Capítulo 4

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Mel

Enquanto dirijo para casa dos meus pais, reflito sobre o dia em que vi o Bernardo pela primeira vez.

Quando comecei a faculdade de Licenciatura em Artes Visuais, era muito tímida e lutava para fazer amizades. No segundo ano, conheci o Jonathan, que estava no último ano. Começamos como amigos e logo evoluímos para um namoro. Meus pais nunca gostaram dele; segundo eles, Jonathan era um rico mimado e narcisista. Eu não ligava para isso; ele era engraçado, bonito e atencioso, nunca me tratou mal.

Nossos horários nunca coincidiam; eu frequentemente ficava sozinha no refeitório ou nos corredores, enquanto Jonathan já estava estagiando no hospital, tornando difícil nos encontrarmos. Um dia, as meninas da minha turma me convidaram para assistir a final do campeonato de futebol na quadra da faculdade. Aceitei o convite, pois nunca tinha visto nenhum esporte da faculdade. Nas arquibancadas, observando os jogadores entrarem em campo e se prepararem para cantar o hino nacional, meus olhos percorreram a equipe em busca de algum rosto familiar.

Fiquei completamente paralisada ao avistar o jogador número 13. Seus cabelos um pouco compridos ultrapassavam as orelhas, seu rosto quadrado e bem definido, nariz fino e sobrancelhas perfeitas. Seus olhos pareciam ser de um castanho claro à distância, mas não dava para ter certeza. Seu corpo era forte, e mesmo de longe eu podia ver seu uniforme esticado nos braços, e bem alto. Seu rosto exibia uma expressão fechada de concentração, sem olhar para nenhum lugar específico.
Assim que as garotas de torcida chegam para fazer sua dança, ele se vira e senta nos bancos junto aos outros jogadores. Inclina a cabeça e apoia os cotovelos nos joelhos. Um senhor se aproxima, agacha ao seu lado, conversa com ele gesticulando e aponta para o campo; ele balança a cabeça em resposta. Durante todo o jogo, meu foco foi nele. Havia algo que me atraía, mantendo meu olhar fixo. Ele era excepcional, o camisa 13, e descobri que seu sobrenome era Bianchi, escrito na parte de trás do uniforme.

Marcou três gols, e seu time venceu por 4x1.

Ao final do jogo, todos os jogadores comemoram a vitória do campeonato, batendo nas costas uns dos outros. No entanto, ele permaneceu sério, sem um sorriso sequer. Parecia viver com um semblante fechado, como se fosse uma placa que dizia:

"Cuidado".

Ele se dirigi ao senhor que descobri ser seu treinador. Trocaram um abraço, e Bianchi disse algo ao treinador, que pareceu não gostar, mas apenas balançou a cabeça em concordância. Depois, pegou uma garrafa de água e simplesmente se afastou.
Fiquei observando até ele desaparecer no corredor em direção ao vestiário. Naquele dia, ao chegar em casa, sentei na mesinha do meu quarto e comecei a desenhar em meu caderno de desenhos especiais.

Só depois percebi que estava desenhando ele, sentado no banco.

Desde aquele dia, comecei a observá-lo, o seu olhar triste me intrigava. Sempre solitário, com um semblante carregado, vestindo frequentemente uma camiseta de mangas compridas que realçava seus braços musculosos. Ficava atenta para ver se ele saía com alguma menina, mas sempre o via sozinho.

Eu me sentia culpada por estar obcecada por um menino que eu nem conhecia, especialmente porque eu tinha um namorado. Para mim, seu olhar não refletia perigo, mas sim um grito de socorro.

Em uma ocasião, estava no banheiro da faculdade quando três meninas entraram, todas sorridentes e falando alto. De repente, um grito histérico ecoou, me assustando no processo.

– Ai, meu Deus, Ju, olha quem está na quadra. Esse homem é um verdadeiro sonho de consumo!

Elas correram até a janela, ainda exaltadas.

– Que homem gostoso esse Bernardo. – Uma delas começou a abanar o rosto freneticamente. – Eu daria tudo para ter uma noite com ele, mas esse homem nunca me dá bola quando chego perto.

Ela fez um bico, e eu secretamente queria parabenizar o tal Bernardo por não ceder às investidas daquelas vacas.

Cabe o amor próprio, pelo amor de Deus!

– Vamos, amiga, vou tentar falar com ele antes que o treino acabe.

Elas saíram disparadas do banheiro, deixando minha curiosidade aguçada. Assim que cheguei à janela, perdi todo o meu raciocínio: o tal Bernardo era o Bianchi.

Bernardo Bianchi.

Depois de três meses, finalmente descobri seu primeiro nome.

Fiquei observando enquanto as meninas se aproximavam dele. Ergui uma sobrancelha ao ver que a tal Ju puxou tanto o decote da blusa que seus peitos parecia prestes a saltar para fora. Senti uma pontada no peito quando ela tocou seu braço, tentando chamar sua atenção. Para minha surpresa, ele se afastou sem dizer uma palavra e virou as costas, saindo da quadra.

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