Era o terceiro dia do mês de fevereiro e o último mês do inverno chegou com uma chuva gelada e forte. Seria linda se não fosse mortal para qualquer imunidade frágil que percorria por aquelas ruas frias da cidade.
Eu estava finalizando um ensaio de um grupo feminino que debutaria em breve. As meninas estavam trabalhando duro, mas eu não podia deixar de me sentir um pouco frustrada pelas exigências da empresa. Eu odiava conceitos fofos, mas já perdi a conta de quantas vezes tive que fotografar esse tipo de tema, pois, infelizmente na Coreia era o que chamava atenção e era o que estava colocando dinheiro na minha conta.
Então, mesmo que a contragosto, continuei o ensaio mantendo o máximo de profissionalismo e neutralidade. Assim que anunciei que a última foto havia saído bem pelo monitor, as meninas agradeceram e eu comecei a preparar minhas coisas para ir embora.
Naquela noite meu material era apenas um conjunto de lentes e minha câmera fotográfica juntei tudo e logo pude deixar o enorme prédio. A chuva caia sem dó, por sorte eu estava com um guarda-chuva, agradeceria SuA mais tarde pelo aviso.
Eu caminhava lentamente até o meu carro, apenas observando o quão bela a noite estava.
Procurava meu isqueiro no bolso, quando escutei algo. Um som característico de uma tempestade tão profunda quanto a que despencava sobre mim naquela noite.
O beco escuro inicialmente me fez recuar, desconfiada, mas aos poucos me aproximei lentamente. Odiaria me pôr em perigo, mas o característico som de choro me fez me ficar em alerta e me apressei para alcançar aquele barulho.
Maldita hora para ser tão curiosa.
Caminhei a passos rápidos para dentro do beco, a chuva ali caia com menos intensidade, porém já estava bem molhado. Ao olhar no canto, um lixo fechado e algumas caixas jogadas escondiam a fonte daquele som torturante vindo de um pequeno corpo encolhido, soluçando.
Era uma garotinha, não devia ter mais do que quatro ou cinco anos, completamente molhada não só pela chuva mais também por suas lágrimas que insistiam em cair. Eu conseguia sentir o seu medo conforme me aproximava, então tentei parecer mais inofensiva o possível, mesmo que a situação não ajudasse muito.
O que aquela criança estava fazendo ali sozinha?
Tentei olhar ao redor a procura de alguém, mas o lugar estava vazio, não havendo ninguém além de mim e daquela criança. Para protegê-la dos pingos da chuva posicionei meu guarda-chuva acima de seu corpo.
Na hora que me agachei para melhor vê-la um estrondoso som se fez presente, um trovão que fez os escuros e úmidos olhos da menina brilharem e se apavorarem ainda mais.
Escondendo o rosto, ela chorava silenciosamente, seu corpinho era coberto por um fino casaco e uma calça característicos de um pijama azul, que eram totalmente inapropriados para a atual estação em que estávamos, afinal o inverno ainda estava rigoroso e o vento era cortante e ameaçador.
- Ei! - chamei a criança que se assustou comigo ali - Está tudo bem, não vou te machucar. Você está sozinha?
Seu corpo tremia e me dava uma dor cada vez maior de a ver ali, provavelmente abandonada e não pude evitar ser atingida por uma tonelada de sentimentos negativos devido aquela constatação.
Sem mais esperar abaixei o guarda-chuva retirei a mochila e o grosso casaco que me protegia e passei para criança que se encolheu ainda mais, recuando um pouco, mas ao perceber que eu não iria machucá-la ela se deixou ser abraçada pelo tecido quente. Aproveitei a confiança para a acolher em meus braços, ela era leve.
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To Hold To Cherish
FanfictionExistem alguns tipos de amor que extrapolam as barreiras sanguíneas e se unem por uma ligação para além da explicação científica ou racional. Estes certos sentimentos são intensos e leva duas almas a se conectarem de uma maneira que ninguém é capaz...