• CAPÍTULO 04

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Duas hora atrás, eu nunca teria imaginado que terminaria a noite em um bar chamado Frigorífico, mas aqui estou, tomando shots com meu colega de apartamento e um velho motoqueiro chamado J-hope.

J-hope aprovou com louvor quando Jungkook colocou “Witchy Woman”
para tocar na jukebox, então deslizou para perto de nós em um movimento embriagado e começou a conversar, querendo saber como nos conhecemos, provavelmente presumindo que fôssemos um casal.

Jungkook respondeu sem hesitar:

— O amor da minha vida fugiu com o noivo dela.

E essa declaração inspirou uma enorme solidariedade da parte de J-hope, traduzida na forma de muitas bebidas pagas para nós dois.

Enquanto jogávamos uma rodada de dardos, duas de sinuca, além deum jogo envolvendo shots cujas regras eram incompreensíveis para mim, eu assistia espantada à maneira hábil como Jungkook conseguia arrancar de J-hope a história de vida dele.

Nascido em Detroit, filho de uma enfermeira e um técnico de manutenção que sofreu um acidente de trabalho numa montadora de automóveis, J-hope fugiu do Meio-Oeste aos dezesseis anos, de moto. Ele seguiu uma banda na estrada por uma década, depois passou um tempo em uma seita na Califórnia, cuidou da segurança de algumas celebridades e acabou aqui novamente, após um problema misterioso
com a lei ou talvez até com a máfia — essa foi a única coisa que Jungkook
não conseguiu arrancar do homem.

Para uma pessoa com o magnetismo social de um peixe empalhado (eu), ver Jungkook fazer amizade com um estranho foi como assistir a Michelangelo pintar a Capela Sistina: impressionante, mas também atordoante. Como se a qualquer segundo ele pudesse cair da escada e se estatelar no mármore abaixo.

J-hope continuou a nos pagar bebidas, a não ser pela rodada liberada para nós três pela bartender ruiva bonitinha, que tem um piercing no nariz e uma tatuagem em que se lê mãe.

Agora, quando estamos na última rodada, J-hope estende uma nota de vinte dólares na nossa direção.

— Para o táxi de volta pra casa.

— Não, não, não — responde Jungkook, empurrando a nota de volta
para ele. — Fique com o seu dinheiro, J-hope. Como você vai conseguir
chegar a Vegas desse jeito? Ele nos contou que Las Vegas é o próximo destino dele.

Mas J-hope enfia a nota no bolso da camisa de Jungkook, então pousa a
palma das mãos rijas no nosso rosto.

— Força, crianças — diz em um tom sábio. Depois joga a jaqueta de couro desgastada por cima do ombro e literalmente assobia uma despedida para a bartender.

Quando terminamos nossa última rodada de drinques, a chuva já parou e a noite está agradavelmente fresca, por isso decidimos voltar caminhando para casa, em um zigue-zague ébrio.

Jungkook passa o braço ao redor dos meus ombros e eu engancho o meu na cintura dele, como se fôssemos velhos amigos — e não aliados recentes e muito bêbados.

— Esse tipo de coisa sempre acontece com você? — pergunto.

— Que tipo de coisa?

— J-hope — explico.

— Não existem muitos J-hopes no mundo — responde Jungkook.

— Alguém te pagar bebida — esclareço.

— As horas de conversa estimulante sobre crimes que ele pode ou não ter testemunhado.

— Não sei. — Ele dá de ombros. — Às vezes.

— Com que frequência você consegue bebida de graça, Jungkook?

Ele me encara, parecendo confuso.

— É um lugar onde a gente faz amizade.

O Plano Imperfeito-liskookOnde histórias criam vida. Descubra agora