Cuidado ao se entregar; único

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Se contassem a Chuuya que hoje estaria presente na cena em que está, seria bem capaz de chutar a face do indivíduo e talvez manda-lo para a lua quando terminasse de o espancar.

Mas ele estava ali, e estava se sentindo estranhamente confortável com a situação.

Os dedos esquálidos de Dazai contornaram mais uma vez o braço ferido de Chuuya, enfaixando os cortes com muita habilidade. Já estava acostumado a fazer isso, porém ainda parecia levemente preocupado com a saúde do parceiro, indo devagar e leve. Mesmo que achasse Chuuya um saco, ainda era seu parceiro, e deveria zelar com seu bem-estar. O que, surpreendentemente, já estava fazendo a algumas semanas.

Na verdade, devia admitir, Chuuya também estava cuidando dele. Logo após terminarem a missão, partiam para a casa mais próxima e ficavam ali, limpando e enfaixando todos os ferimentos um do outro em completo silêncio, como um trato que nenhum dos dois precisava firmar.

Em um momento, a unha roçou em uma das feridas, fazendo com que Chuuya gemesse em dor e puxasse o braço rapidamente das mãos quentes e cuidadosas do moreno, que lançou seu melhor olhar confuso.

– Te machuquei? – Perguntou, se aproximando lentamente do ruivo novamente, com cautela.

– E você se importa? – Disse, retomando a provocação de mais cedo.

– Bem mais do que você, aparentemente. – Virou o rosto para o outro lado, fingindo magoa.

– Não me venha com essa, Dazai. Foi só uma missãozinha.

– Você segurou a mão dele. – Virou o rosto novamente. – Você nunca segurou minha mão.

Chuuya suspirou, incapaz de acreditar que logo Dazai estava demonstrando ciúmes por si.

– Dazai. – Chamou, se aproximando do corpo alheio e segurando a mão do parceiro. – Foi. Só. Uma. Missãozinha.

– Tá. – Voltou a pôr as mãos para trabalhar, enfaixando com carinho o braço do ruivo. – Mas ainda tô com raiva de você.

– E quando não está? – Perguntou, retoricamente.

Dazai não respondeu, continuando a enfaixar e limpar os cortes no braço forte do mais baixo.

E o tempo se passou assim, em silêncio e completo conforto para ambos os garotos. Apenas sentiram a respiração descompassada, mostrando o quão estavam afetados estavam pela proximidade. Chuuya sentiu cada toque, cada suspiro, cada leve carinho em sua pele. Estava se sentindo quase anestesiado quanto ao resto das sensações que não envolviam Dazai.

Até que tudo acabou. E agora, era a vez de Dazai de ser cuidado. O ruivo esperou, pacientemente, o mais alto retirar a própria blusa. Deveria admitir, aquele corte era extremamente feio, e provavelmente renderia mais uma cicatriz para o abdômen bem definido de Dazai.

– Eu odeio essa sensação. – Resmungou.

– Então tome mais cuidado, seu idiota. – Seguiu as mãos até a água oxigenada, molhando um pouco o corte de Osamu, vendo a ferida borbulhar. – Depois eu é quem tenho que te ouvir reclamar de dor o dia inteiro.

– Não exagere. Não é o dia inteiro.

– Perdão, por 2/3 do dia.

– Melhor. – Chispou os dentes, sentindo o corte arder. – Não consegue ir com mais carinho? Dei o máximo de mim para não te machucar.

– Desculpa. – Foi sincero. – Vou ir com calma, então.

Dazai riu.

– Sabe, essa conversa até que ficaria peculiar fora de contexto. – Chuuya não respondeu, apenas sentiu as bochechas queimarem em vergonha. – Exceto que eu nunca daria o máximo de mim pra não te machucar.

– Cale a boca, Dazai.

– Porque, Chuu? Se sente animado com a idéia?

Derramou uma considerável quantidade de álcool na ferida de Dazai, o vendo gemer de dor e morder os lábios para tentar não gritar.

– Não provoque alguém que está cuidando de você, Osamu. Talvez eu não vá ser tão cuidadoso quanto antes.

– Ah, Chuu, você realmente me odeia, não é? – Lamentou-se falsamente, fazendo seu típico drama.

– Você me dá nos nervos, é irritante, convencido, infantil, estúpido e extremamente esquisito. – Xingou. E, logo antes de continuar sua fala, olhou para os olhos de seu colega. Seu amigo. Encarou os orbes, que o observavam com tanta expectativa, tanta confiança. Sempre saberia reconhecer aquele olhar. Dazai, discretamente, estava dizendo que estava entregue a Chuuya, assim como Chuuya estava a Dazai. – Mas eu confio em você mais do que em ninguém nessa droga de mundo, Dazai.

Ficaram em silêncio novamente. Ambos pensando sobre o que o ruivo tinha dito. Dazai, que conseguia buscar todos os significados das falas do menor, interpretava aquilo. Para ele, o ruivo simplesmente o havia entregue o amor. Porque, no mundo onde viviam, a confiança era o máximo que podiam entregar. Era o que mais significava, mais valia. Chuuya o havia o dado seu amor, e ele o guardaria com todo o cuidado do universo.

Já Chuuya pensou em se arrepender, mas não conseguiu. Não quando ali, em sua frente, Dazai parecia tão confortável. Tão dele. Tão entregue. Sorriu, vendo que o moreno quase dormia, assim como ele. Estava tão cansado que a hipótese de arrumar algum lugar para que seu amigo dormisse ou até mesmo mudar de local nem mesmo passou por sua cabeça. Mais alguns minutos e já poderiam dormir, sem se importar se estavam na mesma cama.

– Chuu.

– Hm? – Respondeu em um resmungou, sem se virando para o lado da cama em que Dazai estava.

– Eu também te amo. 

Taking care; SoukokuOnde histórias criam vida. Descubra agora