a batata acompanhada do sorvete. Continuamos até minha casa.
O carro estava muito silencioso, ninguém disse uma palavra o caminho todo. Estávamos quase chegando quando vimos uma placa de pista interditada, a única opção que tivemos foi que eu descesse 3 quarteirões antes de casa. Agradeci ao motorista, paguei a corrida e ele me ajudou a tirar os meus pertences. Desci e peguei minha mala, minha batata, meu Milk shake e minha mochila. Andei um quarteirão e meio e tive que parar para descansar, sentei-me em um bar para tomar um ar. Haviam pessoas estranhas lá. Enquanto pedia uma água um homem nitidamente bêbado se aproxima de mim perguntando se moro por aqui. Digo que estou só de passagem. Ele pergunta se estou procurando algum lugar em específico. Digo que não, mas ele insiste nisso. Tento sair de perto, mas para qualquer lado que vou ele vai atrás. Busco ajuda desesperada. Um atendente me dá cobertura para que eu possa sair de lá. Pego as minhas coisas e minha água e saio de lá.
Continuo andando mesmo cansada; traumatizada com o que aconteceu tento me tornar invisível para os outros, mas com tantas malas e objetos é um pouco difícil.
Finalmente, chego em casa. Orfanato IsaMira.

You're my HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora