.capítulo doze: expectativas

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Eu falo tudo que ela gosta de escutar

Deve ser por isso que ela vem me procurar

.Tudo Que Ela Gosta de Escutar — Charlie Brown Jr.





A manhã de segunda-feira começou com aquele gostinho de rotina voltando entre os estudantes do Internato Limoeiro.

Carmem começou o dia irritada, sendo despertada pelo barulho de Maria Mello usando o secador de cabelo e com a voz de Denise cantarolando alto uma música da Sabrina Carpenter enquanto tomava banho.

– Vocês sabem que são três pessoas nesse dormitório, não sabem? — A loira reclamou, coçando os olhos enquanto se espreguiçava.

– Desculpa, Cá! — Maria Mello pediu, se virando para a amiga. — É que você sabe, eu fico um horror quando estou com o cabelo molhado.

– E eu quando não durmo direito! — A Frufru bufou e assim que se levantou da cama, Denise saía do banheiro só de calcinha e sutiã.

– Ah, que delícia de banho! — A ruiva comentou, procurando seu uniforme no guarda-roupa. — Bom dia, Cacá!

– Bom dia para quem?

– Ih, mas que mau humor, em! Cuidado Cacá, cara feia causa rugas! — A bailarina apenas revirou os olhos, pegando sua toalha e entrando no banheiro em silêncio. Denise se virou para Maria Mello e pergunta: — O que deu nela?

– Não sei, acordou com os dois pés esquerdos ou algo assim! — A loira só escutou as vozes das amigas, mas perdeu a chance de ver Maria dar de ombros.

A Frufru não havia dormido bem naquela noite, não quando estava com as coisas que DC disse ontem e que irritantemente ficaram martelando sua cabeça; tinha que criar uma cota para quantas vezes ao dia devia pensar em Mauricio ou suas falácias.

A loira ligou o chuveiro e sentiu os pingos de água caírem na sua cabeça e escorrendo pelo resto do seu corpo. Vez ou outra quando virava a cabeça na lateral e conseguia ver suas costas pelo espelho, vendo uma sequência de hematomas roxinhos pelos ossinhos de sua coluna vertebral e novamente se lembrou do que DC perguntou ontem.

"Não gostaria de ter horários minimamente flexíveis? Não te cansa só pensar em ballet, ballet e ballet?"

"Não gostaria de descansar, mesmo que seja um pouco?"

A resposta não importava, não quando não havia espaço para descanso em seus planos.

Carmem sabia exatamente o que queria quando saísse do internato: sair da casa dos pais!

Poderia fingir para Deus e o mundo que queria entrar numa das melhores companhias de ballet do país, ou quiçá uma estrangeira; a garota vem de família rica e só isso já era o bastante para entrar numa companhia boa, mas o fato dela ser uma excelente bailarina ajudava a entrar numa considerada "de peso". Porém a verdade que só ela sabia é que o real motivo para Carmem querer entrar é por não precisar conviver mais com os pais — apesar dela já não conviver tanto.

Tinha uma relação difícil com seus genitores. Os pais quase não paravam em casa, sempre viajando a negócios, e praticamente não se viam, mas quando se encontravam, era briga e discussão na certa. Carmem sabia que não foi desejada, e sim fruto de uma noite festeira entre dois jovens recém adultos, com os pais sendo obrigados a se casarem quando seus avós maternos descobriram a gravidez da filha — e até hoje estavam juntos pois sua família e de seus avós, tanto maternos quanto paternos, eram conservadores o bastante para considerar divórcio uma "heresia".

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