Cap. 2 - As Marras

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[24 de Julho de 1982]
[Sábado: 9:00 A.M]

Lá estava eu novamente, sentada em minha cadeira ao lado de Hilda, Frida e David, escutando o professor particular falar sobre trolls. Era exatamente igual a matéria da escola, mas como eu não estudava mais lá essa matéria soava muito mais interessante. Quando o professor terminou de encher o quadro com perguntas, ele se sentou na sua cadeira de escritório e esperou até que acabássemos. Hilda estava com os braços por trás da cabeça, relaxando pois sabia tudo sobre os trolls. Frida conseguiu solucionar as perguntas com facilidade, porém eu e David lutávamos pra descobrir a resposta da primeira questão. Suspirei e olhei pra David, que estava ao meu lado quebrando a cabeça pra responder a primeira questão.

— Aí, tem algum assunto ou fofoca? Quero me distrair. é muito melhor fazer as coisas aqui no que na escola...mas tô com preguiça de copiar. — Eu perguntei. Ele pôs a mão no queixo e raciocinou por um tempo até que algo veio em sua mente.

— Oh, ainda bem que você me lembrou! Eu tô tendo uns pesadelos constantes com meus maiores medos. E tipo, não é uma ou duas vezes: é toda noite! — Ele respondeu. Pesadelos? Aquilo com certeza era algo interessante de se ouvir.
Durante meus estudos sobre bruxaria passei por uma matéria que falavam das Marras, os espíritos do pesadelo. Ele continuou — Eu tô há bastante tempo sem dormir tranquilo por causa disso. Você que tá estudando bruxaria, sabe me dizer o que talvez esteja acontecendo?

— Bem, talvez você tenha virado o alvo de uma Marra. — Respondi com toda a confiança do mundo. Finalmente poderia colocar alguma coisa relacionada a bruxaria na mesa. Era a melhor oportunidade pra testar meus conhecimentos e eu não desperdiçaria.

— Marra? Já ouvi falar. Caramba, eu tô tão cansado...tem vezes que eu passo noites em claro por causa desses pesadelos. Eles parecem tão reais apesar de coisas fantasiosas surgirem, sabe...isso tá acabando comigo. — Ele me disse. Senti uma pontada de pena quando ele me disse isso. Ver ele sendo atormentado por esses espíritos cheios de malícia era deprimente, pois na visão dos espíritos ele era um "alvo fácil" por ter muitos medos.

— Se você quiser, eu posso chamar a Frida e a minha irmã Kaisa pra tentarmos te ajudar com esses espíritos. Estudei sobre eles recentemente então minhas memórias ainda estão frescas. — Eu respondi, o dando um sorriso reconfortante pra que ele soubesse que eu estaria lá com ele sempre que precisasse. Ele sorriu de orelha a orelha e se aproximou de mim com os braços abertos, me envolvendo em um abraço apertado. Fiquei sem reação no começo mas logo envolvi meus braços no corpo dele, o abraçando de volta. — Ei, calma lá, garoto! Que susto!

— Muito obrigada, Anny, de verdade! Eu tô tão agoniado com esses pesadelos. Só um anjo como você pra descer do céu e me ajudar a dormir bem de novo. — David me diz. A temperatura das minhas bochechas subiu um pouco com suas palavras e o ato afetuoso que não eramos acostumados a fazer, porém não disse nada a respeito. Até que senti o corpo dele pesar mais do que o normal.

— David? Ei, David...não durma abraçado em mim! Eu sei que você tá com sono mas eu não sou um travesseiro.

— Qual é, Anny. eu preciso descansar. Esses espíritos não me deixam dormir há muito tempo. Se eles me provocarem pelo menos você e as meninas estão aqui comigo, não é? — Ele retrucou. Não odiava a ideia de ele dormir colado em mim, mas eu precisava copiar a matéria de alguma forma. Tentei me virar com ele ainda abraçado em mim e flagrei o professor me olhando atravessado. Fiquei levemente pálida e engoli saliva antes de responder.

Entre Insetos e Feitiços (Hilda)Onde histórias criam vida. Descubra agora