.clube dos sete

.capítulo um: detenção

Baby, can you meet me tonight in detention?

(Querido, você pode me encontrar hoje à noite na detenção?)

.Detention — Melanie Martinez

O único som que pairava na sala 19 do segundo andar do Internato Limoeiro eram dos ponteiros do antigo relógio, um tic-tac bem alto comparado ao silêncio entre os sete diferentes alunos do terceiro ano B.

Os colegas de classe se encontravam sentados nas desconfortáveis cadeiras da sala naquela noite de quinta-feira, quando o professor Rubens, que estava responsável por observá-los, foi chamado pela professora Ana Paula, e agora observava os sete jovens pela janela da porta, escutando o que a mulher falava com atenção, diferente dos adolescentes que estavam cada um no seu mundinho.

Cássio, ou Cascão para os íntimos, quase dormia na cadeira, sem saber se estava com sono ou puramente entediado. Sabia que escutaria umas poucas e boas dos pais assim que chegasse o fim de semana por ter ficado em detenção no exato momento que o diretor ligou para seus pais; ah, e é claro, também escutaria poucas e boas da sua treinadora, Raquel, que sempre prezava que seus atletas de futebol não se metessem em problemas, principalmente como o esporte que mais dava renda e patrocinadores para o Internato, então Cascão sabia que estava fodido.

Ao seu lado direito, Jeremias batucava seus dedos na mesa, cantarolando mentalmente uma música de Tom Jobim, esperando o tempo daquela maldita detenção passar. Assim como o futebol era rentável no internato, o basquete, esporte da qual Jeremias era atleta, também era, e ele sabia que escutaria algumas coisas do professor Átila, a diferença é que ele não era tão rígido quanto Raquel.

Na cadeira ao lado, Ana, ou Aninha, que tinha uma postura defensiva, diferente dos demais; o rosto estava sério, a mão direita levemente vermelha e sua postura estava totalmente ereta. Como atleta de jiu-jitsu, a garota sabia que não deveria usar força fora do tatame, e muito menos dentro da instituição; agora estava lidando com as consequências.

Por outro lado, atrás de Aninha, Milena se encontrava totalmente apoiada na mesa enquanto lia um livro de física; se iria passar horas dentro daquela sala, então seria estudando os conteúdos que estavam atrasados por ter priorizado os treinos de natação.

Ao seu lado esquerdo estava Xavier, ou Xaveco apenas, desenhando um tabuleiro de xadrez e pensando para novas estratégias. Assim como Milena, Xaveco pensava que, se iria passar sua noite naquela sala, iria aproveitar para treinar suas habilidades mentais para futuras competições.

Também treinando suas habilidades, mas as físicas e de forma discreta, Carmem, a bailarina, aproveitou a mesa debaixo de suas pernas para fazer alguns exercícios de ponta, mesmo que ela estivesse sem suas sapatilhas de ponta; odiava ter imprevistos que a impediam de treinar.

E o último jovem, dessa vez no fundo da sala e longe dos demais, Maurício, ou conhecido pelo excêntrico apelido, Do Contra, mexia numa caneta preta aleatória, ora batucando na carteira com algum rock na cabeça, ora bricando com o objeto de forma infantil; o atleta de esgrima já estava bem entediado com toda aquela situação, mesmo que não fosse a primeira vez que se encontrasse nela.

– Pessoal, — O professor de biologia abriu a porta só para que pudesse ser escutado. — eu preciso ir com a professora Ana Paula para uma reunião de última hora com alguns professores, mas isso não significa que a detenção de vocês acabou. Vou deixar a porta trancada e volto o mais breve possível! — Assim como o aviso foi rápido, Rubens fechou a porta com chave e rapidamente saiu. Milena foi a única que notara a preocupação no rosto do professor, enquanto os outros apenas deixaram para lá.