THE ALBATROSS

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she's the albatross
she is here to destroy you

QUANDO O VI PELA PRIMEIRA VEZ, ELE ESTAVA ANDANDO PELA RUA. Terno preto perfeitamente alinhado e uma gravata perfeitamente passada; ele se comportava como se fosse completamente perfeito e isso me intrigou. Fazia tempo que nada me interessava como ele.

À primeira vista, ele se parecia como um assassino de corações. Em seu jeito de andar, de falar com outras pessoas, com outras mulheres, a forma dele de se portar exalava um mistério que deixava todos ao seu redor curiosos. E, confesso, me deixou curiosa. Não costumo me atrair por herdeiros mimados, mas esse em especial tinha algo de diferente. Bruce Wayne era diferente, vivia dando festas e na empresa, mas era solitário. Sem pais, irmãos ou quaisquer outros parentes além do esquisito mordomo que o seguia para todos os cantos; Bruce, em seu interior, era desesperado por atenção, por afeto.

E eu alegremente, daria a ele.

Mas Bruce não era um homem que se deixaria conquistar facilmente, percebi nas semanas que o observei. Ele se comportava como o estereotipo do womanizer, mas eu conseguia enxergar por cima de sua atenção, era tudo um disfarce; Bruce não queria realmente toda festa estar com uma modelo diferente em seu braço só para, no fim da noite, ter uma foda chata desconexa que pela manhã ele mal se importaria em lembrar o nome. Ele sempre as chamava de meu amor.

Ah, eu o ensinei a não usar essa pequena palavrinha à toa.

Saí do apartamento e entrei no elevador que tocava uma música completamente entediante, não gostava de músicas sem letras, era chato, mas Bruce gostava então tive que escutá-las para o entender melhor. Acontece que, no que eu achava chato, ele achava calmante.

Quando minha pesquisa estava completa, decidi que já era hora de nos conhecermos, finalmente. Não poderia ser em uma festa, como conhecia todas as suas conquistas se não eu só entraria como mais uma de sua lista de corações quebrados. Teria que ser algo inesperado, inconveniente e natural, uma história de menino-conhece-a-menina digna de romances.

Ele parecia um cavalheiro, então eu arrisquei. Naquela pequena cafeteria que Bruce ia toda manhã, que eu passei a ir toda manhã, era o local perfeito. Eu tenho muitas conexões e não foi difícil orquestrar um assalto, tudo em nome do amor. Ou tudo em nome da vingança das minhas pobres companheiras que tiveram suas expectativas destruídas e iludidas por suas palavras românticas. Tudo se mistura em minha cabeça.

Não importava a razão, eu queria Bruce. E eu tive.

Eu sabia muitas coisas sobre ele. Sabia que ele apenas tomava seu café preto sem nada a mais, não porque ele gostava, mas como uma forma de punição por algo que eu descobriria nas nossas noites de conversas. Antes mesmo de o conhecer eu já poderia enumerar todas as suas manias e trejeitos que nem ele parecia notar. E eu sabia que assim que um daqueles assaltantes viesse me agredir, me defenderia, que viria a meu resgate, como se eu fosse uma donzela em perigo.

O que eu não sabia sobre Bruce, era que ele era o Batman. No momento que Bruce Wayne começou a lutar com os três assaltantes eu percebi, chocada que ninguém nunca ligou os pontos antes e feliz que ele ainda pudesse me surpreender; nossa relação nunca ficaria chata como aquelas músicas que Bruce escutava.

Quando a polícia e as ambulâncias chegaram, ele me procurou em uma delas, onde um paramédico limpava um corte risível em minha testa. Bruce me olhou por exatos sete segundos antes de falar algo e eu sabia exatamente o que se passava em sua mente. Eu me vesti para ele. Me vesti, me portei como uma mulher simples, delicada, que chorava ao levar um corte que mal saía sangue e que ajudava idoso a carregar as compras; alguém que traria sol para o mundo nublado que era o coração de Bruce Wayne.

✓ THE ALBATROSS, BATMANOnde histórias criam vida. Descubra agora