CAPÍTULO IV

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Ah, como as velhas mágoas permanecem marcadas no coração por muito mais tempo do que se imagina! A atitude de superioridade desdenhosa de Lux despertara nela uma sensação de insegurança e humilhação que Yoko julgara ter superado para sempre.

E num impulso de raiva, ela reagira com uma fúria vingativa, revelando um segredo que pretendia continuar a manter oculto por algum tempo ainda. Yoko não planejara contara novidade da vinda de um bebê em público. Seus planos eram bem outros, iria esperar um momento em que estivesse a sós com o avô, que seria o primeiro a ser egozijar com a notícia. Agora não havia como recuar. Criando coragem, olhou para os membros da família Malisorn. Suas expressões variavam, desde o ar deliciado de Freen ao ódio evidente de Lux!

A situação provocaria risos se não tivesse sido causada por um motivo sério: o ato sublime da criação, a existência de uma nova vida gerada por ela e pelo sua amada Charlotte! Yoko apenas não olhara ainda para Faye, certa que sua ação seria violenta, como costumavam ser sempre as emoções negativas daquela mulher.

E realmente, ela estava com os lábios contraídos num ricto de tensão. A razão desta transformação era, sem dúvida, o fato de que Faye não gostava nem um pouco de ser contrariada e ela fizera justamente isto! Com a chegada de um bebê, o único herdeiro dos Malisorn, ela permaneceria parte da família e esse acontecimento a irritava sobremaneira.

E não apenas a ela, pois Yoko também odiava a situação! Se Faye presumia que ela era como Lux, que sentia um prazer enorme em se vangloriar desse sobrenome ilustre, estava muito enganada! Entretanto, por maior que fosse sua aversão a continuar ligada aos Malisorn, jamais poderia negar ao filho seus direitos e privilégios de nascença. Nem mesmo o ódio que sentia por sua tia, privaria o bebê da herança materna!

O primeiro a se recuperardo choque foi Leon, que abraçou a neta com um carinho comovido, demonstrando toda a sua emoção.

- Não tenho palavras para exprimir minha alegria Fada, ou para dizer como me sinto feliz por você ter a possibilidade de manter viva a lembrança de Charlotte.

- Oh! Vovô... É como se o meu amor não tivesse desaparecido para sempre! O bebê é uma parte de nós que continuará onde Charlotte parou.

Aproximando-se dos dois, Freen sorriu, hesitante, evidenciando, em toda a sua alegria, uma sombra de tristeza.

- Também estou muito feliz por você... Só queria... Charlotte chegou a saber da novidade?

- Nós tivemos a confirmação poucos dias antes de seu desaparecimento e ela mal cabia em si de alegria ao pensar que iria ser mãe!

- E quando esse... a criança... vai se fazer presente entre nós? perguntou Lux com ar maldoso, olhando insolentemente para o corpo muito esguio de Yoko.

Controlando sua raiva diante da pergunta desnecessária, ela manteve seu ar calmo e sereno.

- O bebê deve nascer dentro de cinco meses, ou seja, no final do ano. Se está controlando o tamanho da minha barriga, posso lhe afirmar que já estou no quarto mês de gravidez.

- Não estou pondo em dúvida o fato de você estar realmente grávida... só acho suspeito tê-lo ficado no momento mais apropriado! Afinal, Charlotte já morreu há dois meses e quem sabe...

- Lux! Pelo amor de Deus...

- Ora, Faye! Não se finja de inocente... Garanto que também tem suas dúvidas! Só através da aparição de um filho de Charlotte, Yoko conseguiria uma razão para segurar firmemente a parte da esposa nas empresas Malisorn! Que herança fantástica ela vai oferecer ao filho... ou partilhar com ela! Posso até apostar que este vai ser um daqueles bebês prematuros que pesam mais do que cinco quilos...uma criança muito demorada para nascer!

Provocante FeiticeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora