Sabe aquela sensação de estar vivendo uma vida que não é sua? Era essa a sensação que Marília tinha a cada dia que se passava. Ir para a faculdade não era algo que ela tinha realmente planejado. Ela só estava ali por um motivo: seu pai. Apesar de já ter se passado três anos desde que concluiu o ensino médio, o pai de Marília, Mário Mendonça, havia conseguido uma bolsa de estudos para ela em uma das melhores universidades do estado, a disputada Stanford. Tudo isso por causa do seu seletivo círculo social.Mário nunca foi um pai presente e para tentar compensar havia feito seu último "feito de glória", conseguindo a bolsa de estudos para Marília, mas não foi algo que ela havia pedido. Sua mãe havia falecido há um ano e desde então Mário tinha feito de tudo para controlar a vida de Marília, desde que ela havia ido morar em sua casa. De qualquer forma Marília preferia estar ali a passar mais um dia dentro da casa de estranhos. Era assim que ela considerava Mário e sua esposa. Foi um longo ano...
Marília não sabia como iria se encaixar naquele ambiente. Na verdade, ela nem tentaria. Passaria seus dias apenas aproveitando o fato de não ter que ver seu pai e sua madrasta todos os dias, isso já era um bônus. Não havia ninguém ali como ela. Marília não era uma garota dentro dos "padrões", algumas vezes já foi até chamada de "feia ou estranha", mas não se importava. Suas roupas, seu cabelo loiro e bagunçado, seu jeito de andar e até sua forma de falar não era nada perto dos padrões femininos em que todos ali estavam acostumados.
Enquanto andava pelos corredores a caminho de seu dormitório ela percebia várias piadinhas dos valentões, olhadas desconfiadas das princesinhas do campus, grupos de pessoas fofocando sobre ela sem disfarçar, mas nada disso a incomodava de verdade. Ela havia se acostumado com esse tipo de tratamento. E se ela havia sobrevivido ao ensino médio, isso aqui seria fichinha.
Marília cantarolava a música alta que tocava em seu fone de ouvido, sua cabeça não baixava um só segundo. As pessoas poderiam falar o que quisessem, mas Marília jamais daria um sinal de fraqueza para aqueles filhinhos mimados de papai. Quem tivesse coragem o suficiente que viesse a importunar.
Quarto 301.
Marília inseriu com dificuldade o cartão que dava acesso ao cômodo, e percebeu que era maior do que esperava. Havia uma sala com dois sofás, uma televisão grande, um banheiro e um closet.
Marília foi em direção a porta que estava entreaberta e deu um pequeno chute e antes de entrar no quarto hesitou.
Oh. Merda.
Uma garota ruiva estava arrumando suas coisas dedicadamente. Metade do quarto já estava parecendo a Dream House da Barbie. Pequenos objetos cor de rosa, luzes de festa, lençóis de cama perfeitamente alinhados, travesseiros felpudos, plantas, fotos de polaroid penduradas na parede. Aquilo parecia a Disneylândia das patricinhas. Espera, ela realmente estava usando salto alto?
O inútil do seu pai havia lhe dito que ela iria pra um dormitório com apenas um quarto, mas ninguém havia lhe falado nada sobre A MERDA DE DIVIDIR O QUARTO.
A garota se virou com um sorriso de orelha a orelha quando percebeu que alguém havia chegado. O sorriso logo foi desmanchando quando ela observou Marília da cabeça aos pés e houve um momento de silêncio, mas ela manteve a pose de boa garota e a cumprimentou com um sorriso formado nos dentes brancos e alinhados.
- Oh.. Ei! Sou Maiara. Prazer em te conhecer. - ela ofereceu a mão para Marilia apertar, mas logo depois percebeu que as duas mãos estavam ocupadas e esse cumprimento não seria possível.
Demorou para Marília perceber a cara de decepção que estava fazendo, mas ela sequer tentou esconder. Marília passou pela garota e jogou suas malas sobre a cama do lado esquerdo que estava completamente neutro, sem enfeites, sem... rosa. Marília tirou o fone de ouvido.
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Para Sempre ...
FanfictionMarília está indo para a faculdade em uma nova cidade, longe de tudo que ela conhece. O que ela não esperava era uma colega de quarto, e o pior: uma patricinha. Marília vai precisar abrir mão de seu lado, lobo solitário para tentar conviver com essa...