| Capítulo II |

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A colisão me fez recuar alguns passos, levantando minha mão para pôr sob minha cabeça, onde sentia uma leve dor. Eu não conseguia compreender direito a situação devido a medicina e, por isso, meu ritmo cardíaco acelerou após cogitar que ‘ele’ teria me descoberto. Agora que pude escapar das suas garras, a última escolha que deveria tomar era manter a guarda baixa. Enquanto todas as células do meu corpo gritavam para mover minhas pernas e se esconder, a droga injetada anteriormente segurava de forma brusca esta necessidade. Dentro de mim, um caos interno reinava. Era preciso um único vislumbre de como me encolhia naquela cela– implorando que minhas dolorosas batidas cardíacas chegassem ao fim –que arrepios percorriam por toda minha espinha. Definitivamente não deixarei que me capturem dessa vez! Fora de cogitação, seus capangas podem voltar da ratoeira imunda que vieram, porque jamais cederei facilmente.

Arrastei insignificantemente meu pé para trás, certificando de estar preparada caso tenha que desviar de um ataque violento. Com parte da visão distorcida, ergui o olhar e analisei o homem à minha frente; vestia-se uma camisa de gola escura, essa cor era a mesma de sua calça, sobre isso usava um colete e protetores de braço cinza. Subindo mais o olhar, encontro o jovem encarando, a expressão em seu rosto era complexa demais para minha mente atordoada. Seu cabelo moreno era preso em um rabo de cavalo, deixando livre somente duas mechas e a franja. Seu ser, apesar de intimidante, era bastante familiar. Recordo de cair em seus braços naquele dia, murmurando o que esteve preso na minha garganta por tempo demais: “Me ajuda.”

Devido a sua face neutra, acreditei que o rapaz não me reconheceu, devo ser só mais uma das pessoas que clamou por uma salvação. Na verdade, é aliviante ser uma memória temporária nesse momento, pois se seus subordinados vierem me buscar, estes jamais lembrarão da minha existência de forma nítida, serei um rosto borrado em suas vidas.

Uma leve brisa soprou entre a distância que mantemos. Os fios de meu cabelo moreno esvoaçou, resultando numa breve cócega na minha pele. Devo lembrar-me do propósito de estar na entrada do hospital, mesmo que a adivinhação estivesse errada, meu coração não encontra sossego, tenho de estar num constante estado de alerta para evitar qualquer erro que me leve ao abismo.

– Sinto muito. – Digo após reverenciar. Minha voz inicialmente saiu fraca e trêmula, traindo a impressão que tentei passar.

Para mostrar que perdôo meu descuido, ele murmurou afirmativo. Quando estava prestes a prosseguir, uma onda de desordem mental me atinge. De repente, meu mundo girava numa velocidade que não podia acompanhar e, assim como veio, os sintomas se foram. Admito que é suicídio sair com a mente e corpo tão inaptos, mas estou acostumada a lidar com esses obstáculos, apesar de não ser a primeira vez, eu desejo que seja a última a partir de hoje. Mesmo minhas pernas fraquejando, pisei adiante, aos poucos afastando-me do hospital. Ao passar ao lado do estranho, senti seus olhos ônix observando meus movimentos, era desconfortável, mas acredito que passageiro. Quem sabe, igual a mim, sua guarda ao anoitecer esteja erguida.

– Para onde está indo? – Perguntou, sua voz calma saiu de seus lábios de repente. Embora somente uma frase fosse pronunciada, o rapaz emanava desejo de questionar mais. Contudo, suas palavras foram guardadas para si.

Eu soltei a respiração presa nos meus pulmões, e deixei meus pés encontrarem uma pausa naquela curta caminhada. Sua curiosidade é uma descoberta nova para mim, mas ainda assim ultrapassada. Essa história de falsa-preocupação fazia meu sangue correr mais rápido que as batidas do meu coração, algo que realmente atiçava minha fúria. Antes de respondê-lo, certifiquei-me de acalmar meus nervos num único suspiro profundo.

– Eu fui liberada. – Cuspi uma mentira fajuta.

Sem ansiar por uma continuação deste bate-papo voltei a caminhar, havia dificuldade em manter minhas pernas firmadas no chão, como se, agora, a qualquer instante o abismo iria me engolir. Eu não sabia exatamente qual direção seguir, portanto que estivesse longe de hospitais, a tensão sobre meus ombros decairá significativamente.

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⏰ Última atualização: Jun 12 ⏰

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𝐏𝐄𝐑𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐍𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐑𝐈𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora