o soprar de uma pétala.

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Era fim de tarde, Yusuke tinha seu cabelo preso em um rabo de cavalo como o costume, mas decidiu soltar seus fios, desembaraçando com os dedos enquanto observava a vista de sua janela. O vento soprava em seu rosto como se afirmasse o que já era visível: com a noite chegando, ficaria frio, ele deveria vestir uma blusa.

Por algum motivo, estava agitado. Talvez seja porque não tocou em seu celular em momento nenhum, ignorando todos e, principalmente, aqueles em que andou ocupando seus pensamentos por tempo demais, um tempo que Yusuke julgara ser excessivo e nada necessário.

Seu celular estava em cima de sua mesa, tão calmo como se não fosse vibrar nem para notificar a temperatura. Se sentiu um pouco solitário, mas sabia que não gostaria de se sentir curioso com algum vibrar da tela, esteve ansiando para mexer no aparelho o dia todo, mas é claro que ele se controlava.

Não queria desbloquear a tela, não queria ver quais mensagens dele ele receberia. Se receberia alguma mensagem deles. Foi convidado pessoalmente para sair com eles, mas recusou sem se explicar muito e desde então esteve se distraindo como podia.

O vento o abraçava como um consolo, fazendo seus pelos se arrepiarem pelo frio, mas não deixando de apreciar a vista. Se virou de costas para a janela apenas para pegar sua xícara favorita e enchê-la com o café que fizera agora a pouco. Bebendo de seu café, ele voltou a apreciar a vista.

Aquele amarelo no céu lembrava Tetsurou e aquele laranja lembrava de Zen. Gostaria de não vê-los em coisas tão simples e constantes, no dia a dia, mas já deixou de ser algo que estava sob seu controle já fazia um tempo. Claro, ele ainda reclamava e tentava ignorar, mas nem mesmo sua mente ou aquela sensação no peito ignorava.

As vezes pensar neles era inevitável, natural. Era como essa brisa: não pedia, não queria, mas sentia, pensava. Era leve, o arrepiava e não estava sob seu controle, mas não deixava de ser reconfortante, mesmo que não quisesse admitir isso.

Talvez aquele soprar do vento era como se sussurrasse em seu ouvido alguns trechos de pensamentos que Yusuke descartava antes mesmo de refletir sobre para não sofrer. "Você se importa demais com eles", "por que está tão agitado só de pensar neles?" e "por que você pensa tanto neles quando nem se fazem presente no momento?", eram perguntas válidas, se o sopro não lhe sussurrasse as respostas. Talvez fosse essa a rejeição: a resposta.

Ele pegou um banco e se sentou ali, se sentindo novamente solitário e um pouco sensível pelos pensamentos que o cercavam. Ele sabia a resposta, ele sabia do motivo mas esteve fugindo antes mesmo que se desse a chance de pensar sobre e se acostumar. Lidar com sentimentos era assustador, mais assustador que a ideia de passar uma vida inteira se reprimindo por falta de confiança nas pessoas. Talvez ele não gostasse da ideia de que alguma parte de si dependa de alguém.

Não suas escolhas, não suas falas, mas seus sentimentos, suas reações. Se tratasse como deveria ser, o que poderia acontecer senão ele sentir seu coração sendo esmagado, seus sentimentos expostos e vulneráveis para que eles o deixem sem chão e perdido no próprio arrependimento? Não via sentido em dizer algo que se arrependeria. Em aceitar que seu coração estava fadado a chamar por dois homens.

O sentimento de exclusão sempre o acompanhou a vida toda, a incompreensão o abraçou antes mesmo dele conhecer a afinidade fora daqueles olhos castanhos. Um único par de olhos foi seu guia por muito tempo, a única referência de afeto em sua vida, sem dó nem piedade, mas empático e genuíno. Um único sorriso pequeno e um único par de mãos que seguravam as suas quando caía.

E esse mesmo par de olhos castanhos... como poderia ser ingrato e ridículo ao ponto de esperar um brilho a mais no olhar dele sobre si? Seu processo até perdoar Tetsurou demorou mais de um ano até que estivesse em paz ao lado dele, seus pensamentos cruéis já haviam vencido e, surpreendentemente, a ajuda foi do mesmo, que esteve em seu lado e mesmo nos dias mais difíceis ele falou e demonstrou tudo que seu egoísmo difícil de lidar dizia.

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⏰ Última atualização: Jun 25 ⏰

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