Love era o que podemos chamar de parente tóxico(daqueles que quanto mais longe melhor)
Eu a via duas vezes por ano, dado ao seu horário disfuncional. Ela estudava em Moçambique, andava na primária lá mas não saberia se dizer só de olhar para ela.
As coxas largas e fartas, os lábios carnudos, o cabelo em mechas selfie, fora sua estrutura alta e sua face de quem cairia na porrada com que suspira-se demasiado próximo.Mas Love de tinha apenas dois anos a mais, que mim.
Nossa relação era conturbada, como minha prima. Tínhamos muito em comum: ambas negras, altas demais para a idade, cabelos médios, carapinhos, coxas altas e fartas. Até àquela altura eu não tinha nada em peito, mas nela já haviam resquícios de algo em desenvolvimento.
"Quando você chegou?", perguntei, sem nenhum interesse.
Love sorriu com escárnio . Eu 0, Love 1.
Parece que dessa vez eu não fui muito sutil."Éh, priminha. Não é muito educado ser tão transparente assim", ela deu um sorrisinho.
Ignorei seu comentário e reparei nela. Nada de malas ou caixas a tiracolo. Dessa vez ela não tinha as "amostras de badjias, e Bolos de rua" a tiracolo. Só ela,...espere cadê
"Minha mãe não veio", disse apressadamente.
Dessa vez eu realmente me senti envergonhada. Para uma garota de oito anos, eu era muito polida, nos momentos certos, mas quase aos nove, como estava. Parte desse polimento, ruía."Ah, ...", foi tudo que minha boca conseguiu assimilar.
"Então...., acabou o interrogatório?", perguntou
Percebi, que não tinha sequer a chamado para entrar e ela parecia carregar uma mochila apenas. E talvez estivesse pesada"Entre.", falei por fim.
Depois disso seguiram-se os outros cumprimentos e questionamentos. Parecia que eu não era sinuca curiosa com a repentina viatura da prima Love. Era início de Julho. O ano letivo moçambicano ainda rolava ao rubro.
O que Love estaria fazendo ali. E onde estava a matriarca?Naquela tarde eu não fui para casa de Jade. E não tive notícias dela ou de Kai. Com Kai as coisas estavam amenas, tínhamos evoluído dos acenos de cabeça para "Olá, Oi". Luck pegou suas coisas e partiu, mês passado quando percebeu que o casamento de Lucy e Pete não era uma birra.
Pete era incrível. Eu amava-o.
Sentia muito por Lucy, mas não mais do que por Kai.
Kai morava sozinho, ao lado da nossa casa. Papai(Pete), destruiu a cerca entre nós e pontua as cercas laterais da mesma cor. Tornando as duas casas "uma só" na mente dele.A nossa esquerda a família Witgheat, talvez, espantados com um rumo de tudo, vendeu a casa e partiu sem nem sequer se despedir. A supresa apenas nos engoliu quando Jade, dias antes saiu da mansão e correu até o carro de papai.
Peté comprou um carro para Kai. MAs Kai não o usa. Então Pete ainda nos levava para a escola, e na volta nos virávamos com caronas de vizinhos mais distantes. Porque Lucy tinha aberto sua própria galeria em e passava dias lá. E quando estava em casa, dormia a tarde. E de noite passava aos agarros com Pete.
Com fé , eu esperava que Kai não usasse o carro até eu ter a minha carteira e eu o tomasse dele.Eu não tinha o que reclamar mesmo. Pete me dava tudo que pedia. Na medida do possível e nunca faltou a nenhum encontro escolar nem mesmo as minhas consultas ao dentista.
"Então, sua prima Love está aqui?. E dessa vez para ficar?", Jade perguntou com certa graça e incredulidade.
Estávamos no sótão dela, decorando-o. Tínhamos a meta de ter um quarto temático de Barbie, até que eu entrasse no ensino médio. Segundo Jade, eu deveria comandar algo, "um cargo eternizante ", então porque não "Rainha das festas de pijama""Sim." Falei com desânimo. A nossa casa era grande como as outras. Mas aparentemente os whit
Eram criativos e modificaram a casa. Tanto por dentro e por fora(coisas que nem minha mãe sabia que o executivo do condomínio permitia) e de 3 quartos o normal, a casa de Jade tem 5 quartos incluindo o de sótão.
Eu não saberia nem dizer se tínhamos sótão.Jade bufou.
"No último verão que ela veio aqui quase caí da ponte", ela lembrou.Aparentemente, Love tinha algum poder sobre Jade. Mesmo que ela negasse. Me lembro bem do dia da ponte
"Ela sabe?", Love perguntou. Eu tinha separado uma briga delas. Eu não gostava da ponte, me lembrava muito meu pai. Não tinha muito tempo que ele fora apanhado ali.
Jade sequer olhou para mim. Eu não guardava nenhum segredo dela, mas aparentemente ela guardava muitos de mim.
"Laura, eu já disse que...", Jade tentou argumentar
Seja o que fosse, Jade não queria que ela contasse.
Love riu.
"Então você ainda não contou", Love riu.E foi entao que tudo aconteceu, rápido de mais. Jade pulou na frente de Love e lhe deu um tapa. Tarefa fácil porque ambas tinham a mesma altura, enquanto eu assistia de camarote. Em algum momento Love exerceu sua força sobre Jade e ambas caíram na água.
Entrei em pânico no momento seguinte. Eu não entrava na água desde o incidente.
Em alguns segundo Love voltou à superfície, enquanto eu hiperventilava. Nenhuma de nós parecia preocupada. Mas não sei em que momento ou como. Kai surgiu do nada e só ressurgiu com Jade a tiracolo.
"O que vocês fizeram com ela?", ele perguntou furioso demais.
Ele continuou reanimando Jade, enquanto Love tremia de frio, e eu desmaiava, mas não antes de ver os lábios sedosos e carnudos que eu via nos meus sonhos, todas as noites, chocaram contra os lábios da minha melhor amiga.Suspirei, Jade nunca me contou o que se passara. Acordei em casa, de noite. Com uma prescrição médica que me levou direto para um pscicologo. Afinal tínhamos dinheiro.
MAs a ideia de que sua filhinha era um "doida" não cabia em Lucy, então nunca cheguei a visitar um psicólogo.
"Você entende porque eu não permito que você vá a um psiquiatra ?" Minha mãe sussurou a última palavra como se fosse um segredo de nível nacional.
Estava exausta, ao cair, batera a cabeça e desde lá, vez a outra doía-me a cabeça. E cansava-me fácil."Sim mãe" sussurrei tambem. Para minha mae amor e até to resumia-se a me por na cama sempre que podia, me encher de prendas e bastava.
A verdade é que eu estava morta de curiosidade sobre a morte do meu pai. Mas era como se nunca tivesse existido.
Minha mae deitou fora tudo que me trazia a ligeira lembrança que antes não er Pete e Lucy.
E que eu não era uma Sharp. Só ela.Ela me deu um olhar satisfeito. Uma forma dela de demonstrar que eu estav se portando bem.
Sorri falsamente para ela.
"Durma bem meu anjinho". Ela disse selando minha testa com seus lábios suaves e carnudos.Eu não dormi nada. Para quem quisesse ou não, era claro o quão obcecado por Kai eu estava. Nessa noite, como todas outras eu desci da cama e me esgueirei na janela. Podia ver Kai através dela. Mas nessa noite não foi Kai lendo alguma coisa que me deu uma sensação de satisfação.
Era...era Love?
Eu olhei mas uma vez para confirmar e tive certeza que era ela. Enconstada na ilha branca de mármore da cozinha de Kai, com os braços nos ombros dele. Seria difícil não identificar aqueles braços curtos e fartos mesmo no escuro. O que ela estava fazendo lá? E porque parecia..ah não. Não não não, eles.. ela, estava beijando o Kai.
O meu Kai.
Fiquei tentada a sair porta afora e relatar tudo que vira para minha mãe. Mas travei ao ouvir um Barrulho já conhecido. Já eram 8 da noite. Pelo que vira no meu relógio digital na cabeceira. Já era hora das "coisas dos adultos"
Na última vez que desafiei interromper, minha mãe me olhará como se fosse o ser mais desprezível da terra. Desde lá nunca tinha interrompido.Então eu fiquei na janela, até que ambos se cansassem e até que Kai a convidasse a ir embora, e minha querida prima, saísse pela porta de frente e viesse até casa.
Enquanto eu olhava para Kai. Ele parecia incrivelmente relaxado, incrivelmente ele.Nunca ficava assim comigo. Nunca parecia calmo perto de mim.
Me perdi nessas lembravas dolorosas, que nem percebi que meus olhos expulsavam minha dor em agua. Meu rosto provavelmente estava muito horroroso, porque Kai me notou, ele olhou para mim, da sua varanda, seus olhos vidrados em mim, enquanto eu nem o podia enxergar bem. Pela água que se espalharam por minha visão.
Quando limpei a face, Kai sumira. Junto de parte da minha consciência.
Se era para ser assim, assim seria.