cap 2/ Dor

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Era uma tarde ensolarada, não se via um pé de pessoa na rua
Sandra com uma barriga maior que ela e queixava de dor, a ansiedade lhe tomava, acompanhada de sua mãe Yolanda voltavam de uma visita na casa de Morena, no meio do caminho Sandra desmaiou inesperadamente, foi levada as pressas para o hospital mais perto de Ilheus, desacordada e pálida era o estado da pobre moça
- Chamem o pai dessa criança agora, ele tem que ficar com a mulher dele
- acalme-se Yolanda, eu vim logo que eu soube
Eu tenho um carinho por sua filha, embora não estejamos tão próximas
- Eu agradeço a sua presença e a sua consideração Eliana, é que não quero nem pensar nessa bebê nascer sem a presença do pai
João Pedro tinha chegado do trabalho, tomou um banho e partiu para o hospital
- Então sogra, onde que tá a minha mulé?
- no quarto ao lado, meu filho ainda bem que você chegou
- eu jamais conseguiria me perdoar se acontecesse algo com Sandra
- boa tarde, o senhor é João Pedro Inocêncio?
- sou eu dotô
- a sua esposa pediu para você entrar, ela quer conversar com você.
- ela já tá bem dotô?
- claro que sim, pode entrar
- Oi meu coração, como que tá nossa Maria Santa?
- nossa filha tá muito da boa, foi só um susto
- ainda bem minha vida
Eu não sei o que eu faria se acontecesse algo...
- Aaaai
- o que aconteceu Sandra?
- vai nascer João
- ocê num disse que era alarme
- vai chamar o médico meu nego
- Moça pelo amor de Deus avisa ao dotô que minha mulher tá em trabalho de parto, por favor
- eu vou ver o que posso fazer pelo senhor, alô doutora Carolina, será que teria como a senhorita cobrir o turno do Dr Zeca hoje?
- mas é alguma emergência?
- gestante tendo dificuldades no trabalho de parto
- to indo pra aí, até mais
- se acalme senhor João Pedro, a sua esposa está em boas mãos
- Com licença, o senhor é o marido da minha paciente?
- sou eu sim
- por favor, me acompanhe
- mas ela vai ficar bem dotôra?
- João, meu amor
Nossa filha tá pra nascer eu conto com sua presença nesse momento tão especial para nós
- eu sempre vou estar contigo, você é a minha mulé, tô segurando sua mão
A jovem Sandra entrou no trabalho de parto
João com a permissão da doutora Carolina acompanhou do início ao fim, em nenhum momento ela esteve desamparada
Ouviu-se um barulho de choro, era a filha de João Pedro com Sandra que havia nascido
- fale pra meus padinhos que vieram comigo que Maria Santa nasceu!
Gritou João no hospital todo empolgado
- cade ela meu fi?
- deve de tá com a mãe
Vou trazer ela pra vocês conhecê-la
- aí Deocleciano
- o que foi meu amor?
- senti uma sensação estranha
- estranha como Morena?
- um arrepio gelado no meu corpo, tô indo atrás do meu filho.
- se é assim, eu também vou com você.
- Sandra, você acordou meu denguinho
- João, meu rei
Onde é que tá nossa Maria Santa?
- Calma moça, a filha de vocês está em observação
- doutora, aconteceu alguma coisa com minha bichinha? Me conte logo que eu já tô ficando aperriada
- enfermeira, os pais desejam ver a filhinha
- Dra Carolina... infelizmente a criança não resistiu...
- como? Eu realizei o parto da moça, o pai segurou a filha nos braços, a criança nasceu sádia, chorou, estava respirando
- infelizmente ela não resistiu
- quem não resistiu fia?
- senhora, eu preciso que você se acalme e seja forte
- como assim enfermeira? Forte para que?
- infelizmente a bebê não resistiu e veio a óbito.
Morena desmaiou após ouvir as palavras da doutora Carolina
- emergência, essa senhora está passando mal
- oxente que barulheira é aquela
- não sei, mas eu tô preocupada com nossa filha que não chega, vá atrás dela
- mas eu não posso lhe deixar aqui sozinha
- vá buscar nossa menina, meu amor
João sorriu e foi até a encubadora
- Maria Santa? É teu painho, João Pedro
- ô meu filho, ainda bem que eu te encontrei
- cadê madinha?
- sofreu um mal estar e mandei Zinha vir buscâ-la
- padinho, porque ela não se mexe?
- vem aqui meu filho, vamos conversar
- padinho, o que tá acontecendo? Porque minha filha não se mexe
PADINHO
- tua mainha veio buscar sua menina meu fio
- me diga que não é verdade isso, padinho
Me diga
- eu queria que fosse mentira, mas é verdade meu fio, Maria Santa morreu
- NÃOOOOOOO, SANTINHA NÃOOOO
- se acalme meu filho, pelo amor de Deus
- tudo foi em vão padinho? O tanto que sonhamos com nossa bacurizinha! Tá doendo demais, eu que devia ter ido no lugar dela, foi por minha causa, a culpa é minha, se eu não tivesse deixado ela sozinha, ela não tinha morrido, 3 mortes nas costas, mainha, Venâncio e minha filha
- não diga isso meu filho
Deus levou ela para si assim como levou sua mainha e seu irmão
João agachou com a filha nos braços e começou a chorar, seu coração sentia a pior de todas as dores desse mundo, a perda.
- Eliana, onde é que tá minha mãe?
- ela não estava passando bem e foi embora junto com Morena
Sandra ouviu o choro de João Pedro e indagou
- esse choro é do meu João, o que aconteceu com meu marido?
- eu sinto muito, minha amiga
- sente muito pelo que? Eliana tu está me assustando. Eu quero ver meu marido. Por favor Eliana, ele foi buscar nossa filha e por lá ficou
- eu tô aqui...
- graças a Deus, que susto que você me deu João, me dê nossa filha
João estendeu os braços e entregou a menina em seus braços, seus olhos escorriam as lágrimas e tentava disfarçar com um sorriso falso, e abraçou sua amada firmemente
- por que você tá chorando?
- nossa menina foi morar no céu, minha vida
- não me diga uma coisa dessas senão eu morro
- infelizmente é verdade minha amiga, Maria Santa não sobreviveu.
Sandra percebeu que a criança não se mexia e não ouviu seu coração
Ficou pálida, seu coração batia aceleradamente, dos seus olhos escorriam lágrimas de dor, chorou desesperadamente clamando pela filha
- E agora João? O que vai ser de nós sem nossa princesinha? Há tanto tempo que sonhávamos com nossa maior felicidade... e agora Deus levou nossa Santinha
- vamos ter que ser fortes Sandra
- forte como? Se minhas forças se esgotaram para ganhá-la, eu me sinto morta, eu morri junto com nossa filha
- não diga uma coisa dessas, meu amor
Nossa pequena foi encontrar com mainha e com Venâncio
- eu queria tanto ter lhe dado um filho, eu sempre sonhei com nós dois casados, morando numa fazendinha, criando de nossas crianças, mas Deus não quis assim
- é difícil entender a vontade do alto
- não precisa mais ficar comigo João, eu não pude lhe dar o que você queria
- oxe Sandra, do que você tá falando?
- você devia de ter casado com quem pode lhe dar uma semente, eu sei que você casou comigo só pela gravidez
- não fala besteira, eu casei mais você porque eu lhe gosto muito, eu não tenho outra em meus pensamentos, só você.
- me perdoa meu nego, tá doendo demais, eu só queria nossa filha do nosso lado
- não há o que perdoar, eu lhe prometo que eu nunca vou lhe deixar
Você é minha mulé, nossa fia está aqui nos nossos corações, prometo que jamais soltarei sua mão
João a beijou na testa e acariciou os seus cabelos

Josandra/ depois da dorOnde histórias criam vida. Descubra agora